Capítulo 1: A Proposta Inesperada
Helena não podia acreditar no que acabara de ouvir. O homem à sua frente, Enrico Salvattore, era conhecido tanto por sua fortuna quanto por sua frieza. E ele estava propondo casamento. Mas não por amor. Era um contrato, claro e direto: um ano de casamento em troca de uma quantia suficiente para salvar a livraria de sua família.
Helena
Helena é uma jovem inteligente, determinada e resiliente. Ela cresceu em uma família tradicional, marcada por altos e baixos financeiros. Seu pai, Sr. Augusto, era dono de uma empresa familiar que, durante anos, sustentou a família com conforto. No entanto, por má administração e decisões de risco, a empresa entrou em falência.
Apesar disso, Helena sempre foi muito ligada ao pai, com quem compartilhou valores de responsabilidade, honra e sacrifício. A mãe dela faleceu quando Helena ainda era adolescente, o que a fez amadurecer rápido e assumir responsabilidades dentro de casa. A relação com o pai se fortaleceu nesse período — embora ele tenha muito orgulho dela, também sente culpa por colocá-la na situação desesperadora que a levou ao contrato de casamento com Enrico.
Quando Helena aceitou o acordo, o fez para salvar o pai da ruína e da humilhação. Ele, apesar de relutante, aceitou a decisão da filha, enxergando como um último esforço para manter a dignidade da família.
Enrico é um homem pragmático, criado em um ambiente frio, corporativo e com cobranças pesadas. Filho único, perdeu a mãe muito cedo e foi criado pelo pai, um magnata impiedoso que acreditava que sentimentos eram fraquezas. Cresceu aprendendo que tudo na vida pode ser negociado — inclusive o amor.
Quando seu pai morreu, deixou a condição no testamento de que ele precisava se casar para ter acesso total à herança e controle da empresa. Isso não abalou Enrico: ele via o casamento como mais uma transação. Mas o destino cruzou seu caminho com o de Helena — uma mulher que, embora também estivesse disposta a entrar em um acordo, tinha uma força emocional que ele nunca havia conhecido.
A princípio, ele tentou manter distância emocional, mas a convivência com Helena foi desmontando suas defesas. Enrico tem um lado sensível e protetor que foi aflorando à medida que ela se mostrava mais do que apenas “uma esposa contratada”.
Termos e Condições
Enrico apresentou o contrato. Entre as cláusulas, estavam regras como: viverem juntos, manterem as aparências em público, e nenhuma relação emocional. Helena hesitou, mas a imagem de seu pai desolado e da loja fechando as portas pesou mais. Ela assinou.
O Anúncio Oficial
No dia seguinte, as redes sociais estavam em alvoroço. Enrico postou uma foto dos dois com a legenda: "Noivos". A notícia se espalhou como fogo. Helena teve que sorrir para as câmeras, aguentar perguntas invasivas e fingir que tudo era real. Enquanto isso, Enrico permanecia impassível, como se nada fosse além de mais uma negociação.
Ela se perguntava se seria capaz de manter aquele papel por tanto tempo sem perder a si mesma. Mal sabia que aquele era apenas o começo de uma transformação que mudaria tudo.
A Primeira Noite na Mansão
A casa de Enrico era imensa, fria e silenciosa. Helena se sentia pequena diante da grandiosidade do lugar. O quarto que ele destinou para ela era luxuoso, mas impessoal. Naquela primeira noite, o silêncio era tão denso quanto a tensão entre os dois.
— Você pode ficar à vontade, Helena. — disse ele, ao deixá-la na porta do quarto.
— Obrigada... — respondeu ela, hesitante. — Você sempre foi assim tão... direto?
— Eu sou objetivo. Sentimentos complicam as coisas. E nós temos um contrato.
Helena não respondeu. Apenas entrou no quarto e fechou a porta suavemente. Deitou-se na cama de lençóis caros e tentou dormir.
Título: Casamento por Contrato Autora: Santos
Convivência Forçada A adaptação à nova rotina como casal foi tudo, menos fácil. Helena ainda tentava entender como havia chegado àquela situação — morando com um homem praticamente desconhecido, mesmo que casada no papel. Enrico, por outro lado, parecia mais focado em manter as aparências do que em qualquer tentativa de aproximação verdadeira.
