Como tudo começou.
Era uma reunião formal que aconteceria na sala do próprio Jonas. Seria a primeira vez que ele teria um encontro com Hélio. Ingrid, secretária de Jonas que sempre fica no mesmo local, recebe o telefonema que informa a chegada de Hélio.
- É o senhor Hélio, senhor Jonas - comentou a moça com o seu patrão.
- Mande-o entrar - ele respondeu e nem a olhou.
Ingrid responde de volta o telefonema pedindo, por gentileza, que a recepcionista trouxesse o visitante. Eram poucos minutos até a entrada do homem. Ela se olhou no espelho e viu que estava com ótima aparência e após tamborilar um pouco os dedos sobre a sua mesa ficou de pé no aguardo do visitante.
Então as portas do elevador se abrem e aquele homem surge, como que um sol, tão brilhante e impactante, passando uma aura raramente vista. A moça que o acompanhava fez um sinal para ele seguir em frente, ele balançou a cabeça e assim fez.
O elevador já descia quando Hélio ficou cara a cara com Ingrid. Naquela troca de olhares o homem sentiu seu coração quase como que abandonando seu corpo para sair pela boca em busca daquela bela mulher, porém ele disfarçadamente dá uma respirada e estende a mão para um aperto formal, que o momento pedia.
- Hélio Nelsen, CEO da Novelgames Corporation - então o aperto de mão foi feito e seus olhos não puderam deixar de olhar para o decote da jovem, mas logo seu olhar profundo permaneceu sobre os olhos da secretária.
Ingrid se precipitou e já foi julgando o visitante como um homem comum, mas então respondeu.
- Por favor, senhor, entre - sem revelar seu nome, embora houvesse ali um crachá, a secretária respondeu e saiu do aperto de mão apontando a direção para dentro da sala.
Em passos decididos, Hélio foi entrando e Jonas também ficou de pé. Eles se mediram em poucos segundos e em um novo aperto de mãos após a troca de nomes o CEO local comentou.
- Que surpresa agradável. A que devo a honra desta visita? Conte-me, qual brisa do destino o trouxe até aqui? - aquilo soava falso e de fato era.
- Bem, conforme conversamos naquela troca de e-mail o assunto é pessoal. Espero conseguir resolver, tanto para o senhor como para mim, sem que envolva burocracia e advogados - o visitante falou em um misto de medir palavras e mostrar imponência.
Hélio voltou um pouco seu olhar para a secretária, que estava voltando para a sua posição de trabalho, no entanto Jonas o pediu que o acompanhasse em uma sala ali próximo, para que ficassem a sós. Claramente havia ali uma questão de ciúmes.
Esse comportamento de Jonas deixou Hélio um pouco intrigado, porque ele pareceu ter ciúmes, mas ao mesmo tempo não parecia ser muito ligado a ela. Havia uma frieza naquela relação, o que é de algum modo esperado em algo profissional. Jonas só pensava em resolver aquilo porque sabia que estava em uma desvantagem, caso aquilo escalonasse de nível. De qualquer forma a conversa foi amistosa e pacífica entre os dois CEOs.
Com tudo acertado, os dois homens voltaram pela sala anterior, onde a secretária havia ficado. Ela já sabia o motivo da reunião e apenas aguardava enquanto revisava alguns arquivos em seu computador. Antes da saída de Hélio, Jonas pediu para sua secretária comunicar a moça que o deixou naquele andar, para que ela voltasse a acompanhar o visitante.
Nesse momento Hélio nem se importou com a presença do outro CEO e seu olhar era direto para a jovem secretária. Jonas ficou um pouco incomodado, mas até por se sentir culpado pela presença do outro CEO ali ficou quieto.
Após Ingrid terminar a ligação a mesma ficou de pé para acompanhar Hélio até o elevador, onde em poucos minutos outra funcionária o acompanharia até a saída, A jovem decide puxar assunto.
- Ouvir dizer que sua empresa mantém jardins maravilhosos - com um tímido sorriso ela comenta, afinal ela gosta de natureza, apesar de trabalhar em um ambiente urbano.
Hélio apenas sorriu com o elogio, ele sabia que havia feito um bom trabalho em manter uma área sem lucro, mas com algum verde em meio ao cinza, sensibilidade essa que faltava em Jonas. Ingrid ficou se questionando sobre, quem sabe, ao menos um dia conhecer a empresa do visitante.
Na verdade Ingrid sabia que seria uma ótima oportunidade de fuga e liberdade. E comentou após o gesto simpático de Hélio.
- Eu adoraria conhecer um dia - ela sabia que poderia ser mal interpretada, porém não se importou, o sorriso e a atitude do visitante estava a cativando.
