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No Metrô do Destino

Prólogo

Evellin,

Se você encontrou este bilhete… é porque, de algum modo, algo em mim ainda acreditava que você precisava saber. Talvez seja tarde. Ou cedo demais. Mas é verdade. Cada palavra aqui é sua.

Você sempre me olhou de um jeito estranho. Intenso. Como se enxergasse algo que nem eu conhecia em mim mesmo. Aquilo me desarmava. Me fazia esquecer o tempo, as estações, o mundo ao redor. No começo, tentei evitar. Mas você insistia em existir mesmo no silêncio.

Foi por isso que te pedi em casamento.

Sim, foi loucura. Eu mal te conhecia. Mas o que se conhece de alguém quando o olhar diz tudo? Você sorriu com os olhos arregalados, como quem duvida e acredita ao mesmo tempo. E, naquele instante, algo mudou.

Desde então, passamos a nos encontrar no meio do caos. Entre rostos apressados e portas que se abriam e se fechavam, você era a única certeza. Criamos um mundo inteiro entre os trilhos. Tínhamos planos, mesmo sem prometer nada.

Mas o tempo… o tempo tem suas maneiras de testar a gente.

Sei que nos últimos dias você mudou. Seu silêncio, que antes era abrigo, virou distância. E, mesmo sem dizer, eu percebi que algo em você já não estava mais aqui.

Eu tentei. Tentei te alcançar no mesmo vagão, no mesmo banco, no mesmo horário. Mas você não estava mais lá. Nem no lugar, nem no olhar.

Talvez você tenha decidido seguir sem olhar pra trás. Talvez estivesse esperando que eu dissesse algo que não tive coragem de dizer. Ou talvez tudo isso seja apenas uma estação entre muitas — e eu precise aprender a descer.

Mas se por acaso esse bilhete encontrar suas mãos…

Saiba que você foi a única pessoa que me fez querer ficar.

Ficar em mim. Ficar no mundo. Ficar com você.

Você mudou tudo.

E mesmo que a cidade siga correndo, que os trens não parem mais no nosso ponto, que as pessoas esqueçam… eu não esqueci.

Ainda te vejo nos reflexos das janelas, nas músicas que você ouvia, nas palavras que nunca chegaram a ser ditas.

Evellin…

Se ainda existir alguma lembrança nossa em você, mesmo que pequena… guarde.

Porque eu estive aqui.

Estive inteiro.

Estive seu.

E mesmo sem promessas, mesmo sem certezas…

Sei que algo entre nós ainda pulsa.

— Vicent

___________________________****_______________________

Olá, estrelas!

Sejam muito bem-vindos ao universo de No Metrô do Destino.

É com o coração cheio de gratidão que compartilho essa história com vocês. Mais do que páginas e capítulos, aqui moram sentimentos, silêncios, encontros e despedidas. Cada palavra foi escrita com a intenção de tocar, de lembrar que até nos lugares mais comuns — como um vagão de metrô — podem nascer os sentimentos mais intensos.

Vicent e Evellin não vivem um amor comum. Eles são feitos de olhares demorados, de mistérios não revelados, de promessas silenciosas. A história deles é construída entre estações, entre a pressa da cidade e a lentidão de um sentimento que insiste em permanecer.

Escrever esta obra tem sido uma viagem emocional, cheia de surpresas e reviravoltas — e ainda está em andamento. Por isso, sua leitura, seu apoio e sua presença aqui significam mais do que palavras podem expressar.

Espero que, de alguma forma, você se veja em alguma linha deste trajeto. Que sinta. Que se permita viajar com eles.

Obrigada por embarcar comigo.

Com carinho,

Sena

O Louco do Metrô

Aquela manhã no metrô foi o começo de tudo. Eu sabia disso antes mesmo de sair correndo.

O ar estava denso, quente, e algo na vibração da cidade me fez sentir que estava prestes a ser engolida. Era o verão, e as pessoas iam e vinham, mas eu mal conseguia me concentrar na multidão ao meu redor. Eu estava... esperando. Esperando por algo que ainda não sabia o que era.

