"Nem tudo é como gostaríamos na vida. A realidade de muitos de nós, é dura! É preciso matar um leão por dia e segui nossos sonhos com uma persistência canina."
Dona Elvira hoje encontra-se envelhecida e acamada, quando em outrora fôra mais uma jovem batalhadora e sonhadora como tantas outras do nosso país. Hoje ela ver muito de si na filha, ao mesmo tempo que impõe de forma quase cruel o peso das suas frustrações do passado sobre a jovem.
Clara fruto de um relacionamento passageiro, que teve com alguém que pouco tempo depois, Elvira veio a descobri ser casado. Enganada e humilhada por aquele a quem devotou os seus sentimentos mais nobres. Encontrou no trabalho de doméstica, a única porta para segui adiante e prover o sustento para o fruto dessa traição do destino ingrato.
Não seria diferente, Clara foi desde muito novinha doutrinada a forjar sua independência e aversão aos homens em longos sermões de sua sofrida mãe. Embora esteja acometida por doenças têm grande influência sobre as escolhas pessoais da filha.
O fato que não se pode negar, é que sempre foram elas duas contra o mundo perverso, cruel e machista. Onde a mulher precisa provar o dobro do seu valor a cada minuto e ponderar cada ação! Sem chances pro erro.
Imagem retirada da internet do da Atriz colombiana "Carolina Ramírez "
Clara dezenove anos, trabalha meio período como recepcionista na Clínica de um dos médicos mais renomado do país e faz pouco tempo que terminou o seu curso técnico em enfermagem agora aguarda a vaga que pleiteou, uma bolsa integral para cursar enfermagem numa Universidade privada e muito conceituada.
A jovem desde cedo com medo que a sua mãe percebesse, guardou tão profundamente em sua alma, alguns desejos como viver um grande amor, se casar e ter filhos, que ela mesmo se julga incapaz recupera-los um dia e vive como se pudesse oculta-los eternamente em si. Clara sabe que não existe príncipes encantados no mundo real, não no mundo dela e tao pouco lhe desagrada a idéia.
Enquanto administra a medicação da mãe naquela manhã, Clara suspira e os seus pensamentos voam longe
Elvira: Mais que cara é essa menina..., volta pra terra Clara..., Tá! suspirando por homem..., é isso? Me diga..., quantas vezes, eu já lhe disse que essa raça não presta..., Maria Clara tome tento..., que não te criei pra ser besta como eu fui..., não criei
— Que isso mamãe..., a senhora parece que não me conhece..., Deus me livre credo em cruz, ave-maria..., quero nada com homem nenhum não..., estou preocupada com a prova..., acho que troquei foi tudo de lugar e de ordem..., marquei o gabarito todo malacabado..., eu acho..., ou estou enganada de nervoso..., é que o resultado saí hoje..., tô que não me aguento de aflição..., tenho que passar
Elvira: Sim! Mais o que tinha que ser feito já foi feito... agora respira pra não morrer de véspera igual peru..., VOCÊ VAI PASSAR..., VOCÊ PRECISA PASSAR....
...(...)...
" Algumas dores são eternas e marcam de diferentes formas, em pessoas diferentes "
Bernardo
Todo o ano é igual, a magrela arrasta-me para o cemitério no aniversário de morte dos nossos pais. Eu tento fingir que não lembro, mais ela não esquece.
E só lá nós assumimos nossos papeis de irmãos. Ela chora por horas, enquanto eu a consolo nos meus braços e ignoro a minha dor. Ela deixa de ser a mandona, chata e a amargada de sempre, enquanto recebe os meus carinhos e afagos. Em contrapartida, também recebo os dela. Em meio a dor esboço alguns sorrisos para conforta-la.
Rafaela: Bernardoooo..., bora irmão desce logo..., quê isso garoto..., já são dez e quarenta e cinco..., você esqueceu que dia é hoje? Tá! maluco? Ainda tenho que Comprar às flores no caminho
— Tô indoooo..., não precisa gritar..., deixa eu tomar uma ducha primeiro..., já desço
Quem ver assim pensa que nos odiamos, mero engano. Eu a amo muito, muito! Só queria que os nossos pais estivessem vivos. Principalmente o meu pai, a minha mãe no céu que me perdoe! Ah! Como eu queria ter um pai ao meu lado! No fim tudo que temos é um ao outro.
Já em frente a tumba dos nossos pais sou tomado de assalto por lembranças de alguns anos atrás. Enquanto a magrela soluça em meio as lágrimas. Quando estava no colégio e tinha a reunião dos pais e responsáveis, lá estava ela toda montada em um salto quinze, vestido escuro tubinho e maquiagem carregada pra aparentar mais idade, eu me aproveitava para chama-la de mãe na frente dos meus colegas pra não ficar como o coitadinho órfão da turma.