Jonas, em voz baixa, mas carregada de ironia, comentou, como que adivinhando os pensamentos de sua secretária.
- Uma viagem, hein? Ou será que está apenas fugindo de algo? - ele comentou isso porque a empresa do visitante fica no estado vizinho.
- E o que eu estaria fugindo? De suas constantes acusações? De suas suspeitas? - virando-se para ele, com um olhar desafiador, a secretária o enfrenta.
Hélio ficou olhando com olhos arregalados a situação... parecia uma D.R. de casal e nada do elevador subir... e nesse momento ele nem queria ir embora, pois já estava temendo por uma situação de violência que poderia acontecer por parte do homem contra a mulher. Ingrid se mostrava irritada, tirando qualquer máscara que poderia haver sobre o fato de estar com uma visita e em seu ambiente de trabalho e Jonas, com um sorriso cínico, disse.
- Ah, Ingrid, você sabe tão bem como eu que as coisas não são tão simples assim. Nossa empresa precisa de você, e você sabe disso - era como uma intimação.
Nesse momento o clima estava pesado e ninguém sabia o que iria acontecer. Então Ingrid mantém o confronto ativo.
- Nossa empresa precisa é de um CEO que seja coerente e justo e uma secretária competente, como eu, poderia fazer seu serviço mesmo durante uma viagem - falou com um tom maior na voz.
Hélio ficou um tanto incomodado com aquela situação. Se a funcionária falava daquele jeito estaria forçando uma demissão e as coisas não precisavam ser daquele modo... ou... pensou também... que Ingrid e Jonas não estavam em uma discussão de patrão e empregada e sim uma briga de casal! Foi então que Jonas rangeu os dentes e tudo ficou pior.
Continua...
A decisão de Ingrid
Os três estavam na porta, próximo do elevador, e após a última fala de Ingrid, alterada, foi a vez de Jonas perder a compostura:
-Não se engane, Ingrid. Você é só a secretária e eu sou o CEO. E enquanto eu estiver nessa posição você fará o que eu mandar - segurando em seu pulso com força.
- Você não pode me controlar - a jovem falou enquanto tentava se soltar.
Hélio já sentiu um calor subindo em seu corpo e estava pronto para conter aquela violência quando, em meio aquele segundo de silêncio, o elevador fez um som que tirou a tensão do ar. Jonas soltou Ingrid, mas disse.
- Não se esqueça de quem está no comando aqui. E se você ousar me desafiar, as consequências serão graves - olhando com olhar de raiva sobre seus olhos.
- Não se esqueça que me perdendo aqui, me perde lá - ela responde em tom baixo e aquelas palavras são como uma senha que muda tudo.
- Sim, senhora - o patrão fala com sua secretária.
Hélio ficou boquiaberto com aquela situação. A porta do elevador finalmente se abre e então ele fala.
- Se me dão licença... - não havia nada o que falar diante daquela treta e ele passou no meio deles para entrar no elevador.
Hélio já estava quase entrando no elevador quando Ingrid chamou a funcionária que lá estava para então dizer que iria acompanhar o visitante até a saída. A moça consentiu e disse que desceria já no andar abaixo, pois estava com uma papelada em mãos para entregar para outro funcionário.
Ingrid, Hélio e a outra funcionária ficaram a sós no elevador e Jonas saiu de volta para sua sala sem olhar para trás. A porta se fechou. Ficou um silêncio sepulcral... então a outra funcionária desceu no andar abaixo, como havia falado e finalmente aqueles dois ficaram a sós.
Para quebrar o gelo, Hélio disse
- Então... é melhor eu voltar para a minha empresa?! - estava sem saber como reagir com aquela situação.
Já Ingrid foi se dando conta que estava prestes a perder a sua oportunidade de liberdade.
- Gostaria de passar a noite aqui, na nossa cidade? Seria ótimo que eu também pudesse conhecer a sua cidade, senhor - em tom calmo e o observando.
Hélio ficou surpreso ao ouvir sua proposta, mas respondeu no mesmo tom.
- Definitivamente não posso. Não retornar ainda hoje para minha cidade poderia ter algumas consequências - respondeu erguendo os ombros e pensando melhor falou em complemento - Bom. A presença de vocês na minha empresa seria uma grande honra. Considere um pedido formal - concluiu.
O elevador já estava quase chegando ao térreo e Ingrid notou que cada minuto se tornava difícil para ela. Então ela sussurrou de modo que ele ouviu.
- Por minha liberdade - olhando para a frente, para a porta que logo iria se abrir.