E então ele apareceu.

Ele estava em pé, no meio do vagão, com um terno azul-marinho perfeitamente alinhado e cabelos negros penteados com precisão. Aquele homem parecia ter saído de um filme, só que mais real, mais perto, e com uma aura de mistério que não me deixava parar de olhá-lo. Ele não olhava para mais ninguém. Só para mim.

O que ele queria? Por que só me observava?

A cada segundo que passava, o olhar dele ficava mais intenso, como se me sondasse, como se soubesse algo que eu mesma não sabia. Eu queria desviar os olhos, mas algo dentro de mim me dizia para não fazer isso. Era um jogo, e eu estava sendo desafiada.

Foi então que ele falou. As palavras saíram como um golpe, direto no meio do meu peito.

– Casa comigo.

Eu gelei. O vagão inteiro parecia ter parado. Não era uma proposta. Era uma ordem. E tudo o que consegui fazer foi rir, uma risada nervosa, tentando esconder o pânico que começava a crescer dentro de mim.

Chamei-o de louco. E antes que ele pudesse dar qualquer explicação, o portão do metrô se abriu. Eu não pensei, não hesitei, só corri. Corri sem saber se estava fugindo de um homem ou de algo muito maior que eu não conseguia entender.

Agora, sentada em um banco de parque, esperando por um cliente, ainda sentia o peso daquela proposta, e o mundo ao meu redor parecia mais distante. Eu sabia que, de alguma forma, minha vida nunca mais seria a mesma.

Meu nome é Evellin Johnson. Tenho 28 anos, sou arquiteta, e o que aconteceu no metrô foi só o começo de uma história que estava prestes a virar minha realidade.

Agora, sentada em um banco de parque, esperando por um cliente, ainda sentia o peso daquela proposta, e o mundo ao meu redor parecia mais distante. Eu sabia que, de alguma forma, minha vida nunca mais seria a mesma.

Meu celular tocou, interrompendo meus pensamentos. Era Joyce.

– Evellin? – a voz dela soou preocupada do outro lado da linha. – Amiga, como você está?

– Oi amiga, estou bem. E você?

Aquela pergunta parecia simples, mas eu sabia que Joyce sentia que algo estava errado. Ela tinha esse jeito de perceber quando as coisas não estavam normais, mesmo à distância.

– Eu estava só pensando em você. Estava te esperando para sair hoje à noite, mas, se precisar de tempo, tudo bem – ela disse com um tom mais suave.

– Não, não. Eu só... precisei de um tempo sozinha. Aconteceu uma coisa estranha hoje.

Joyce foi uma das primeiras pessoas com quem fiz amizade quando me mudei para os Estados Unidos. Ela era exatamente o tipo de amiga que todos desejam ter. Bem-sucedida, determinada e com um coração imenso. Trabalhava com marketing digital e, por mais que sua vida fosse agitada, sempre arranjava tempo para estar presente quando eu mais precisava. Ela sabia quando algo estava errado, mesmo sem eu precisar dizer.

Quando ela disse que estava esperando para sair, me senti um pouco melhor. Sabia que, com Joicy, o mundo parecia ser um lugar mais seguro.

Ela e Sendy formavam uma dupla imbatível. Sendy, a nossa amiga aeromoça japonesa, sempre com aquela energia contagiante e histórias de viagens que pareciam impossíveis. Embora fosse um pouco mais distante, por conta das viagens constantes, Sendy sempre estava disposta a ajudar quando era necessário, com uma visão da vida mais pragmática e leve. As duas eram completamente diferentes, mas se complementavam de uma forma única.

– Uma coisa estranha sempre acontece com você, Evellin. O que foi dessa vez?

Eu suspirei antes de começar, tentando organizar as palavras, porque até agora eu ainda não conseguia acreditar no que tinha acontecido.

– Você não vai acreditar, Joyce... Um homem me pediu em casamento hoje. No metrô.

Ela ficou em silêncio por um segundo, até que soltou uma gargalhada, sem nem acreditar.

– O quê? Quem? – ela perguntou, ainda rindo.

