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O Que Ficou Depois de Nós!

A Criação!

 Era um dia chuvoso. As gotas deslizavam silenciosas pela janela do prédio, enquanto um suspiro, pesado de cansaço, preenchia a sala.

César digitava distraidamente no computador quando sentiu um leve toque em seu braço. Dominique, com movimentos suaves e cuidadosos, afastou-lhe a mão do teclado e se acomodou em seu colo, como quem busca abrigo. Surpreso, mas tomado por uma ternura imediata, César o envolveu com os braços, mesmo que o cansaço pesasse em seu corpo.

— Achei que já estivesse dormindo — disse ele, a voz baixa, quase um sussurro, enquanto seus olhos encontravam os de Dominique.

— Não consegui — murmurou o menor, o olhar carregado de carinho — acabei vindo te ver.

Um sorriso se formou nos lábios de César, calmo, mas cheio de sentimento. Ele voltou os olhos para a tela, ainda com Dominique aninhado em si.

— Trabalhar com você assim vai ser impossível... não vou conseguir me concentrar.

Dominique se aproximou mais, com um brilho atrevido no olhar e um leve sorriso nos lábios.

— Então... se concentra em mim.

César apoiou uma das mãos na mesa, a outra pousou firme nas costas de Dominique. Com um leve impulso, afastou a cadeira giratória de rodas da mesa, fazendo-a deslizar suavemente pelo chão. O movimento foi calmo, mas decidido.

Então, girando levemente a cadeira, César voltou toda sua atenção para o menor em seu colo. Envolveu-o com as duas mãos, segurando-o com carinho, como se o mundo ao redor tivesse deixado de importar. Seus olhos se encontraram por um instante silencioso — profundo, íntimo — antes que ele se inclinasse para beijar Dominique com suavidade.

O menor retribuiu o beijo com ternura, os lábios se encontrando em um gesto lento, carregado de sentimento. César sentiu o coração aquecer e, num movimento natural, ergueu Dominique em seus braços como se fosse a coisa mais preciosa do mundo, afinal, para ele, Dominique realmente era a coisa mais preciosa do mundo.

Com passos firmes, mas cheios de cuidado, seguiu em direção ao quarto, ainda com os corpos entrelaçados por aquele silêncio.

No quarto, o ar era quente, envolto pelo perfume da intimidade recém-compartilhada. As roupas, esquecidas no chão, contavam parte da história. Não havia mais tensão entre seus corpos — só familiaridade, desejo e afeto. Eles se conheciam profundamente, na pele e na alma.

Os lábios de César percorriam o corpo de Dominique como se dançassem, suaves e certos, sabendo exatamente onde tocar, como provocar suspiros. Ele sabia o que fazer, e fazia com amor.

Horas depois, o menor dormia tranquilo, os traços serenos, embalados pelo carinho vivido. César o observou por um momento, depois depositou um beijo delicado em sua testa antes de se levantar. Vestiu um roupão e seguiu até o banheiro. Sob a água quente, deixou o corpo relaxar, satisfeito. Um sorriso discreto surgiu em seus lábios — ele amava aquele tempo, aqueles instantes ao lado de quem preenchia seu mundo.

Ao sair, voltou para a sala, pronto para retomar o trabalho que havia deixado de lado...

Mas isso foi há um tempo...

O tempo passou, e nada — NADA — é como era antes.

Tempos Reais!

— MAS O FILHO É MEEEU TAMBÉM! EU TRABALHEI DURO PRA FAZER ELE! — a voz de César ecoou pelo corredor como um trovão, violenta e crua, atravessando portas, paredes e qualquer resquício de privacidade.

Naquela empresa, naquele prédio onde todos o respeitavam como chefe, agora o viam apenas como um homem à beira do limite. O silêncio que se seguiu foi pesado, cortante. Funcionários se entreolhavam em suas mesas, fingindo não ouvir, mas a tensão já havia tomado conta do ambiente.

Dominique cruzou os braços, o rosto impassível, mas os olhos ardiam em frustração contida.

— Eu não tô dizendo que você não esteve presente, César. Sei o quanto você faz por ele... e por nós. Mas isso não é mais sobre quem paga o quê. É sobre mim. Eu preciso respirar. Preciso sair daqui.

César encarou o chão por um segundo, os ombros rígidos. O grito anterior ainda pairava no ar como uma sombra. Quando voltou a encará-lo, sua voz já não era um trovão, mas um fogo lento, que consumia lentamente a quem lhe fosse direcionado.

