Luna estava sentada sozinha no campus da faculdade, com os livros abertos no colo, mas sem conseguir se concentrar. Seus olhos estavam fixos em Aurora, que conversava animadamente com alguns colegas mais adiante.
O riso de Aurora era inconfundível — leve, vibrante, como uma melodia que fazia o mundo parecer mais bonito. Seu sorriso iluminava tudo ao redor, como se ela carregasse um pedaço do próprio sol dentro de si.
Luna a observava em silêncio, sentindo o coração apertar de forma doce e dolorida ao mesmo tempo. A cada dia, aquele sentimento crescia dentro dela como uma chama discreta, mas impossível de apagar. E ali, sob o céu tranquilo da tarde, ela soube: Aurora era o seu sol. E ela estava cada vez mais perdida nesse brilho.
— Limpa essa baba, babaca mesmo viu. —
Annie quebrou o silêncio e arrancou Luna de seus devaneios com um comentário seco. Na hora, o semblante de Luna mudou.
— Alguém já te mandou se fuder hoje? — rebateu, tentando disfarçar o desconforto.
— Não, infelizmente eu sou um amor com todo mundo. — disse Annie, rindo e se sentando ao lado dela.
— Ah,então vá se fuder,sua otária do caralho.—
As duas riram, como sempre. Mas Annie rapidamente mudou o tom.
— Agora é sério, Luna. O que eu vou te falar, eu espero que leve pro coração.—
— Lá vem... Diga, puta nau. —
Annie respirou fundo.
— Por que você não fala com a Aurora sobre seus sentimentos?—
Luna soltou uma risada nervosa. Queria, mas não conseguia.
— Eu não quero perder a amizade dela, Annie. Ela é muito importante pra mim.—
— E se ela sentir o mesmo? Você nunca vai saber se continuar guardando tudo pra si.—
Luna abaixou o olhar.
— Mas é impossível a Aurora sentir algo por mim... Ela só me vê como irmã. Nada além disso.—
— Ai, Luna, não seja burra. O que custa perguntar? A única coisa que pode acontecer é ela dizer um não, ué. —
— Você fala isso porque não gosta de ninguém. No dia que receber um “não” de quem gosta, vai entender. —
Respondeu revirando os olhos, meio irritada.
— Eu não gosto de ninguém, Luna. E nunca vou gostar! Mas se um dia isso acontecer, eu juro que não vou ser igual a você... uma grande burra! —
Luna só não voou na cabeça da amiga porque no fundo sabia que ela tinha razão.
Uma idiota. Era isso que ela era. Uma idiota que guardava um sentimento por anos e não tinha coragem de abrir a boca.
Annie saiu pisando fundo ao ver a idiotice da amiga.
— Vai me deixar falando sozinha mesmo? Hein, Annie White! Que saco, viu...—
Annie já estava alguns passos à frente e apenas levantou o dedo do meio pra Luna.
Luna respirou fundo e se jogou na grama, olhando para o céu. Fechou os olhos e sentiu a brisa bater em seu rosto. Por um momento, seus pensamentos de medo foram embora.
Ela queria realmente contar. Mas o medo sempre vinha em primeiro lugar.
E se ela a desprezasse?
E se a abandonasse?
A amizade nunca mais seria a mesma, e isso doía mais do que o sentimento que Luna tentava esconder. Ela não queria perder Aurora.
— Lunaaa, acorda, meu anjo.—
Luna abriu os olhos num salto e se levantou com a mão no coração, enquanto Aurora ria da sua desgraça.
— Nossa, Aurora, quase que eu ia de arrasta pra cima, sua idiota!—
— Que exagero, Luna. Seus olhos só faltaram saltar!—
Aurora continuava rindo tanto que a barriga já doía.
— Não ri, idiota. Você ainda vai me pagar por esse susto, uhul.