Eu dei uma risada nervosa, tentando processar a situação.

– Um louco, psicopata... Sei lá, do nada ele virou para mim e pediu para me casar com ele.

Joyce, ainda rindo, perguntou sem perder o tom brincalhão:

– Amiga, era mendigo?

– Não! – respondi rapidamente, um pouco irritada com a ideia. – Ele estava bem vestido, com um terno impecável, cabelo arrumado, parecia bem de vida. Só que a proposta... foi tão, sei lá... estranha, sabe? Como se ele me conhecesse, como se soubesse de alguma coisa sobre mim.

Joyce parou de rir e ficou mais séria, agora realmente preocupada.

– Ok, isso já está começando a ficar estranho. Mas, sério, você devia ter aceitado, né? Imagina, ele bem de vida... não custa nada arriscar.

– Você está louca, Joyce! – Eu ri, mas era mais nervoso do que qualquer outra coisa. – Ele parecia um lunático! Quem pede casamento a uma pessoa que mal conhece?

Ela deu uma risada e depois fez um silêncio pensando um pouco antes de responder.

– Brincadeira, amiga. Mas, olha, toma cuidado. Do jeito que o mundo está, pode ser um louco de verdade. Não é todo mundo que faz uma proposta assim sem um motivo por trás.

Eu me encolhi um pouco no banco, lembrando o quanto ele tinha me olhado, como se estivesse me estudando. Algo nele me dava arrepios.

– Eu sei, Joyce... Eu sei. Algo estava errado. Não foi só o pedido. Ele me olhou de um jeito tão... perturbador, como se soubesse de algo que eu nem sabia. Como se tivesse me encontrado de propósito, entende?

Joyce pareceu perceber a seriedade na minha voz. Ela ficou quieta por um momento e depois falou com mais calma:

– Evellin, você não pode deixar esse tipo de coisa te afetar. Sei que é assustador, mas é só mais um maluco na cidade. Vamos focar no que realmente importa, amiga. Não deixa essa experiência te tirar o foco.

Eu dei um suspiro fundo. Joyce sempre sabia o que dizer para me acalmar.

– É... você tem razão. Não vou ficar pensando nisso o tempo todo. Mas que foi estranho, foi. Eu ainda não sei o que pensar sobre ele.

Joyce sorriu do outro lado da linha, tentando dar aquele toque de leveza, como só ela sabia fazer.

– Isso mesmo, amiga. Agora, vamos pensar em algo mais divertido. Que tal aquela balada que você queria ir? Esquece o louco do metrô e vamos curtir!

Eu sorri, um pouco mais tranquila, e comecei a me sentir mais leve. Joyce sempre sabia como me colocar de volta nos trilhos, mesmo quando as coisas pareciam um pouco confusas.

- Tem uma nova balada aqui, não fica muito longe do seu apartamento. Podemos ir curtir! – Joyce disse animada do outro lado da linha.

– Parece uma ótima ideia. – Respondi, cruzando as pernas no banco da praça. Olhei o relógio e suspirei. – Meu cliente está atrasado.

– Onde você está?

– Em uma praça…

O dia estava quente, o sol castigava, e eu já havia terminado meu café gelado enquanto esperava. As árvores balançavam com o vento leve, crianças corriam pelo gramado, e um grupo de idosos jogava xadrez em uma mesa de concreto próxima. Tudo parecia normal.

Até que eu olhei para frente.

Meu coração congelou.

Ele estava lá.

O homem do metrô.

O mesmo terno azul impecável, os cabelos penteados para trás, e aquele olhar intenso que parecia atravessar minha alma. Ele caminhava direto na minha direção, sem desviar o olhar.

O pânico me atingiu como um soco no estômago.

Meus instintos gritaram antes que minha razão tivesse tempo de agir. Levantei num pulo e saí correndo.

– O que foi?! – Joyce perguntou, alarmada.

– ELE TÁ AQUI! O HOMEM DO METRÔ! TÁ VINDO NA MINHA DIREÇÃO!

– MEU DEUS! CORRE, AMIGA!