Ingrid contava com aquela última fala. Hélio, ainda mais surpreso que antes, ficou comovido com aquela frase. Aquela palavra: Liberdade. Seria a secretária uma prisioneira? Foram os últimos questionamentos do CEO, mas antes que ele falasse algo a secretária completou.
- Gosto de viajar e conhecer novas pessoas, se me entende - ela meio que buscava aceitação.
No entanto Hélio ficou sem entender nada e um pouco descontente com suas palavras. Espírito aventureiro e obrigações como secretária de uma empresa importante não combinam. Após saírem do elevador e darem os primeiros passos no térreo o homem fala.
- Acho que se esse é o caso você pode tratar com o seu chefe - comentou e aguardou uma nova fala.
Ingrid sentiu que aquela fala era compreensível, visto a discussão de minutos atrás, mas estava com vontade de conhecer melhor aquele homem, então o parou antes que ele fosse embora e disse:
- Eu estarei na sua cidade amanhã e entrarei em contato, certo? - ela viu que seria a melhor opção.
- Tá certo. Até mais - ele se despede a distância.
Hélio deixa aquela empresa com um sorrisinho no rosto, porque acertou tudo que tinha de acertar sem burocracia e ainda deu uma massagem em seu ego aquela conversa com a secretária. Ingrid retornou a sua sala e teve mais uma discussão com Jonas.
O dia seguinte passou e... não aconteceu nada fora do comum. Hélio se lembrou da fala de Ingrid, contudo a secretária não havia entrado em contato... e nem no dia seguinte. Ingrid não havia desistido, só não conseguiu realmente sair da cidade e ir até a cidade do outro estado. Ela continuava com Jonas.
Aquela demora e falta de mensagens já estava incomodando Hélio, pois ele também havia gostado dela... e finalmente surgiu uma nova mensagem de Ingrid, avisando que estaria em um shopping da cidade, mas só teria cerca de trinta minutos.
Hélio conseguiu chegar antes do horário combinado e ficou aguardando Ingrid... foi ela que atrasou, mas no fim ela veio. A troca de olhares aconteceu ao mesmo tempo e depois de tanto tempo finalmente ficaram diante um do outro. Trocaram uma saudação formal... e logo depois ela andou depressa para o abraçar.
Aquele foi um abraço quente e de muitos significados. Hélio não sabia o que pensar e só ficou alisando as costas da secretária e ela sentia tanta coisa ao mesmo tempo que não sabia nem o que pensar direito, só o apertava sem querer sair dali.
Então, depois de alguns minutos, o homem sussurrou:
- Estamos chamando muita atenção, mas que abraço bom viu - comentou a soltando, afinal eles estavam no meio do shopping e algumas pessoas já os olhavam.
- Desculpe, é que... deixa - finalmente ela o soltou e deixou para falar depois.
Os dois foram para a praça de alimentação e sentaram próximos para conversar, mas conforme o tempo informado só tinham cerca de dezessete minutos. Nem se preocuparam em pedir nada para comer e após um tempinho em silêncio finalmente a jovem consegue falar.
- Eu ainda não sou livre... - ela comenta em lamento.
- Não entendo o que isso quer dizer, pode me explicar - pacientemente ele responde e fica pensativo.
Continua...
Revelações
Hélio e Ingrid estão agora a sós conversando na praça de alimentação do shopping. Parece que só agora as coisas ficarão mais claras. É a vez da jovem falar.
- Eu e Jonas temos um relacionamento... somos noivos, mas já moramos juntos... eu o amo, mas... - ela suspira em lamento.
- Mas...? - ele pede para que ela continue.
- Ele me trata muito mal, tanto na empresa como na nossa casa... só que ele me ama, sabe? Ele fez de tudo para que a gente ficasse juntos. Enfrentou minha família - a jovem completa.
Hélio só conseguia pensar no quanto Ingrid estava sendo burra, afinal aquilo não era justificativa para nada, porém se lembrou da fala anterior e disse:
- Você o ama. Não é necessário dizer mais nada - e começou a já colocar em sua mente que deveria esquecer aquela mulher.
- É... eu não posso terminar o meu relacionamento sabe?! - ela perguntou como que afirmando.
- Na verdade você pode. Ô se pode. Ainda mais porque ainda nem se casou oficialmente - ele mostrou que havia uma saída.
- Não... não depois de tudo que ele fez por mim e depois do que temos - Ingrid sempre se sentiu um pouco desprezada e como só Jonas realmente a quis a ponto de conquistá-la ela valorizava isso.
- Você pode, acredite, mas a vida é sua... faça suas escolhas e lide com as consequências - Hélio foi mais frio em sua fala.
