August
Levantei cedo por volta das 5:30 da madrugada para correr. Já era um hábito, sempre nesse mesmo horário correr por algumas trilhas da cidade, e até mesmo na praça. Gosto de manter o meu corpo sempre resistente e saudável.
Depois de um longo percurso, cheguei em casa pingando suor. Fui direto ao banheiro tomar um banho frio para repor as energias, tinha muito trabalho pela frente.
Consigo associar perfeitamente o meu tempo e minha rotina para qualquer coisa.
Meu pai adora me encher o saco e inclusive me deixar louco da cabeça. Sou o CEO da empresa Nexory corps, geralmente sou eu quem fico com a bunda pregada o dia inteiro na cadeira em salas de reuniões.
Aquele magnata infeliz nunca quis assinar a papelada de oficialização da empresa para o meu nome. Me elegeu ao cargo de CEO mas sem mudar o fato de que tudo ainda esteja em seu nome. Logicamente ele manda e desmanda, enquanto eu não tiver tudo em meu nome, é impossível eu me livrar completamente de suas ordens.
Falando no diabo, recebo uma ligação do mesmo. Termino de enxugar os cabelos e pego o celular encima do criado mudo.
— Ao que devo a honra de sua humilde ligação?
Meu sarcasmo não passava despercebido no tom de voz.
— Para de ser sínico. Compareça ao almoço aqui em casa por volta das 12h em ponto, sem atrasos.
— O senhor quem manda "Papai".
Ele desliga a ligação, logo lanço o aparelho encima da cama. Fala sério, já não basta o fato de que essa família nunca foi perfeita.
Primeiro que, além de mim, tenho mais outros dois irmãos. De mães diferentes. O safado do meu pai subornou as mães dos meus outros dois irmãos com dinheiro, mandando que saíssem da cidade. Pela ganância aceitaram sem rodeios. Desde então ele está com a minha mãe, mas não deixa de a trair sempre que pode.
Já falei diversas vezes a ela, mostrei até provas. Mas a única coisa que ela me disse foi "Contando que eu possa estar nessa família e amando meus filhos, é tudo o que importa".
Ela tem um coração tão amável ao ponto de deixar isso passar só para ter que ficar comigo e os outros dois irmãos mesmo sendo de outras mães. Aquele homem que é considerado biologicamente ser meu pai, tem todo o poder em mãos, e é isso que almejo tirar dele.
Bom, aproveitei um pouco do tempo que estava para ver algumas reuniões que meu secretário organizou. Havia uma viagem prevista para Londres mês que vem. Teria uma reunião importante com o ministério federativo.
O tempo foi suficiente para ajeitar as coisas, estava prestes a dar o horário esperado do almoço, peguei a minha BMW preta na garagem e pisei fundo até a casa daquele ordinário.
Os seguranças me recepcionaram após eu ter estacionado o carro em frente o portão.
— Bom dia senhor.
Fizeram uma referência respeitosa, manti minha cabeça erguida e logo segui pela estrada de pedra. Uma decoração que geralmente tem em casas luxuosas por mera decoração.
Vi a minha mãe na porta e logo sorri.
— Filho! — Veio até mim me abraçando — Venha, já estão todos a sua espera.
Apertei com um pouco de força seu abraço junto ao meu e beijei seu rosto delicado.
— Certo, vamos. Que bom te ver!
Depois de uma pequena conversa, fomos até a sala de refeições. A mesa estava posta, meu pai como sempre, sentado na cadeira principal, fixado na ponta superior da larga mesa e meus irmãos nas laterais.
Cumprimentei todos igualmente e fui me sentando a mesa.
— E então August, como está indo os negócios na empresa?
Meu pai pergunta.
Depois que terminei de mastigar a comida, o olho fixo e respondo:
— Melhor impossível.
— Sabia que não iria me decepcionar com você, sua inteligência é magnífica.
Esse elogio vindo dele da até medo do que pode acontecer em seguida.
— E então, quando irá assinar para que eu seja eleito o dono da empresa oficialmente?
Vejo ele pegando a taça de vinho e levando a boca.
— Bom, você chegou nesse assunto mais rápido do que eu esperava. Logo que esse é o motivo pela qual o convidei.
Termino de comer e minha atenção se dobra completamente a ele.
— Estou esperando o senhor me dizer pai.