A mansão em que passaram a viver era grande, fria e silenciosa. Os empregados foram orientados a tratá-los como um casal apaixonado, o que tornava as coisas ainda mais desconfortáveis para Helena, que mal conseguia conversar direito com Enrico.
Certa noite, ao descer para jantar, ela se deparou com a mesa posta para dois. Havia flores, velas, e até um vinho caro. Surpresa, ela olhou para Enrico, que, pela primeira vez, parecia hesitante.
— Achei que poderíamos... tentar jantar juntos — disse ele, com um tom quase gentil.
Durante o jantar, Helena percebeu que, por trás da postura rígida de Enrico, havia um homem cheio de barreiras emocionais. Ela tentou puxar assunto, contar histórias de sua infância, do pai e da época em que ajudava a montar casamentos nos eventos da antiga empresa da família. Enrico ouvia, às vezes com um leve sorriso no canto dos lábios.
— Você realmente acredita no amor, não é? — ele perguntou, repentinamente sério.
— Acredito. E você, não acredita?
Ele deu de ombros. — Nunca tive motivos pra isso.
Naquela noite, Helena foi dormir com uma sensação estranha. Algo em Enrico havia mudado — mesmo que só um pouco. E ela sabia, no fundo, que seria preciso paciência para descobrir quem era o homem por trás daquele contrato.
Enquanto isso, no escritório da empresa de Enrico, boatos sobre o casamento já corriam. Alguns funcionários diziam que era apenas por interesse; outros, que Enrico estava finalmente apaixonado. Nenhum deles sabia a verdade. Nem mesmo o próprio casal.
E em meio a tudo isso, Helena recebeu uma ligação do pai. Ele estava preocupado com ela, mas também aliviado por saber que a empresa estava salva — mesmo sem saber o quanto a filha havia sacrificado para isso. Ela mentiu, dizendo que estava tudo bem. Que o casamento estava indo bem. Que estava feliz.
Era uma mentira dita com amor. Mas ainda assim, uma mentira.
Helena desligou o telefone com os olhos marejados, se perguntando quanto tempo conseguiria sustentar aquela farsa... e se um dia, aquilo tudo deixaria de ser mentira para se tornar, enfim, verdade.
A convivência entre Helena e Enrico começava a revelar as primeiras rachaduras.
Por mais que ambos tentassem manter a aparência de um casal harmônico, era impossível ignorar o peso das diferenças entre eles.
Helena era espontânea, sorridente e acostumada a compartilhar seus sentimentos. Já Enrico, reservado e controlado, tratava a maioria das conversas como transações — calculadas e limitadas.
Naquela semana, a tensão explodiu pela primeira vez.
Tudo começou com uma reunião de família organizada pela tia de Enrico, uma mulher tradicional que sempre desconfiou da repentina decisão do sobrinho de se casar. A festa era uma oportunidade para impressioná-la e acalmar rumores. Helena sabia disso, e se esforçou para escolher um vestido elegante, aprender detalhes sobre a família e ensaiar respostas para perguntas constrangedoras.
Mas, ao chegar à casa da tia, foi tratada como uma intrusa.
Olhares tortos, cochichos e sorrisos falsos acompanharam Helena a noite inteira. E o pior: Enrico parecia indiferente.
Ele conversava com os outros convidados, falava de negócios e deixava Helena sozinha a maior parte do tempo.
Quando voltaram para casa, a discussão começou.
— Você me deixou sozinha! — acusou Helena, sua voz embargada de frustração. — Parecia que eu era invisível para você!
Enrico tirou a gravata com um gesto impaciente.
— Eu estava fazendo o que era necessário! Estava mantendo nossa imagem!
— Que imagem, Enrico? A de um marido ausente? — ela retrucou, com lágrimas nos olhos.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos, como se procurasse as palavras certas.
— Eu não sou bom nisso, Helena — disse, enfim. — Nunca fui. Não sei como fazer isso parecer real.
Helena respirou fundo. Era difícil, muito difícil. Mas parte dela compreendia.
Afinal, ambos haviam entrado naquela relação por necessidade, não por amor.
— Talvez nós dois precisemos aprender — ela respondeu, mais calma. — Se quisermos que isso funcione, teremos que construir algo juntos. De verdade.