Hoje com vinte anos nas costas, estudante de direito, cursando o quarto periodo e uma vida toda errada tento ser um pai pra ela, só na imagem mesmo, diz ela que sou a cara do nosso pai que em paz descanse, porque não consigo me acertar na vida e como sou jovem tenho que aproveitar a minha juventude.
A magrela mantém as contas em dia está quase se formando. Além do quer manja de umas paradas de investimento, ou seja não passamos fome! O que me mata é não ser rico como gostaria e tampouco pobre de depender da esmola do governo, vivo no meio dos ricaços e manter esse padrão custa caro, mais eu dou o meu jeito e consigo circular, numa boa e bem vestido como a sociedade exigi. A verdade é que ser classe média nesse pais é uma verdadeira maldição.
Imagem retirada da internet do ator mexicano mark Tacher
— Anda Rafa..., assim a gente vai dormi no cemitério..., já vai anoitecer..., próximo ano têm mais..., coloca logo às flores no vaso..., relaxa filha..., eles vão continuar no mesmo lugar
Rafaela: Que piada besta Ber..., não fala assim..., você sabe que não gosto..., respeita os mortos..., vêm cá..., vamos orar juntos..., pra lá de onde eles estiverem..., eles nós protegerem de alguma forma..., fecha o olho direito garoto
...(...)...
Os irmãos retornam para cidade em quê vivem e em todo o trajeto mantiveram-se calados. Contudo, ao chegar em casa, o jovem resolve se aprontar para sair, o que deixa a irmã indignada
Rafaela: Eu não estou acreditando Bernardo..., depois de quase cinco horas de viagem dirigindo você esteja com energia pra curti uma balada..., é sério isso garoto..., qual é o seu problema?
— O que uma coisa têm a ver com a outra maninha..., preciso relaxar e a noite é uma criança..., você não sabe porque vive com a cabeça infurnada nos livros..., vivendo essa vida de velha amargurada
Rafaela: Não sei porque tenho responsabilidade..., e a noite foi feita pra dormi e estudar..., como você deveria fazer e não levar na brincadeira..., como você leva o seu curso..., a sua vida
— Pronto começou..., impressionante..., é só colocar o pé fora do cemitério que você volta a ser a chata de sempre..., cagando regras a todo o momentoto..., Rafaela me erra..., já sou de maior caramba
Rafaela: Bernardo volta aqui..., tô falando com você garoto..., saco..., porque os homens demoram tanto pra amadurecer?
Na casa de show Bernardo é aguardado ansiosamentete por sua turma, que assim que o veem se aproximam formando uma rodinha em torno dele
— E aí meus amigos..., estavam com muitas saudades da minha pessoa..., ao que tudo indica sim,... fala Guta, Nicolás, R15 e Douglas
Todos: Sim, sim..., claro
Douglas: Estamos necessitados daquela parada..., que só tu consegui pra gente..., né não galera
— Ok! Não precisa falar mais nada..., vou dar uma circulada pra falar com uns contatos e já volto..., também estou precisando relaxar..., daqui a pouco tá na mão..., falou
Todos: Bernardo é um bom companheirooo..., ninguém pode negar
Bernardo circula pelo espaço como se fizesse parte da realeza, sendo saudado por grande maioria dos presentes, até que uma bela e atraente mulher lhe chama atenção e ao se aproximar ele percebe se tratar de um dos seus casos. Que faz sinal para se afastarem da multidão e assim que se aproximam
Jessica: Caramba Ber..., você nem me reconheceu.., vai ficar sem presentinhos esse mês..., só fiz umas plásticazinhas..., toma cuidado que o meu marido está aqui..., mais deixa eu te falar me encontra em quinze minutos na entrada do banheiro feminino..., quero que você me ajude com algo..., que só você pode fazer por mim..., ninguém mais faz igual você faz
— Oh! Meu amor..., foi mal, me desculpa..., mais plásticazinhas também não né..., você mexeu no nariz, fez preenchimento labial..., deu uma turbinada nas tetas..., calibrou o parachoque e ainda mudou a cor do cabelo..., não tinha como reconhecer..., mais não corta os meus presentinhos por favor minha felina
Enquanto isso Clara se esforça o máximo que pode com o caderninho e uma calculadora para fechar a conta do mês, sendo que a maior parte do orçamento vai para os medicamentos da sua mãe
— Droga! Mais uma vez não vai dar...
Elvira: Filha vêm dormir..., essa luz acessa está me incomodando
...(...)...
Para mais, baixe o APP de MangaToon!