Depois de alguns minutos em silêncio finalmente ele diz.
— Você terá que se casar com alguém que eu escolhi. Sem receios.
Minha expressão mudou para séria. Um casamento é algo muito sério para ser celebrado sem amor de ambas as partes.
— Como é?!
— Você me ouviu, e não é com uma mulher e sim um homem. Isso se você quiser que eu passe para o seu nome todos os bens da empresa. E se você tiver querendo usar a esperteza de casar e separar no dia seguinte, será impossível. Por que se ocorrer, eu vou ficar sabendo e então as coisas vão continuar sendo como antes.
Me segurei para não xingar esse velho aqui mesmo. Olhei para minha mãe que fez sinal para mim ficar calmo. Respirei fundo, teria que ter alguma maneira de sair dessa situação.
— Então se eu pedir divórcio será nula sua proposta, e se a anulação do casamento for em parte do meu parceiro?
— Então será diferente. Por que irei perceber que foi ele quem não quis mais ficar na relação a dois. Mas isso não vai acontecer, até onde eu sei, ele te acha muito atraente.
Só pode ser brincadeira uma merda dessas.
— O que mais?
— Se o seu parceiro não pedir divórcio, o casamento deve ter duração de um ano conforme o contrato em que vocês dois irão assinar. Mais algum questionamento?
— Não — Levanto da cadeira — Compreendi tudo muito bem. Irei fazer isso pelo bem do meu futuro. E olha aqui, é melhor cumprir com sua palavra.
Ele riu.
— Nunca imaginei receber ameaça do meu próprio filho. Eu nunca joguei sujo, no momento em que se casarem, eu assino, mas se você pedir divórcio, eu anulo. Simples não?
Esse desgraçado sabe mesmo como jogar. Iremos ver quem irá ganhar essa batalha final.
August
Gael
Passei o dia praticamente inteiro nos esportes com alguns amigos. Eu adorava jogar. Meu maior passa tempo era esse. Posso parecer alguém atoa, mas é muito pelo contrário.
Tomei uma ducha no vestiário para limpar o suor, dessa vez agitei bastante. Enquanto estou com meus olhos fechados sentido a água tocar minha face, meu corpo se arrepia quando sinto uma mão grande pousar em minha cintura.
Me viro repentinamente quando percebo ser Adrian. O melhor jogador do nosso time, que inclusive tem uma quedinha por mim.
— Porra você me assustou!
Resmunguei continuando a mexer no meu cabelo molhado.
— Senti saudades de você.
Sussurrou próximo aos meus ouvidos. Seus beijos deslizaram pela extensão das minhas costas, suas mãos teimosas masturbaram sobre leve o meu pau.
Virei de frente a ele.
— Você está tentando me deixar louco ou o que?
— Quem sabe não seja isso.
Ele estava próximo a me beijar quando escutamos algumas vozes se aproximarem. Logo nos separamos. Faltou pouco para não sermos pegos.
Consegui agir com naturalidade em relação os outros colegas do time. Adrian geralmente me pegava na carícia, mas nunca chegamos a fazer sexo. Até hoje sou virgem, só pretendo me entregar por inteiro a pessoa que eu gostar. Então poderei suportar com prazer a dor inicial.
O único que chama minha atenção atualmente é uma pessoa que dificilmente irei alcançar. O CEO August, aquele homem tem tudo para ser o meu tipo. Seu olhar é de penetrar qualquer um. Se um dia ele se interessar por mim, serei a pessoa mais feliz desse mundo.
Voltei primeiro para a casa dos meus pais buscar umas coisas que eu havia esquecido. Tinha várias ligações de Matthew em meu celular, só vim notar agora.
Ele era um dos amigos que mais ficava no meu pé. Posso dizer que confio nele porque essa praga sabe tudo de mim, mais nunca chegou a contar para alguém. Caso contrário eu saberia e já deixaria agendado um funeral.
Mandei uma mensagem informando que eu ligaria depois, pois eu estava dirigindo no momento.
Após pegar as coisas na casa, escuto a voz do meu pai:
— Só veio para pegar suas coisas esquecidas e nem dar um "oi" ao seu velho?
Me virei para ele sorrindo com o sermão.
— Foi mal pai, não era minha intenção sair sem falar com o senhor e a mamãe.
— Compreendo filho, sei muito bem que você deve ter outras obrigações. Mas eu não poderia deixar de falar um assunto extremamente importante com você.