— Estou aguardando faz tempo. Você nem ouviu o sinal bater, né?—
— Pior que não. Nem percebi.—
— Ultimamente você tá bem aérea, Luna.—
— Ai, é a idade, meu bem. Eu, hein.—
— Você tem a mesma idade que eu, idiota! Mas enfim... pega logo sua mochila ou vamos nos atrasar de novo.—
Luna pegou a mochila que estava no chão, colocou nas costas e as duas começaram a andar pelos corredores da universidade.
— Ai, não sei por que escolhemos medicina.
— Eu escolhi por amor, graças a Deus. Já você, não sei, Luna.—
— Eu podia ser rica e tal, mas tô aqui com você vendo corpos e a anatomia humana. Não seja ingrata.—
— Verdade! Lembra quando um pombo quase morreu e a gente tentou fazer uma cirurgia?
— Lembro sim.A gente era psicopata.—
As duas caíram entre risos por causa das brincadeiras de criança que ainda faziam,nada normal para a idade delas.
Elas tinham uma conexão inexplicável. Nem mesmo sabiam o quanto eram apaixonadas uma pela outra, mas os olhares diziam tudo.
Todos sabiam que elas se gostavam; era impossível esconderem um sentimento tão forte assim.
— Desculpa interromper esse momento de conexão, garotas, mas está na hora de estudar. Sentem-se em seus lugares. —
Luna e Aurora foram para suas mesas, abrindo o material escolar.
As duas sempre sentavam juntas, faziam tudo juntas.
Podemos dizer que os laços do amor entre elas eram visíveis.
As três horas seguintes na faculdade passaram voando. Entre aulas práticas e discussões em grupo, o tempo mal deu chance pra Luna pensar direito.
Quando o sinal tocou, ela e Aurora caminharam lado a lado em direção à saída. Era hora do estágio.
Elas até tentaram conversar com a diretora do curso, na esperança de conseguirem ser designadas para o mesmo setor. Mas não rolou.
A burocracia venceu mais uma vez.
Apesar disso, havia uma sorte silenciosa no ar: ambas tinham conseguido estágio no mesmo hospital. E isso já era mais do que suficiente para deixá-las animadas.
Estar no mesmo lugar que Aurora todos os dias era como uma bênção para Luna,mesmo que o coração apertasse um pouquinho toda vez que ela disfarçava o que sentia.
A semana tinha passado rápido, e Aurora dava graças a Deus. A faculdade, o estágio e o trabalho estavam esgotando a jovem. Mas aquele era um dia para celebrar. Assim que acordou, fez sua higiene matinal e foi tomar café com seus pais e seu irmão mais velho.
— Bom dia, pai e mãe. —
Cumprimentou os dois com beijos na bochecha, de forma carinhosa e animada.
— Bom dia, filha. Está bem feliz hoje — comentou sua mãe, enquanto colocava algumas panquecas na mesa.
— Algo especial, filha?—
— Estou mesmo, mamãe. E não, pai, nada de especial... é só minha folga mesmo. —
Falou rindo, dando uma mordida generosa na panqueca deliciosa.
— Bom dia, pessoal. —
Seu irmão mais velho se sentou ao seu lado e, sorrateiramente, pegou um pedaço da panqueca dela.
— Não mexe! É minha, seu idiota! — resmungou Aurora, empurrando a mão dele.
— Sem discussão, crianças — disse o pai, sem desviar os olhos do jornal.
— Pai, nós não somos mais crianças — respondeu Ryan, fazendo careta.
— Se não fossem, já não estariam mais morando com a gente — retrucou a mãe, sem hesitar.
— Tá me expulsando de casa, mãe? — resmungou de boca cheia.
O pai apenas lançou um olhar sério como repreensão.
— A mamãe só está dizendo a verdade, Ryan. Já tem quase 40 anos e ainda mora aqui — provocou Aurora, com um sorriso vitorioso.
Ela adorava implicar com o irmão. E naquela manhã, seu sorriso estava especialmente radiante.
— Eu tenho 30 anos, Aurora. E nunca me casei porque estou interessada na Luna. —
Ryan falou com um sorriso convencido no rosto.
Aurora, que estava chegando na cozinha, mudou o semblante na hora, ficando séria.