E eu corri.

O problema? Ele também começou a correr atrás de mim.

– EI, SENHORITA, ESPERA!

Eu gritei. As pessoas na praça começaram a olhar. Alguns pararam o que estavam fazendo, crianças interromperam suas brincadeiras, um senhor de idade baixou os óculos para ver melhor.

– ELE TÁ CORRENDO ATRÁS DE MIM!!! – gritei no celular, sentindo o coração martelar no peito.

– SOCORRO! VOCÊ VAI SER SEQUESTRADA! – Joyce entrou em desespero do outro lado da linha.

Eu já imaginava as manchetes: "Arquiteta sequestrada por homem misterioso em praça pública".

Meus pulmões ardiam, meus pés batiam forte no chão de pedra da praça. Eu já estava começando a pensar em um plano de fuga, talvez jogar minha bolsa na cara dele e correr para a delegacia mais próxima...

Foi quando tudo deu errado.

Tropecei no próprio pé e fui direto para o chão. Meu celular voou longe, minha bolsa caiu ao meu lado, e senti o impacto direto nos joelhos.

Antes que eu pudesse reagir, uma mão segurou meu braço.

– Me solta! – gritei, debatendo-me.

– Eu sou Vicent Han! Seu cliente!

Meu cérebro bugou.

Levantei a cabeça devagar. Vicent Han?

Ele me soltou imediatamente, ergueu as mãos como se eu fosse uma bomba prestes a explodir e respirou fundo, tentando recuperar o fôlego.

– Eu sou Vicent Han. O cliente que marcou com você para discutir o projeto de arquitetura.

O mundo parou por um segundo.

O celular vibrou a alguns metros de distância, ainda na ligação.

– AMIGA? VOCÊ TÁ BEM? FAZ ALGUMA COISA SE ELE TE PEGOU! – Joyce gritava desesperada.

Ele caminhou até o celular caído no chão e o pegou.

Meu coração gelou.

Minha mente entrou em alerta máximo. Será que ele ia apagar alguma coisa? Ligar para alguém? Me sequestrar?

Mas, sem dizer uma palavra, ele apenas estendeu o aparelho na minha direção.

Hesitei por um segundo, mas rapidamente o peguei de suas mãos. E então, sem olhar para trás, fiz a única coisa sensata: saí correndo.

Eu precisava me afastar daquele lunático.

Horas depois, minhas amigas chegaram ao meu apartamento para nos prepararmos para a balada. Meu espaço era pequeno, mas aconchegante, decorado com tons neutros e algumas plantas estrategicamente posicionadas para dar vida ao ambiente. O cheiro de baunilha do difusor de aromas tomava conta do ar, misturado com os perfumes que testávamos antes de sair.

Estávamos no meio da troca de roupa, cada uma mexendo em algo diferente. Joyce, sentada no pequeno pufe ao lado da penteadeira, fazia sua maquiagem com a precisão de uma artista. Sendy experimentava diferentes brincos no espelho, enquanto eu ajeitava meu cabelo, ainda pensativa sobre os eventos do dia.

– Sendy, eu fiquei desesperada. – Joyce comentou, passando o batom. – Você precisava ver! Ela gritou, saiu correndo, e eu achei que ela ia ser sequestrada ao vivo!

– Imagino a situação. – Sendy sorriu de canto, pegando uma sombra dourada. – Mas e aí, Evellin, ele era mesmo seu cliente?

Revirei os olhos, cruzando os braços.

– Se ele fosse, teria me esperado na praça. Mas sumiu. Então, claramente, ele não queria meu trabalho.

Joyce arqueou a sobrancelha, me olhando pelo reflexo do espelho.

– Mas ele disse que era seu cliente, né, amiga?

Bufei.

– Aquele cara é um lunático, isso sim!

– Ou um lunático muito rico. – Joyce brincou, piscando.

– Ou só um cara excêntrico que você julgou errado. – Sendy acrescentou, ajeitando o vestido. – Mas, sinceramente? Se ele te perseguiu pela praça, eu também teria corrido.