Hélio tinha dez anos a mais de vida que Ingrid e todos os dias sentia as consequências de escolhas antigas. Ele até tentou aconselha-la, mas sabia que ela teria que cometer seus próprios erros... contudo os dois ainda estavam a sós ali no shopping e depois de alguns minutos de silêncio a jovem volta a falar:
- Então eu preciso ir, mas obrigada por me ouvir... sinto que poderíamos ter uma conexão... - Ingrid admite.
- Eu adoraria, mas até agora você não fez essa escolha - Hélio também confessa.
- Não tem jeito... - ela ia se queixar mais uma vez, mas ele a interrompe.
- Chega disso... - ele coloca ponto final naquela conversa.
Os dois ficam em pé e rola mais um abraço apertado. Eles se olham, mas ainda há um otimismo para algo a mais:
- Quando estiver na cidade me fala? - Hélio queria um novo encontro.
- Eu sou uma prisioneira, mas quem sabe - Ingrid deixa no ar que sentia vontade, mas que era difícil.
- Você é prisioneira de você mesma - ele dá a letra.
Ela balança a cabeça, discordando, então eles se tocam um no braço do outro e ela sai. Ele permanece na praça de alimentação do shopping e senta-se. Ela diversas vezes olha pra trás para vê-lo, mas ele não se vira nem um segundo sequer e ela decide ir embora de vez.
Uma semana depois e novas mensagens foram trocadas entre Hélio e Ingrid e um novo encontro foi marcado. Decidiram que deveria acontecer também em um shopping, mas em outro bairro e assim foi feito. Mais uma vez o homem chegou com boa hora e dessa vez a jovem se atrasou ainda mais.
Os dois se veem e ainda há aquela troca de olhares desejosos entre eles, o abraço, no entanto, foi mais curto. Rapidamente eles se sentam para conversar e ela, após um silêncio, fala:
- Desculpe a demora em falar qualquer coisa. É que muitas coisas aconteceram - Ingrid media as palavras.
- O que houve? - Hélio pede que fale, tentava manter a paciência porque sabia que parecia uma situação tensa, porém ao mesmo tempo queria saber o quanto antes.
- Eu tô grávida sabe... e não tinha contado para ninguém, só que minha mãe encontrou o teste que fiz e... - ela falava, mas ele a interrompe.
- Por que está me contando isso? Aliás, por que está aqui? Nós não temos mais nada a ver um com o outro - ele é duro nas palavras.
Ingrid sabia que tinha deixado a chance por algo diferente escapar e Hélio só pensava se havia algum cérebro na cabeça daquela jovem, que além de ficar com um homem que a trata mal e a tem como objeto ainda engravida desse cara e veio falar com ele sobre isso. Era realmente algo fora do propósito. A jovem sentiu vontade de chorar por conta de tudo que estava passando, mas segurou o choro e falou:
- Eu pensei que... - e mais uma vez foi interrompida.
- Não. Foi muito tempo sem nenhum contato. Eu segui em frente - ele deu a entender que tinha dado seu amor para outra mulher.
- Que rápido... - Ingrid responde.
- Não - Hélio é frio e preciso.
Uma semana sem nenhum tipo de contato é realmente bastante tempo, ainda mais quando se sofre com ansiedade, o que era o caso daquele homem, que depois completa.
- Você fez suas escolhas. Fique com seu marido. Boa sorte - era uma despedida fria, ao qual o momento pedia.
- Tá certo. Adeus - ela se despede em definitivo.
- Adeus - ele fala e fica de pé.
Hélio sai sem olhar para trás, como de costume e Ingrid fica sentada olhando outra possibilidade de vida ir embora... mas em sua cabeça ela não via saída... já ele, mais experiente e vendo tudo de fora, viu que ela tomou decisões erradas.
E o tempo foi passando... e como esperado Hélio e Ingrid não se falaram mais, porém ambos tinham memória um do outro. Contudo eram só memórias e eles tocavam suas vidas de acordo com suas escolhas.
E então se passaram anos... Hélio ficou entre indas e vindas de vários amores passageiros e Ingrid muito em breve se tornou uma mãe solteira e ainda mais desprezada e agora desempregada. E só no futuro ela percebeu que tomou decisões erradas, só que o tempo é um inimigo implacável, ele não volta atrás.
Só que esse mesmo tempo ainda permite um futuro... e foi pensando nisso que Ingrid decidiu bater na porta da empresa do CEO Hélio mais uma vez e na sua mente aquela seria sem dúvidas a última vez.
Continua...
Para mais, baixe o APP de MangaToon!