— Não ouse dar em cima da Luna. Ela não é pro seu bico, idiota. —
Aurora rebateu, irritada, encarando o irmão.
Seus pais trocaram um leve sorriso. Eles sabiam que o que Aurora sentia por Luna ia muito além da amizade.
— Não sei por que você tem todo esse ciúmes da Luna... —
Ryan provocou, claramente se divertindo com a situação.
Ele também sabia. E fazia questão de cutucar.
— Porque ela é minha melhor amiga, e eu a considero como..como uma irmã.—
Aurora tentou manter a pose, mas engoliu em seco no meio da frase. Quem ela queria enganar? Só a si mesma.
— Engraçado que você não tem esse ciúmes todo de mim.—
Ryan continuava provocando, com um sorriso malicioso.
— E eu deveria? Você não entenderia esse sentimento... de irmã. —
Ela respondeu, desviando o olhar, tentando soar convincente.
— Acho que esse sentimento tem outra explicação... —
comentou a mãe, baixinho para o marido, que sorriu discretamente.
— Bom, eu vou subir. Tenho coisas pra fazer... diferente de você, seu idiota. —
Aurora disse, já tendo lavado e guardado a louça, com o semblante ainda sério.
Seu irmão continuava rindo da cara dela, se divertindo com a situação.
— Pois suba, maninha, porque eu vou casar... e com a Luna! —
Ryan provocou mais uma vez, com aquele sorriso debochado.
Aurora subiu as escadas pisando fundo, fazendo questão de deixar cada passo ecoar. E antes de desaparecer no andar de cima, virou-se e mostrou o dedo do meio pro irmão.
Enquanto isso, os pais continuavam rindo lá embaixo, achando tudo aquilo hilário.
Aurora já estava bem mais calma em seu quarto. Deitada, encarava o teto em silê8ncio quando seu celular começou a tocar. Pegou o aparelho e viu que era a Luna ligando.
Atendeu sem pensar duas vezes.
— Bom dia, flor do dia... —
Luna falou com a voz sonolenta, claramente ainda se recuperando do sono.
— Bom dia,sonolenta. Tudo bem? —
Aurora respondeu, sorrindo sem perceber.
— tudo sim,e você? —
— Também tô bem.Acordou agora,né?—
— Sim... tô esgotada. Hoje não vou sair de casa nem fudendo.—
— Imagino. Eu também tô morta, mas preciso sair.—
— Sair pra onde? —
Luna perguntou, e logo em seguida Aurora ouviu algo caindo do outro lado da linha.
— Derrubou o quê?—
— Ah, só um copo... Mas vai sair com quem mesmo? —
Luna voltou à pergunta, agora mais atenta.
— Com a Lisa e a Alice. Vamos no parque.—
— Nossa, sua falsa. Nem me convida.—
— Ué, mas você acabou de falar que não ia sair hoje...—
— O que o cu tem a ver com as calças?—
respondeu Luna, indignada.
— Eu ia te chamar, ok? Mas você falou antes que não ia sair. Você quer ir?—
— Ah... não sei! Vou pensar no seu caso.
— Então tchau, Luna. Eu hein. —
E antes que Luna pudesse responder, Aurora desligou na cara dela.
Depois de desligar na cara da Luna, Aurora mandou mensagem no grupo com as quatro garotas incluindo a Luna, perguntando que horas iriam sair. Decidiram que seria por volta das 10h30.
Como já eram quase 10h, Aurora foi trocar de roupa. Escolheu algo confortável:um short jeans preto e um cropped branco que combinava com a bolsa e o tênis. Se olhou no espelho tudo perfeito.
Passou manteiga de cacau nos lábios e guardou o tubinho na bolsa.
— AURORA,A LUNA ESTÁ AQUI, FILHA!–
Sua mãe gritou do andar de baixo.
Aurora desceu com uma expressão nada amigável.
— Eu disse que ia pensar, não disse? —
Falou com a mão na cintura, encarando Luna.
— Eu tava zoando, uai! Mas você desligou na minha cara, nem deixou eu falar... —
Luna respondeu, fazendo um leve bico.