– Obrigada! – Levantei as mãos, como se finalmente tivesse encontrado alguém sensato.

– Só tem um problema nisso tudo… – Joyce fechou o estojo de maquiagem e virou para mim com um olhar malicioso.

– O quê?

Ela sorriu.

– Ele ainda sabe onde te encontrar.

Arrepios subiram pela minha espinha.

Ótimo. Era só o que me faltava.

O pensamento de que aquele homem sabia onde me encontrar ficou martelando na minha cabeça. Eu tentava ignorar, mas, no fundo, sentia um arrepio incômodo.

– Tá vendo, Joyce? Agora a Evellin ficou paranoica. – Sendy riu, terminando de prender os cabelos.

– Se eu sumir, vocês já sabem quem foi! – resmunguei, colocando os brincos.

– Relaxa, amiga. – Joyce piscou. – Vamos para a balada, dançar até esquecer qualquer homem maluco de terno azul.

– Ótima ideia. – Peguei minha bolsa e respirei fundo.

Balada e Encontros

A música estava boa, e por um momento me permiti esquecer tudo. Mas então, enquanto girava no ritmo da batida, um olhar diferente encontrou o meu.

Dessa vez, não era Vicent.

Era outro homem.

Loiro, alto, vestindo uma camisa polo branca e calça preta bem alinhada. Diferente dos outros caras na pista, ele parecia tranquilo, confiante, sem precisar exagerar nos gestos para chamar atenção.

Ele apenas me olhava com um sorriso discreto, e foi o suficiente para prender minha atenção.

– Quem é esse? – murmurei para Joyce, inclinando a cabeça na direção dele.

Ela deu uma olhada rápida e abriu um sorriso malicioso.

– Maks William. Dono de uma empresa de carros de luxo. Rico, charmoso e solteiro.

– Você conhece ele?

– Conhecer é uma palavra forte. – Ela riu. – Mas já ouvi falar. Ele é daquele tipo que nunca aparece muito na mídia, mas quando aparece…

Antes que eu pudesse perguntar mais, Maks começou a andar em minha direção.

Meu coração acelerou.

Ele parou a poucos passos de mim, segurando um copo de whisky na mão.

– Você dança bem. – A voz dele era firme, mas com um tom suave que fazia parecer que ele falava apenas comigo, mesmo com a música alta.

– Obrigada. – Sorri.

Ele estendeu a mão.

– Maks William.

Toquei sua mão firme e quente.

– Evellin Johnson.

O sorriso dele aumentou.

– Nome bonito.

– É o que dizem. – Cruzei os braços, encarando-o. – Mas me diz, Maks… você sempre observa as pessoas antes de se apresentar?

Ele riu de leve, tomando um gole do whisky.

– Só quando alguém realmente chama minha atenção.

Senti um calor inesperado no rosto.

Antes que pudesse responder, Joyce e Sendy trocaram olhares e me empurraram levemente na direção dele.

– Conversem, nós vamos buscar mais drinks! – Joyce piscou antes de arrastar Sendy para longe.

Traidoras.

Olhei de volta para Maks, que apenas sorriu como se tivesse todo o tempo do mundo.

Talvez aquela noite fosse mais interessante do que eu imaginava.

A música vibrava ao nosso redor, mas minha atenção estava completamente em Maks. Ele tinha uma presença tranquila, mas intensa, o tipo de homem que parecia saber exatamente o que queria.

– Então, Evellin… – Ele apoiou um cotovelo no balcão, observando-me com interesse. – O que uma arquiteta talentosa faz em uma balada como essa?

Sorri de canto, brincando com o canudo do meu drink.

– E o que um empresário faz aqui? Achei que vocês só frequentassem eventos luxuosos e jantares de negócios.

Ele riu.

– De vez em quando, é bom sair da rotina. Mas acho que a verdadeira pergunta é: por que você parece surpresa por estar aqui?

– Talvez porque não fosse exatamente meu plano para hoje. – Suspirei. – Minhas amigas meio que me arrastaram.

Ele assentiu com um meio sorriso.

– Então, devo agradecer a elas por isso.

