Meu nome é Alexis. Sou um pequeno lobo de 6 anos. Eu sei que sou um lobo, apesar de não ter encontrado o meu ainda, porque eu vivo em uma alcateia. E porque meu pai e minha mãe também são lobos. E meu pai trabalha para o Alfa. Ele treina os lobos e cuida do exército. E ele vira um lobo muito grande, marrom e forte. E minha mãe também luta junto com meu pai. Ela também vira uma loba, é forte mas um pouco menor que meu pai. E a loba dela é marrom, mas com a barriga branca.
Eu também tenho amigos aqui, e os pais de todos são lobos. A professora é uma loba. Então não tem como eu estar enganado, né? Minha mãe disse que eu vou encontrar com meu lobo quando fizer 16 anos. Até lá, preciso aprender a história do meu povo e treinar para ficar bem forte. Então eu treino muito, sempre com meu pai, no final da tarde. E minha amiga Anna também. Ela é filha do Alfa e irmã do Kaleb que vai ser o próximo alfa.
Ela é minha melhor amiga. Nasci um mês antes dela então meu aniversário de 16 anos vai ser primeiro que o dela. Eu sei que a primeira vez que encontramos um lobo dói, então quero ficar bem forte para ajudar quando for a vez dela.
Eu não lembro quando conheci a Anna. Minha mãe disse que somos amigos de barriga. É que minha mãe, a Vanessa e a Tia Carina, mãe da Anna, sempre foram melhores amigas. Então quando elas ficaram grávidas já sabiam que nós dois seríamos amigos. A Anna virou minha melhor amiga. Nós dois estamos na mesma sala, treinamos juntos, gostamos de desenhar, comer pipoca e temos uma coleção enorme de pedras, que pegamos sempre no comecinho da floresta, depois dos treinos. Nós cavamos bastante para encontrar pedras diferentes. Uma coisa legal é que a Anna não tem medo de insetos, porque sempre encontramos uns bem esquisitos quando estamos cavando. Mas ela nunca foge. Ela até segura uns na mão. Eu acho estranho e não gosto. Às vezes a Anna corre atrás de mim com algum deles. Mas eu sou rápido e sempre consigo fugir.
Essa semana meu pai e minha mãe estão trabalhando mais que o normal. Nossa cidade é escondida no meio da floresta, mas sempre aparecem algumas pessoas de outras espécies. Mês passado meus pais brigaram com uns vampiros que estavam mordendo as pessoas, e nesse mês recebemos a visita de uns bruxos. Mas esses não estavam brigando, só faziam reuniões e mais reuniões. Mas lembro que meu pai estava falando para minha mãe que era muita gente diferente entrando e saindo da cidade, e que era melhor ter mais atenção com as crianças.
Eu contei para a Anna que era bom ter mais cuidado, que meus pais tinham dito. Ela me prometeu que iria seria bem cuidadosa, e o Kaleb prometeu que iria ficar com a gente também. Ele sempre chamava a Anna de pulguinha, e ela chama ele de pulguento.
O pequeno Alexis
Hoje de noite irá ter uma festa. Um baile na sede da nossa alcateia. E meu pai e minha mãe vão me levar. Eles me deram um terno cinza, e eu não gostei muito de usar. Achei que fica apertando e coçando o meu pescoço. Mas meu pai fica muito legal de terno, o dele também é cinza, igual o meu, e minha mãe está parecendo uma princesa com um vestido bem bonito, todo verde. Meu pai chama Alex e minha mãe sempre fala que somos muito parecidos. Ela disse que o jeito também é igual, porque nós dois fazemos bagunça e deixamos nossas meias espalhadas pela casa, e depois ela tem que ficar recolhendo tudo. Meu pai dá risada, e um beijo nela e ela fica calma de novo. Então quando ela quer brigar comigo, eu sempre abraço ela, e ela fica mais boazinha.
Minha mãe passou um perfume do papai em mim, e tentou arrumar meu cabelo. Mas meus cachos são meio malucos e ela não conseguiu deixar tudo arrumado, igual o cabelo do papai.
Quando chegamos na festa, eu logo vi a Anna. Ela também está usando um vestido bonito, mas o dela é cor de rosa. E ela está parecendo um bolo de aniversário com decoração de borboletas. Mas isso não importa, por que estamos brincando e nos divertindo. Já comemos um monte de coisas gostosas que as tias da cozinha trouxeram, e jogamos alguns jogos de tabuleiro, porque o tio Marcos, nosso Alfa e pai da Anna, pediu para termos cuidado e não ficar muito no meio dos adultos, por que são muitas pessoas diferentes e eles estão conversando umas coisas de adultos.
Agora estamos sentados em um sofá bem grande que tem no escritório dele. A tia Carina nos trouxe, ligou a TV e colocou um desenho animado e nos deu uma bacia bem grande de pipocas. A festa estava bem barulhenta, e por causa disso, quando gritamos pedindo mais pipoca, por que tinha acabado, ninguém ouviu no corredor.