Ela vestia uma calça larga, camiseta preta e uma bag preta com detalhes amarelos da Baw simples, mas estilosa como sempre.
— Que seja... A Anna tá com você, né?—
— Sim. E falei com as meninas que vou pegar elas também.—
— Entendi. Mas acho que não vai caber todo mundo no carro, Luna. Melhor ir de ônibus.
— Lógico que dá, Aurora! O parque nem é tão longe assim. Alguém vai no colo, ué.—
— Quer que eu leve o resto? —
Ryan apareceu oferecendo ajuda, e Aurora lançou um olhar fulminante.
— Não, não precisa,Ryan. Uma vai no colo.—
Ele abriu um sorriso debochado, provocando ainda mais.
— Mas ia ser uma boa se ele... —
Luna começou, mas foi interrompida pelo olhar mortal de Aurora.
— Não, Luna! É só garotas e ponto.—
vamos,que eu já tô estressada.—
Cortou seca
Aurora deu tchau para a mãe e saiu, arrastando Luna pela mão.
Já dentro do carro, as três jovens seguiam em direção às outras duas amigas.
— Sabe o que eu tava pensando, Aurora? —
Luna perguntou, depois de um longo silêncio.
— Diga, Luna?—
— O carro tem três lugares atrás... então por que uma das meninas teria que ir no colo?—
As três caíram na risada, sem conseguir se segurar.
— Nossa,é verdade, Luna! Nem pensei nisso!—
Aurora riu ainda mais, batendo levemente no próprio rosto.
— Vocês são duas cabeçudas,isso sim!—
Anna completou, rindo junto.
Enfim, chegaram para buscar as outras duas garotas e seguiram para o parque. Aproveitaram bastante o dia. riram e tiraram fotos, conversaram sobre tudo. No fim da tarde, Alice teve a ideia:
— Gente, por que a gente não vai lá pra casa assistir uns filmes?
Todas toparam. Foram deixando cada uma em sua casa, e no final restaram apenas Aurora e Luna no carro.
— Nossa,acho que o tempo vai mudar—
Aurora comentou, desligando o ar-condicionado.
— Vai mesmo... olha aquelas nuvens carregadas. —
Luna disse, enquanto focava no trânsito que começava a ficar pesado.
Aurora olhou discretamente para Luna. Ela estava com a sobrancelha franzida, atenta ao fluxo de carros.
Aquela expressão de concentração a fazia parecer ainda mais bonita,o coração de Aurora bateu um pouco mais forte, mas ela apenas ficou quieta, observando em silêncio, com um leve sorriso no canto dos lábios.
Luna já havia deixado Aurora em casa e, assim que chegou, jogou a mochila no sofá e foi direto para o banheiro. O cansaço pesava nos ombros, e o calor do dia havia grudado na pele como um cobertor desconfortável.
Girou o registro e deixou a água quente cair sobre seu corpo, relaxando cada músculo tenso. O tempo estava mudando, e ela adorava isso. Um friozinho gostoso se espalhava pelo ar — aquele tipo de clima que pedia um moletom, cobertor e talvez um bom filme ou um caderno para escrever.
Fechou os olhos por alguns segundos, sentindo o vapor subir, e como sempre, os pensamentos foram direto para Aurora. O sorriso dela naquela manhã, o jeito como mexia no cabelo enquanto falava com os amigos, como se o mundo inteiro parasse só pra vê-la brilhar.
Luna suspirou, apoiando a testa contra a parede fria do box.
— Você precisa parar com isso... — murmurou pra si mesma.
Depois de um belo banho demorado, ela foi se vestir. Dessa vez, escolheu uma calça de moletom cinza, uma blusa de frio marrom e um tênis branco — pra não chamar tanta atenção. Secou o cabelo, se olhou no espelho e, como sempre, estava ótima.
— LUNA, VAI JANTAR EM CASA? — a mãe gritou lá de baixo.
Por que mãe tem mania de gritar tanto assim? pensou ela.