Senti um leve calor subir ao rosto, mas mantive a compostura. Maks era carismático e sabia exatamente como manter uma conversa interessante.

– Mas e você? – Perguntei, virando um pouco no banco para encará-lo melhor. – Maks William… o nome não me é estranho.

Ele tomou um gole do seu whisky antes de responder.

– Talvez porque minha empresa tenha certa visibilidade.

– Ah, então estamos falando de um homem importante.

– Não diria importante… apenas ocupado.

Sorri.

– E mesmo assim arrumou tempo para vir aqui?

Ele inclinou a cabeça levemente.

– Digamos que hoje eu queria conhecer alguém interessante.

Nossos olhares se encontraram por alguns segundos, e a intensidade daquele momento me fez desviar primeiro. Peguei meu copo e tomei um gole, sentindo a música pulsar ao fundo.

– E então? – Ele perguntou, estendendo a mão. – Me concede uma dança?

Olhei para a pista de dança e depois para sua mão estendida.

Talvez essa noite pudesse ser mais interessante do que eu imaginava.

Peguei sua mão e deixei que ele me conduzisse.

Dançamos até não querer mais. Maks era um homem charmoso e sabia exatamente como envolver uma mulher. Entre risadas e drinks, a noite parecia perfeita, até que o álcool começou a pesar.

– Você já está bem bêbada… – Maks murmurou, segurando minha cintura para me manter em pé.

– Você também não está muito diferente. – Respondi, rindo.

Ele passou a mão pelos cabelos e olhou ao redor.

– Melhor irmos embora. Eu te levo pra casa.

– Você mal consegue ficar em pé, Maks! – Brinquei, apontando para sua postura desequilibrada.

Rimos juntos, até que ele decidiu chamar um carro. Quando o veículo parou na frente da balada, entramos sem pensar duas vezes, ainda rindo sem parar.

– Moço, pode me levar… – Murmurei entre gargalhadas, me jogando contra o banco.

Maks apenas riu, apoiando a cabeça no encosto.

Mas assim que olhei para o retrovisor, meu corpo congelou. O riso morreu na minha garganta.

Era ele.

O homem do metrô.

Meu coração disparou, e num impulso tentei abrir a porta, mas ela não se movia.

– Maks… – Minha voz saiu trêmula, mas ele apenas continuava rindo, sem notar minha tensão.

– O que foi, Evellin? – Ele perguntou, ainda rindo.

Engoli em seco, sentindo um arrepio subir pela minha espinha. Vicent desceu do carro. O álcool ainda fazia minha cabeça girar, mas um pressentimento ruim crescia dentro de mim.

– O que ele tá fazendo? – Maks perguntou, agora um pouco mais lúcido.

Vicent se afastou alguns passos, mantendo-se perto do carro enquanto falava no telefone.

– Maks, eu não tô gostando disso… – Murmurei.

Foi então que ouvi um barulho atrás de mim.

– Evellin?!

Virei rapidamente e vi Joyce e Sendy paradas na entrada da balada. Elas deviam ter saído para tomar um ar e nos encontraram ali por acaso. Mas o que me assustou foi a reação delas ao ver Vicent.

– Meu Deus… – Sendy sussurrou, levando a mão à boca.

– Não pode ser… – Joyce arregalou os olhos.

Minha cabeça girava.

– O que foi? Vocês conhecem ele?

As duas se entreolharam, claramente impactadas. Sendy foi a primeira a falar:

– Evellin… esse é Vicent Han.

Minha mente demorou a processar.

– O quê?

– Vicent Han. – Joyce repetiu, ainda em choque. – O dono de uma rede de hotéis de luxo. Um dos homens mais ricos do mundo.

Meu estômago revirou.

Olhei para Vicent, que ainda falava ao telefone, impassível.

O que ele queria comigo?

A tensão no ar era palpável. Mesmo com a música vindo da balada ao fundo, a cena diante de mim parecia completamente fora de lugar. Enquanto Joyce e Sendy observavam com uma mistura de surpresa e apreensão, Vicent permanecia em silêncio, seu olhar frio e distante, sem dar a mínima para minha presença. O telefone já estava desligado, mas a maneira como ele ainda estava ignorando tudo ao nosso redor parecia mais cruel do que qualquer palavra.

