Capítulo 1: O Filho Pródigo
Ricardo Monterão sempre soubera o peso do seu sobrenome, mas aos 23 anos, ele finalmente compreendeu o quanto isso poderia ser opressor. Filho de Alberto Monterão, dono da maior rede de hospitais privados da cidade, e Juliana Monterão, sua mãe, ele cresceu em um mundo onde os valores familiares se misturavam com o império da sua família. O que parecia uma vida de privilégios, na realidade, era uma prisão dourada.
Sua irmã mais velha, Stephanie Monterão, sempre se conformara com as regras não ditas que regiam sua vida. Ao contrário de Ricardo, que constantemente questionava tudo, Stephanie aceitava com facilidade a vida que a família traçou para ela. Seu casamento com Douglas Ketuk, um empresário de uma das famílias mais ricas e poderosas da cidade, foi arranjado para unir ainda mais os dois impérios. Mas para Ricardo, esse casamento de fachada, sem amor, era um reflexo do que seus pais desejavam para ele.
Enquanto isso, ele, com 23 anos, se via cada vez mais irritado com as expectativas da família. Durante anos, acreditou que o relacionamento com Carolina, sua namorada desde os 17 anos, fosse a coisa mais natural do mundo. Eles se conheciam desde a adolescência, ambos provenientes de famílias ricas e poderosas, e a relação parecia predestinada: ela, a filha de um grande empresário, e ele, herdeiro de um império de hospitais. Juntos, seriam o futuro perfeito, ou assim ela imaginava. Carolina sempre alimentou a fantasia de que um dia se casariam, formando o casal ideal aos olhos de todos.
Mas o tempo e as pressões familiares começaram a minar essa ilusão. A relação, que sempre foi marcada por uma obsessão por parte de Carolina, que o acompanhava em cada passo, exigindo atenção constante e tornando-se cada vez mais grudenta, começou a incomodar Ricardo. Ele precisava de liberdade. A vida que seus pais planejavam para ele, com o casamento perfeito, os filhos ideais e a continuidade do império, não era o que ele queria.
O estopim para o fim do relacionamento aconteceu em uma tarde quente de verão. Uma briga pesada entre eles, onde palavras ácidas foram ditas, deixou claro que aquele namoro havia se esgotado. Carolina, descontrolada, acusou Ricardo de não dar valor ao que ela e sua família haviam oferecido. A separação foi amarga e definitiva.
Depois do término, Ricardo teve uma discussão com seu pai, Alberto Monterão. O velho, sempre impositivo, não teve piedade.
— Você está jogando tudo fora, Ricardo! — Alberto rosnou. — Tudo o que fizemos por você, tudo o que construímos… você vai deixar isso para o seu cunhado? Você quer isso? Você vai ver o nosso império se esvair por causa da sua teimosia?
Ricardo, com o sangue fervendo, olhou o homem que havia sido seu maior exemplo até aquele momento. Seu pai, que parecia incapaz de compreender que ele queria algo diferente da vida que ele tentava impor. Foi ali que a raiva de Ricardo explodiu.
— Não, pai! Eu não vou casar com Carolina! Eu não vou seguir o plano de vocês! — ele gritou, a voz firme. — Eu vou viver a minha vida, sem as correntes do seu nome!
Naquele dia, o jovem de 23 anos tomou uma decisão drástica. Ele saiu de casa. Sem olhar para trás, deixou a mansão Monterão, aquele palácio de luxo, e se mudou para um apartamento simples no centro da cidade. Ali, ele começou sua residência em um hospital público, um trabalho que não tinha o brilho da riqueza, mas que lhe dava a sensação de estar no controle de sua própria vida. Era ali, entre os corredores cheios de urgência e dor, que ele começava a se encontrar.
Capítulo 2: Quando o Mundo Desaba
Ela tinha apenas 17 anos e acreditava que sua vida estava em perfeita ordem. Crescera em um lar onde o pai, um homem de condição razoável, sustentava a casa com dignidade, e a mãe, dedicada, nunca precisara trabalhar fora. A irmã mais nova, com 16 anos, era sua companheira inseparável nas pequenas alegrias do dia a dia. E havia ainda sua melhor amiga, com quem sonhava alto: enquanto ela pensava na faculdade de enfermagem que já começara a cursar, a amiga fazia planos para seguir o mesmo caminho. Tudo parecia encaixado.