Desceu correndo igual uma doida, assustando a mãe, que a olhou indignada.
— Não, mãe. Vou pra casa da Alice — respondeu, ligando a TV da sala.
— Okay então! Qualquer dia você quebra a cara... vê se presta atenção quando desce!—
— Não se preocupa,mãe.
Eu sou médica — falou rindo.
— Vai achando que só porque é médica tem sete vidas, igual o Sállem..—
Sállem era o gato da casa.
— Falando nisso, cadê ele?—
Luna mudava de canal procurando algo legal, mas já estava sem paciência e largou o controle de lado.
— Tá na rua, putianeando como sempre. Ele dá mais trabalho que você!—
As duas riram, porque sabiam que era verdade.
— Ele é mais pegador que eu... queria namorar igual ele.—
— Nem me fale! Eu também preciso namorar. Sou uma coroa tão bonita e ninguém me quer...—
A mãe de Luna era viúva. Seu esposo morreu em um acidente de carro, e desde então ela nunca mais quis ninguém. Às vezes dizia que queria, mas Luna sabia que no fundo ela só tinha medo, medo de tentar de novo, e medo de Luna não aprovar.
— Mãe, eu já falei que a senhora merece ser feliz — disse Luna, sincera.
Ela sempre incentivava a mãe.
— É difícil, Luna... muito difícil encontrar alguém que preste.—
— Realmente é difícil. Tira as conclusões por mim: tô aqui sem ninguém.—
A mãe se sentou ao lado dela e pegou sua mão com carinho.
— Por que você não fala com a Aurora, filha?
Luna soltou uma risada nervosa. Aquela pergunta...
— Ai, mãe... eu tenho medo — disse, desanimada.
— Filha, você tem que enfrentar esse medo... senão vai continuar sofrendo.—
— Eu já tô sofrendo horrores, mãe. O problema é que ela é minha amiga... e vive dizendo que me considera uma irmã. É por isso que eu tenho medo..medo dela não sentir o mesmo.—
— Pois deveria enfrentar logo esse medo. Sei que não é fácil, filha... Mas mesmo que ela não sinta o mesmo, pelo menos você tira essa dúvida. Vai saber se ela gosta ou não —
disse a mãe, com aquele tom acolhedor de sempre.
— Prometo que vou pensar com carinho, mãe. A senhora sabe que eu te amo muito,né?—
Luna abraçou sua mãe apertado e deu um beijo em sua testa.
— Eu sei, filha... E eu te amo muito mais. Se fosse em outra época, eu até ia pensar que você queria dinheiro! —
falou em tom de brincadeira.
— — Ai, mãe, tenho que ir, já são 18h e eu nem tinha percebido — falou Luna, se levantando e pegando a chave do carro.
— Tá bom, filha. Já que você vai pras garotas, eu vou sair com sua tia.—
— Vão pra onde?—
— Sua tia não me falou... você sabe como a tia Aisha é doida.—
Luna riu com o comentário da mãe.
— Doida é pouco, mãe! Mas eu amo minha tia mesmo assim.—
— Parece uma adolescente, aquela doida.—
— Isso já é genético. Você e ela estão no mesmo nível,mãe.—
A mãe ficou indignada e deu um peteleco na cabeça dela.
— Cadê o respeito, uhu? Ai ai, viu..—
Luna só sabia rir da cara da mãe
— Doeu, mãe! Mas enfim, até mais tarde — disse, dando um beijo na bochecha dela.
— Não vai dormir lá?—
— Acho que não mãe,mas qualquer coisa eu te ligo.—
— Tá bom filha, e toma cuidado no trânsito.—
— Pode deixar, senhora.—
A mãe a levou até a porta, e se despediram com um abraço e um “te amo”.
Luna deu partida no carro, já estava atrasada. Ainda bem que o trânsito não estava tão ruim, e ela levou só uns 20 minutos pra chegar.
Estacionou seu carro na garagem da Alice e percebeu que nenhum dos carros das meninas estava lá — sinal de que elas ainda não tinham chegado. Pela primeira vez, ela não tinha sido a última. Riu dos próprios pensamentos.