– Evellin, o que está acontecendo? – Joyce perguntou, aproximando-se de mim, ainda atônita.

Eu tentava processar tudo, mas a sensação de estar perdendo o controle de mais uma situação me fazia querer desaparecer naquele instante. O homem do metrô, o mesmo que me pediu em casamento de forma completamente insana, agora estava ali, no meio da rua, em silêncio absoluto, ignorando-me.

Vicent parecia estar completamente focado em algo dentro de sua própria mente. A raiva começou a crescer dentro de mim. Como ele podia me tratar assim depois de tudo o que aconteceu? Depois de eu ter corrido e tentado me afastar dele? Agora ele estava ali, ignorando-me completamente, como se eu fosse uma estranha. Como se eu não tivesse significado algum para ele.

Maks, por outro lado, estava claramente irritado com a situação. Ele observava Vicent com um olhar desafiador.

– O que foi, Vicent? Você não vai falar comigo? – Maks disse, desafiador, levantando uma sobrancelha. – Me trata como se eu fosse invisível? Ou só trata assim as mulheres?

Mas Vicent, como se nada tivesse acontecido, não olhou para ninguém. Ele simplesmente ignorou Maks, virou-se de costas e começou a caminhar em direção à rua, com passos firmes e despreocupados, como se nada ao seu redor fosse importante o suficiente para ele desviar sua atenção.

– Ei, você não vai falar nada? – Maks insistiu, sua voz agora mais agressiva. – Você acha que é melhor que todos nós só porque tem dinheiro? O que você quer de verdade?

Vicent não respondeu. Ele continuou seu caminho sem pressa, como se estivesse acima de tudo e de todos. Seu comportamento era quase arrogante, como se o que acontecia ali não tivesse a menor importância para ele. Ele não parecia se importar com o fato de eu estar ali, nem com o que Maks dizia. Era como se ele estivesse isolado em sua própria bolha, completamente alheio à situação.

– Que tipo de homem é esse? – Joyce sussurrou para Sendy, que parecia igualmente surpresa.

Sendy estava em silêncio, mas seus olhos estavam fixos em Vicent, claramente avaliando a situação. Eu sabia o que elas pensavam, mas eu não estava em condições de lidar com isso naquele momento.

– Isso não faz sentido. – disse Sendy, ainda atônita. – Eu já ouvi falar desse Vicent, mas nunca imaginei que ele fosse esse tipo de pessoa.

Eu sentia meu corpo tremer de raiva e frustração, mas a última coisa que eu queria era me humilhar ainda mais, correndo atrás dele e implorando por uma explicação. Ele não merecia isso.

– Vamos embora. – Falei, tentando manter a calma, embora minha voz tremesse. – Não vale a pena. Ele não vale a pena.

Maks olhou para mim, ainda irritado com a postura de Vicent.

– Então é isso? Ele é desse jeito com todas as mulheres? Sem um pingo de respeito?

A raiva de Maks era visível. Ele estava tentando entender por que Vicent se comportava daquela maneira, mas eu já sabia que isso não importava mais. O que mais me irritava era o fato de que Vicent estava completamente indiferente. Ele não estava nem aí para o que eu ou qualquer outra pessoa sentia. Ele não olhou para mim uma única vez, nem ao menos quando Maks tentou desafiá-lo.

– Ele não vai falar nada, não vai pedir desculpas… nada. – Eu disse, mais para mim mesma do que para qualquer um. – Eu não vou mais me importar com ele.

E assim, com o coração cheio de sentimentos conflitantes, decidi que estava na hora de seguir em frente. O silêncio de Vicent era a resposta que eu precisava. Ele não se importava. E eu não deveria me importar com ele.

O que quer que ele tenha feito naquela noite, ele não tinha mais espaço na minha vida. Eu só não sabia o quanto seria difícil aceitar essa realidade.

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