Enrico olhou para ela, pela primeira vez sem a máscara fria que usava como armadura. E naquele breve momento, Helena viu: havia uma dor escondida dentro dele. Uma dor que talvez ela pudesse ajudar a curar... se ele permitisse.
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Sinais de Mudança
Depois da discussão, algo entre eles mudou — pequeno, quase imperceptível, mas real.
Enrico passou a tentar, mesmo que desajeitadamente, se fazer mais presente. Começou a perguntar sobre o dia de Helena, a convidá-la para jantares rápidos no jardim, longe da formalidade da casa enorme.
Era estranho para ele, que sempre vivera cercado de relações superficiais, mas Helena percebia o esforço, e isso já significava muito.
Certa manhã, enquanto tomavam café, Helena recebeu uma ligação do pai.
Sr. Augusto parecia animado: havia conseguido uma nova parceria para a antiga empresa, graças à boa reputação que ainda sustentava.
Helena sorriu com a notícia, sentindo, pela primeira vez em semanas, um alívio genuíno.
— Boas notícias? — perguntou Enrico, colocando açúcar no café dela sem que ela pedisse, um gesto pequeno, mas cheio de significado.
— Sim, muito boas — respondeu Helena, seus olhos brilhando. — Meu pai conseguiu uma nova parceria. Talvez seja o começo da recuperação da empresa.
Enrico sorriu de lado, de forma sincera.
— Fico feliz por vocês.
Helena sentiu o peito aquecer. Estava começando a ver Enrico como mais do que um parceiro de contrato. Estava vendo o homem capaz de se importar, mesmo que ainda tivesse medo de demonstrar.
Àquela altura, os encontros sociais começaram a se tornar menos tensos. Em uma das festas empresariais, Enrico surpreendeu a todos ao dançar com Helena no meio do salão. Era um gesto simples, mas que, para ele, representava um enorme passo.
Enquanto dançavam, ele sussurrou:
— Talvez eu esteja começando a entender como se faz isso.
Helena sorriu, deixando a cabeça repousar suavemente no ombro dele.
Talvez aquele casamento, nascido de um contrato, estivesse, pouco a pouco, se transformando em algo muito mais difícil de quebrar: um laço verdadeiro.
Verdades Não Ditas
Apesar da aproximação entre eles, havia coisas que ainda permaneciam entrelaçadas no silêncio.
Helena sabia que não podia simplesmente esquecer que, no fundo, seu casamento era uma mentira construída sobre interesses. E Enrico, embora estivesse se abrindo, ainda carregava uma sombra nos olhos — uma sombra que ela não sabia decifrar.
Numa noite fria, Helena encontrou Enrico sozinho no escritório, olhando para uma fotografia antiga sobre a lareira.
Ela se aproximou devagar.
— Quem são? — perguntou, curiosa.
Enrico demorou alguns segundos antes de responder.
— Minha mãe e eu. — A voz dele saiu baixa, quase como um sussurro.
Helena nunca ouvira Enrico falar sobre a mãe antes. Aquilo parecia algo sagrado, trancado dentro dele.
— Ela faleceu quando eu tinha oito anos. Depois disso, foi só... negócios. Nenhum espaço para outra coisa — completou, ainda encarando a foto.
Helena sentiu o coração apertar. De repente, tantas coisas faziam sentido: a frieza, a dificuldade em confiar, o medo de se apegar.
Ela se aproximou mais e, sem dizer nada, apenas tocou a mão dele.
Um gesto silencioso de apoio.
Um gesto que, para Enrico, parecia ser mais importante do que qualquer palavra.
Ele a olhou de um jeito diferente naquela noite. Como se, finalmente, começasse a enxergar nela um porto seguro — algo que jamais pensou que teria.
Mas nem tudo eram flores.
No dia seguinte, ao revirar alguns documentos no escritório em busca de um contrato que precisava assinar, Helena encontrou algo que a fez congelar: uma cláusula extra no acordo de casamento que ela nunca tinha visto antes — uma que mencionava a possibilidade de anulação do casamento após um determinado prazo, se certas condições não fossem cumpridas.
O coração de Helena disparou.
Tudo parecia tão real agora... mas e se, para Enrico, ainda fosse apenas um contrato?
Ela guardou o documento de volta, sem comentar nada com ele.
Mas, a partir daquele momento, uma dúvida dolorosa plantou-se em seu peito.
Seria amor... ou apenas parte do acordo?
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