Acabo ficando pensativo sobre o que ele queria falar comigo de tão importante. O acompanho até o escritório para saber do que se tratava. Me sentei a cadeira e busquei prestar atenção atentamente em suas palavras.
— Filho — Ele toma um gole do Whisky — Você vai ficar decepcionado comigo mais tenho que falar. Acontece que você terá que se casar por um contrato.
Meu mundo parou de girar ao momento que escutei tais palavras. Meu pai sempre foi um homem legal comigo, ao ponto de conquistar a minha confiança junto com minha mãe.
— Pai — Levanto da cadeira alterando o tom de voz — O senhor me colocou em um casamento sem ao menos me consultar?!
— Desculpa filho. Caso contrário você não iria concordar, mas espero que um dia você possa me perdoar.
Puxo os cabelos para trás.
— Quando será e com quem?
— Amanhã a noite, seu parceiro será o CEO August, filho do meu amigo de anos. Chegamos a essa conclusão.
Fiquei tão surpreso que a raiva que eu senti se transformou em ansiedade. Não tive reação por alguns minutos até meu pai gritar várias vezes o meu nome para que chamasse minha atenção.
— Se eu soubesse que você reagiria assim, eu não teria aceitado a ideia estúpida do meu amigo.
Entendo que meu pai esteja se sentindo culpado, nunca foi o jeito dele fazer algo que pudesse me magoar. Mas pelo contrário, sabendo que a pessoa é o CEO August, não tem como eu ficar triste. Poxa, se meu pai tivesse me contado antes eu não teria ficado tão eufórico assim.
Voltei a me sentar na cadeira, olhei para ele que estava com um semblante de decepção consigo mesmo no rosto.
— Pai, se você tivesse falado quem era a pessoa desde o início eu não teria reagido assim. O senhor só fez com que aumentasse minhas chances de conquista-lo e tê-lo por perto. Tem noção disso?
— Quem bom meu filho. Mas perdoa seu velho.
— Só por ser o CEO August que vai ser meu parceiro.
Gargalhamos bastante antes deu voltar para minha casa. Não sabia se ficava feliz ou nervoso, será que aquele homem irá olhar para mim? Acabei corando. Não pense demais Gael, só usa seu charme, vocês estarão casados.
Falo comigo mesmo. Contei a notícia para Matthew e saímos a noite para tomar um drink. A famosa despedia de solteiro.
Gael
Adrian
Matthew
August
Passei a noite tomando Vodka com meu amigo Gabriel. Era difícil para mim suportar a condição imposta por meu pai.
Depois da bebida cheguei a transar com algumas mulheres bem gostosas para ver se conseguia me desestressar. Nem gay eu sou, de onde irei tirar vontade para explorar os horizontes de outro corpo masculino? Fala sério.
Essa é a técnica perfeita do meu pai, impor algo que mexeria pra caralho com meus princípios. Ele já estava atento sobre o quanto eu queria oficialmente a empresa no meu nome, e para isso decidiu inventar essa palhaçada ridícula. Isso é uma ofensa para mim que sou hétero mais do que tudo.
Eu sabia que iria ficar de ressaca no dia seguinte, mas esse era o objetivo. Assim teria motivos para arcar só com a minha dor de cabeça, sem ver a cara do meu futuro parceiro de casamento. Me dá ânsia só de imaginar algum dia eu o chamar de amor. Como é um casamento por contrato, não será um evento muito grande.
Somente um registro para oficializar que casamos. Meu pai nesse momento deve estar rindo da minha cara todo contente.
— Já chega August! — Gabriel pega no meu braço — você já bebeu demais.
Me estresso.
— Porra, não tá vendo que preciso de uma distração? Não é você que irá se casar no dia seguinte.
— Caralho, você me dá nos nervos quando começa a beber sem parar né. Vou ali e já volto.
Apenas balancei a cabeça e voltei a engatar na bebida. Eu até que sou resistente para vodka, só que me fazia ficar mais agressivo.
Vejo Gabriel voltando na minha direção com uma mulher bastante elegante. Vestia roupas ousadas de cor preta.
— Vai embora agora?
Gabriel pergunta.
— Se for para acabar com a noite junto a essa mulher posso até pensar.