Sua mãe, uma mulher de mãos abençoadas na cozinha, era conhecida pelos temperos que davam vida até aos pratos mais simples. Em casa, ela era o coração que mantinha todos unidos. Nunca precisara trabalhar fora porque o marido sempre fizera questão disso. Ele dizia que lugar de mulher era cuidando da casa e da família, e ela, sem reclamar, aceitou aquela condição.
Mas nada a preparou para o golpe que estava por vir. Aos 18 anos recém-completados, já no primeiro semestre da faculdade, ela viu seu mundo ruir de uma forma brutal. Tudo começou com os cochichos que a mãe ouviu no mercado, depois com as ligações estranhas que passavam a acontecer durante a noite. A desconfiança plantou uma semente amarga na casa que antes era refúgio.
Foi numa manhã fria que a verdade veio à tona. A mãe, com os olhos vermelhos e a voz trêmula, reuniu as filhas na cozinha. O pai havia sido flagrado, não apenas com outra mulher, mas com a pior pessoa possível: a melhor amiga da filha, aquela que tantas vezes dormira sob o mesmo teto, que compartilhara segredos e confidências.
O choque foi paralisante. Era como se uma faca tivesse sido cravada fundo demais para ser retirada. A mãe chorava em silêncio, a irmã mais nova não conseguia entender por completo, e ela... ela sentia tudo desmoronar dentro do peito. A traição não era só contra a mãe, mas contra toda a estrutura que sustentava suas certezas.
Dias depois, sem nenhuma cerimônia, o pai fez suas malas e saiu pela porta da frente. Foi viver sua nova vida com a amante, sem olhar para trás. Deixou as três mulheres sem recursos, sem casa segura, sem rumo. O dinheiro, antes razoável para manter o conforto da família, desapareceu como fumaça. As contas começaram a se acumular, o aluguel ficou atrasado, e a comida passou a ser contada.
Em questão de semanas, a casa que antes tinha cheiro de comida boa e risadas se tornou um lugar frio e pesado. A mãe, antes tão cheia de vida, parecia ter envelhecido anos em poucos dias. A irmã mais nova, agora com 17 anos, andava calada pelos cantos, com o olhar perdido. E ela, com o coração em pedaços, sentia o peso de uma responsabilidade que nunca imaginou carregar.
Tudo o que conhecia como normalidade foi arrancado sem aviso. A faculdade, que antes era um sonho realizado, agora parecia um luxo impossível. Os livros que ela tanto amava ficaram de lado, pois a prioridade passou a ser sobreviver.
Os vizinhos cochichavam, alguns com pena, outros com malícia. A cidade pequena onde viviam não perdoava escândalos, e o fato de o pai ter trocado a esposa pela amiga da filha se espalhou como fogo em palha seca. Era humilhante sair na rua e sentir os olhares, ouvir os sussurros cortantes.
Ela queria gritar, queria fugir, queria acordar e descobrir que tudo aquilo não passava de um pesadelo. Mas não era. Era a nova realidade, dura e cruel. Sua família estava na miséria, emocional e financeira. E, pela primeira vez na vida, ela percebeu que ninguém viria salvá-las.
Ainda não sabia como, mas tinha certeza de que precisava fazer alguma coisa. Precisava se levantar dos escombros e encontrar um caminho para reerguer sua mãe e sua irmã. A menina sonhadora que fazia planos com a melhor amiga já não existia mais. No lugar dela, nascia uma jovem forjada na dor e na necessidade.
E era só o começo. O mundo que ela conhecia tinha acabado. E agora, ela teria que aprender a viver em um novo, onde tudo seria mais difícil, mais sujo, mais real.
Capítulo 3 — O Don Juan do Hospital
Ricardo Monterão era um nome que circulava em sussurros pelos corredores do hospital. Dono de uma beleza que parecia esculpida com perfeição, ele carregava uma autoconfiança que transbordava a cada passo firme que dava com seu jaleco branco impecável. Alto, de ombros largos e sorriso torto que parecia sempre carregar um segredo, Ricardo não precisava de muito para fazer corações acelerarem por onde passava.