Bateu na porta, e nada. O jeito foi gritar
— ALICE, ABRE AQUI, CARNIÇA!—
Nem assim Alice escutou. Então, Luna ligou pra ela, mas desligou assim que atendeu, e começou a bater novamente, agora com mais força.
— TÔ INDO, INFERNO! — gritou do outro lado da porta, e logo abriu com um sorriso.
— Tá com ouvido no cu? Eu, hein — disse Luna, entrando e já se jogando no sofá, abraçando o gato da amiga.
— Ai, eu tava na cozinha! Era impossível te ouvir.
— Isso se chama velhice precoce.
Luna adorava zoar as amigas. A única que ela não zoava era a Aurora.
Alice deu um tapa no ombro da Luna e a empurrou pro lado, pra sentar também.
— Que milagre você chegar primeiro. O que aconteceu?—
— Eu queria era saber o que aconteceu pras meninas se atrasarem, isso sim.—
— A Aurora falou que ia pegar a Anna e depois a Lisa.—
— Mas as casas delas são quase grudadas. Impossível esse atraso.—
Luna fazia carinho no bolinho de pelo, que estava bem aconchegado em seu colo.
— Você promete que não vai contar pra Aurora o que eu vou te dizer?—
Luna olhou sem entender nada.
— Como assim? E por que a Aurora não me contou?—
Pronto. Já estava irritada. Pra quem dizia que eram irmãs, ela deveria ter contado, pensou.
— Bom… é que ela ia contar hoje, mas não sabia qual ia ser sua reação — disse Alice, simples, fazendo carinho também no gatinho.
— Ué? Mas eu não sou irmã dela?? Ela fez merda,né?—
Se levantou, indo até a cozinha pegar um copo d’água. Alice foi atrás.
— Tá vendo? Por isso ela não contou.—
— Conta logo, Alice, eu já tô estressada!—
— Percebe-se, né? Se acalme, jovem.—
— ENTÃO CONTA, INFERNO! Porra, que porrra de inrolacão—
Alice estava se divertindo com a cara da Luna.
— Então… se acalme, viu?—
Foi até perto da amiga, agarrou seus ombros com os dois braços e a encarou.
— Fala logo, Alice! Meu coração tá até acelerado, parece que vai sair do meu peito!—
— Que drama, misericórdia — respondeu com um sorriso no rosto.
Luna se sentia apreensiva, inquieta por dentro. O medo tomava conta do seu peito, e sua mente não parava um segundo. Pensava se Aurora teria feito algo pior… e se tivesse saído com alguém? E se já estivesse até namorando e só não quis contar?
Seu coração apertava com cada hipótese criada na própria cabeça. O maior medo dela era que Aurora tivesse conhecido outra pessoa. Um encontro, um beijo, ou até algo mais sério... Só de imaginar, Luna sentia o estômago revirar.
“Será que ela não me contou pra não me magoar? Ou porque realmente não sente nada e nem se importa em esconder?”, pensava, enquanto olhava pra Alice
A mente estava a mil. Um caos silencioso.
Alice deu continuidade, enquanto se divertia com a cara que Luna fazia.
— Então... é que a Aurora saiu... —
Antes que Alice completasse a frase, a porta se abriu e as três garotas entraram com várias sacolas nas mãos, rindo e falando alto.
Aurora foi a primeira a notar o clima estranho.
— O que tá acontecendo aqui? — perguntou, franzindo o cenho ao perceber o silêncio repentino e a expressão da Luna.
Luna respirou fundo, tentando manter a compostura. Seu coração acelerava, mas ela não queria explodir na frente de todos.
Sem dizer nada, virou as costas e saiu da sala, indo direto pra cozinha.
Deixou todas ali, sem dar uma explicação sequer.
Aurora ficou ali parada, sem entender o que tinha acabado de acontecer, segurando as sacolas, com a expressão confusa e um nó estranho se formando em seu peito.
Para mais, baixe o APP de MangaToon!