Ficamos gritando um tempão mas ninguém veio, o barulho estava muito alto. Então a Anna decidiu que ia buscar mais pipoca na cozinha.
- Mas a gente precisa ficar aqui! Sua mãe mandou\, Anna!
- Eu quero mais pipoca\, Alexis! Eu vou buscar!
- Mas aí vão dar uma bronca em nós dois! Vamos esperar um pouco. Alguém deve chegar logo.
- Alexis\, eu quero pipoca agora! E se alguém brigar\, eu falo que a ideia foi minha! Fica aí\, seu medroso!
Ela saiu correndo atrás de alguém para pegar mais pipoca pra gente, gritando para que alguém ouvisse.
Eu esperei um tempo, mas acabei ficando com muito sono, e não aguentei esperar. Eu dormi.
E essa foi a última vez que eu vi minha melhor amiga, porque quando eu acordei, ela já não estava mais lá.
Alex, o Beta e pai do Alexis.
Vanessa, mãe do Alexis
Marcos, ou Tio Marcos, o Alfa.
Carina, ou tia Carina, esposa do Alfa. Mãe do Kaleb e da Anna.
Kaleb, irmão da Anna, e futuro Alfa.
A pequena Anna.
10 anos depois...
Hoje é meu aniversário. Finalmente completo 16 anos. Vou encontrar meu lobo.
Acordei suado, lembrando de quando fui acordado no escritório do Alfa, enquanto todos estavam desesperados procurando pela Anna. Essa memória me assombra de tempos em tempos. E tem sido cada vez mais frequente.
Me lembro perfeitamente de tudo o que aconteceu. Anna saiu para buscar mais pipoca e demorou muito. Eu fiquei no sofá esperando que ela voltasse, mas acabei dormindo. Não sei precisar quanto tempo havia passado, mas acordei com Tia Carina me chamando, com os olhos cheios de lágrimas, perguntando onde a Anna estava.
Eu contei que ela tinha saído para buscar mais pipoca, e então, Tio Marcos saiu correndo com vários homens, incluindo meu pai e o Kaleb. Minha mãe abraçava a Tia Carina, chorando junto com ela, e só falava: “Vamos encontrá-la, tenha fé na Deusa!”.
Eu entendi naquela hora que minha melhor amiga demorou muito porque tinha acontecido alguma coisa com ela.
- Tia Carina\, me desculpa!
- Não foi culpa sua\, Alexis. Você é uma criança! Não tinha o que fazer.
Ela me abraçou, e eu comecei a chorar.
- Eu vou achar a Anna\, tia! Confia em mim.
E então eu saí correndo. Eu corri em todos os lugares que nós dois procurávamos pedras, treinávamos e estudávamos. Eu gritei o nome da Anna, até ficar rouco. Eu tentei sentir o cheiro dela, mas ainda não tinha o olfato tão apurado. Eu corri a noite inteira, até que minha mãe me encontrou, abraçou e falou “Filho, por favor, não saia mais de perto de mim!”.
Naquela noite eu dormi chorando.
Os dias passaram cada vez mais monótonos. Na escola não tinha mais a minha amiga para fazer trabalhos, estudar e passar cola nas provas. Nos treinos, agora éramos apenas eu e meu pai. Mesmo no final da tarde, quando eu andava pelo começo da floresta, não achei mais nenhuma pedra legal. Na verdade, a coleção perdeu a graça.
E toda a alcateia pareceu perder a graça. Todos se lembravam da princesa perdida, mas evitavam falar sobre ela, porque era muito doloroso. O Alfa e a Luna continuaram seu bom trabalho, mas Tia Carina sempre aparecia abatida. Tio Marcos se afundava no trabalho, sempre mandando grupos de buscas para os mais diversos lugares. Kaleb estudava e treinava com afinco. Em algum momento, ouvi meu pai falando que ele (Kaleb) estava se preparando, pois tinha medo de que o Alfa não aguentasse muito mais. Ele mesmo, sendo um jovem, era visto chorando sozinho algumas vezes.
Eu também chorava.
Essa noite, seria a primeira vez que eu encontraria meu lobo.
Logo de manhã, acordei com meu olfato muito mais forte. Também ouvia ruídos que eu nunca tinha percebido.
Minha mãe preparou um café da manhã reforçado, que me acordou com o cheiro. Assim que eu desci as escadas, meus pais estavam me esperando, com um bolo de aniversário e uma mesa farta.
- Bom dia\, meu guerreiro! – Meu pai me deu um abraço forte\, e segurou em meus ombros – Finalmente\, o dia que você vai encontrar seu lobo! Está preparado?
- Um pouco ansioso.
- Calma\, filho\, vai dar tudo certo. É uma experiência única\, e estaremos lá para você! – Minha mãe me puxou para um abraço e beijou minha bochecha. – Vamos comer! Você precisa estar bem alimentado!
Alexis
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