As enfermeiras ajeitavam o cabelo quando sentiam seu perfume amadeirado se aproximar, as médicas disfarçavam a admiração atrás dos prontuários e até as recepcionistas mais duronas se pegavam sorrindo feito adolescentes quando ele lançava um olhar. Era como se todo o hospital estivesse em torno dele — e ele sabia muito bem disso.
Ricardo não fazia questão de esconder seu lado galanteador. Já tinha colecionado casos com enfermeiras, médicas recém-formadas e até com a recepcionista novata que, no início, dissera que jamais cairia em conversa de médico mulherengo. Bastaram dois encontros casuais e um jantar regado a vinho para que ela também se rendesse ao charme irresistível dele. Era sempre assim: começava com uma brincadeira, um elogio bem colocado, e terminava em noites que nenhuma delas esquecia tão cedo.
Mas com Cíntia era diferente. Ricardo sabia dos limites. Ela também era residente, colega de plantão, e mais do que isso: era namorada de Pedro, um dos poucos caras que Ricardo respeitava. Por isso, apesar da beleza da colega — cabelos lisos, olhar firme e postura determinada —, ele nunca passou da linha com ela. No máximo, soltava uma piada ou outra só para provocar, vendo o jeito como ela revirava os olhos e cruzava os braços. E aquilo, no fundo, o divertia.
— E aí, doutora Cíntia, já cansou de salvar vidas ou vai me dar mais uma chance de brilhar hoje? — ele brincou, encostado no balcão da enfermagem com aquele sorriso que já era a marca registrada dele.
Cíntia soltou um suspiro impaciente, sem conter um pequeno sorriso no canto da boca.
— Brilhar? Você? Só se for no setor de reclamações, doutor Ricardo.
Ele riu, levantando as mãos em rendição.
— Maldade. Eu sou o orgulho deste hospital. Pergunta ali pra enfermeira Cláudia — apontou com o queixo para a mulher que, do outro lado da sala, ficou vermelha só de ouvir o nome dele.
Cíntia balançou a cabeça e voltou para seu plantão, enquanto Ricardo se empurrava da bancada e seguia para a sala de descanso, recebendo piscadelas e sorrisos pelo caminho. Era assim sempre. Ele mantinha todos por perto, mas sem se prender a ninguém. E, no fundo, era exatamente isso que ele queria: liberdade.
Depois que abandonou a casa dos pais aos 23 anos, Ricardo fizera um pacto consigo mesmo de nunca mais aceitar que alguém mandasse em sua vida. Filho de Alberto Monterão, o magnata dono da maior rede de hospitais privados da região, e de Juliana Monterão, uma socialite conhecida nas colunas de fofoca, Ricardo tinha crescido cercado de luxo, mas sufocado por expectativas. Sua irmã mais velha, Stephanie, havia seguido o script: casou-se com Douglas Ketuk, selando a união entre duas das famílias mais poderosas. Mas o casamento era de fachada, sem amor, sustentado apenas pelo interesse mútuo dos pais.
Ricardo sempre odiou aquela farsa. Observava os sobrinhos gêmeos, Lorran e Lorraine, correndo pelos jardins da mansão Monterão sem sequer perceberem a frieza que dominava a casa. E prometeu que nunca, jamais, aceitaria um destino como aquele. Por isso saiu de casa, trocou o conforto por um apartamento modesto e se jogou de cabeça na residência médica num hospital público, longe dos holofotes e das pressões familiares.
Agora, com 25 anos, ele estava exatamente onde queria estar: livre, desejado e sem amarras. Os casos passageiros eram parte do jogo, uma distração bem-vinda em meio à rotina pesada dos plantões. Mas nada que chegasse perto de algo sério. Compromisso, para Ricardo Monterão, era sinônimo de prisão — e ele já tinha fugido de uma uma vez.
No hospital, ele era o Don Juan que todas comentavam, e ele adorava manter essa fama viva. Mas no fundo, por trás do sorriso fácil e das brincadeiras, havia um homem que sabia exatamente o que não queria da vida: um casamento sem amor, um futuro programado por outros e uma vida vazia dentro de uma mansão fria.
E era por isso que, mesmo cercado de olhares e oportunidades, Ricardo Monterão seguia sozinho. Por escolha. Por orgulho. E, talvez, por medo de um dia acabar se vendo preso na mesma teia que jurou evitar.
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