— Não é para pensar não caralho — Gabriel já estava alterado comigo — Você vai embora junto com ela agora. Façam o que quiser, só não coloquem fogo no hotel.
Confirmei a ele com uma olhada. Me senti excitado, era o momento certo deu ir embora e virar a noite. Paguei a conta e passei o meu braço em volta da cintura fina da mulher.
Essa foi a noite que mais bebi e transei sequencialmente, puta merda. Não imaginava que um casamento falso pudesse transtornar tanto o meu juízo.
Passei na farmácia para comprar alguns analgésicos, mandei o meu secretário organizar tudo, pois amanhã que eu iria analisar. Hoje era impossível.
Dormi a manhã inteira e um pouco da tarde, em seguida saí com Gabriel até a alfaiataria para escolha do maldito terno.
— Parece que alguém irá se casar mais rápido do que eu.
Gabriel brinca com a situação.
— Só não te quebro aqui mesmo porque estamos em um ambiente público. Mas me aguarde.
Ele adorava me tirar do sério. Mas é alguém que me compreende muito bem. Me ajudou na escolha do terno e em outros preparativos.
Fiquei me olhando no espelho dentro do meu quarto antes de ir para a igreja. Me vejo incrivelmente ridículo no reflexo do espelho. Porra, meu pai consegue mesmo desgraçar a vida de alguém.
Chegando na igreja, ele já estava a minha espera para que entrássemos juntos. Engoli a situação com ódio puro. Todos que estavam convidados fixaram o olhar em mim, logo meu ódio subiu. Cerrei os dentes para não fechar o rosto.
Assim que olhei para o altar onde o padre já estava, vi o cara com quem iria me casar. Parecia feliz, ao contrário de mim. Segui os eventos do casamento, mas na hora do beijo não teve quem fizesse eu beijá-lo. Era impossível para mim. Lendo a expressão dele, parecia querer que acontecesse.
Finalmente o sufoco desse casamento passou, depois de ficar um tempo na eventual comemoração em que dialoguei com os pais dele, mencionei estar cansado e que queria ir logo para casa. Para minha surpresa o pai dele disse:
— Será uma boa vocês descansarem e aproveitarem um pouco, a casa de vocês já está disponível. Meu filho sabe o endereço.
Ele sorriu, enquanto eu não estava achando um pingo de graça.
— Excelente. Então vamos para nossa casa Gael?
Estendo minha mão para ele. Eu tinha que manter a superficialidade diante dos seus pais. Em alguns momentos que estava apenas nós dois o ignorei, já deixando claro que nem queria prosa. Que estávamos casados apenas por negócios, tanto que ele afirmou ter compreendido.
Depois de dar uma breve despedida a todos os convidados por mera formalidade, acompanhei Gael até o carro. A gente teria que sair juntos, não cada um em seus carros separadamente.
Um clima tenso surgiu, o silêncio reinou dentro de seu carro.
— E então, somos casados agora né?
Ele tenta quebrar a tensão.
— Você está certo, mas irei ser claro. Não pense que seremos um daqueles casais apaixonados que dormem juntos. Isso é apenas um contrato.
Voltou a se concentrar na estrada parecendo decepcionado.
— Entendo. Mas podemos ao menos conversar um pouco, não é como se eu fosse um total estranho pra você agora.
O encarei de foma bem séria.
— Você não entendeu uma coisa. Continuaremos sendo estranhos, não me faça repetir. Tente ao máximo não me fazer perder a paciência com você. Como eu disse, estamos casados por causa de nossos pais.
Gael fez menção de que havia compreendido. Durante o percurso não disse mais nenhuma palavra. Era bem melhor assim.
Mesmo sendo já um pouco tarde da noite, estabeleci algumas regras. Como a casa foi cedida pelo pai dele, com o mero respeito optei em ficar com o quarto de hóspedes e ele no quarto principal.
— Será que posso te falar algo?
Escuto sua voz meio rouca, parecendo um pouco nervoso sobre o que ia falar no momento seguinte.
— Diga.
— Só queria dizer que tentarei ao máximo fazer esse casamento dar certo.
Acabei rindo com certa ironia.
— Você que sabe, por mim não falamos sequer uma letra um com o outro.
Após dizer minhas últimas palavras, fui direto ao quarto de hóspedes. A única coisa que eu espero é que ele não faça nada a ponto de me tirar do sério.
Gabriel
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