— Então você quer ir embora... e me deixar aqui, como se tudo isso não fosse nosso? Como se o que construímos não significasse mais nada?

— Não é isso — Dominique respondeu, a voz embargada, mas firme. — Mas eu tô preso, César. Esse lugar, essa rotina, esse... silêncio entre nós. Você finge que tá tudo bem, mas olha pra gente. Olha de verdade. A gente não é mais os mesmos.

César respirou fundo, os olhos marejando por um segundo — mas ele piscou, engoliu tudo e sustentou o olhar.

— E você acha que fugir vai resolver? Que mudar de cidade vai apagar o que a gente virou?

Dominique hesitou. Não porque não soubesse a resposta — mas porque doía dizê-la em voz alta.

— Eu acho que talvez... mudar seja a única chance de salvar o que sobrou de mim.

O silêncio que se instalou dessa vez foi diferente. Não era cheio de raiva, mas de medo. Medo do que viria a seguir.

Depois da conversa tensa, não havia mais nada a ser discutido. Dominique foi embora... A porta se fechou com um baque seco. Não houve mais gritos. Não houve despedida. Apenas o som da maçaneta voltando ao lugar e o eco abafado dos passos de Dominique se afastando pelo corredor.

César permaneceu ali por alguns segundos, imóvel. O corredor agora vazio parecia mais frio do que antes. Lentamente, ele voltou para seu escritório, onde a luz do monitor ainda piscava sobre a mesa, como se o trabalho que havia sido deixado de lado ainda importasse.

Mas não importava. Não agora.

Ele afundou-se na cadeira, os cotovelos apoiados na mesa, as mãos cobrindo o rosto por alguns segundos. Respirou fundo. O tipo de respiração pesada de quem segura tudo para não desabar.

A sala, silenciosa, parecia grande demais de repente. Grande e vazia. O mesmo espaço onde tantas vezes Dominique havia entrado sorrindo, às vezes com o filho no colo, às vezes só para roubar um beijo ou distraí-lo do trabalho. Agora, o ar parecia estagnado, pesado.

César se levantou e caminhou até a janela. Do alto daquele prédio, via a cidade pulsando lá embaixo — carros, luzes, vida acontecendo. E ainda assim, tudo parecia distante. Irreal.

Ele apoiou a testa no vidro frio e fechou os olhos. Não era só o medo de perder Dominique. Era a sensação de estar perdendo o que havia sobrado dele mesmo também.

Tudo aquilo que eles haviam construído — os planos, a rotina, os sorrisos fáceis do passado — agora pareciam mais uma lembrança boa demais para durar. E ele odiava essa sensação. De impotência. De não saber se ainda havia volta.

Mas acima de tudo... ele odiava o silêncio. Porque o silêncio, naquela noite, gritava.

Mudanças!

César encerrou o expediente mais por exaustão emocional do que por fim de tarefas. A cabeça fervia, mas o corpo apenas queria descanso. Ao chegar em casa, abriu a porta e foi recebido por um silêncio que parecia ter se instalado ali há semanas. Um silêncio diferente. Não o de quem descansa… mas o de quem foi deixado.

Deixou as chaves caírem no sofá, junto com a pasta, o paletó e o que restava da compostura. Foi direto à pequena adega no canto da sala — uma daquelas aquisições de adulto responsável que ele jurou usar só em ocasiões especiais. Bem, hoje era especial: ele estava emocionalmente destroçado. E, honestamente, isso parecia uma boa justificativa.

Puxou uma garrafa de vinho caro, daquelas que vinham com nome francês e preço que fazia chorar antes mesmo de abrir. Pegou um copo — um só, como sempre foi desde que Dominique passou a dormir em outro lugar — e sentou-se numa das cadeiras da cozinha.

O som da rolha saindo foi quase terapêutico. Serviu-se. Bebeu. A cada gole, o peito ficava um pouco mais apertado. Talvez fosse o álcool. Talvez fosse tudo.

Então vieram as lembranças.

Dominique, rindo desajeitado na cozinha, derrubando açúcar no chão enquanto tentava fazer panquecas. O sofá bagunçado depois de noites mal dormidas por causa do bebê. Os dois, exaustos, mas se olhando com um tipo de amor que parecia eterno.

E o primeiro passo do filho deles. Aquele passinho meio tropeçado, meio milagroso. César estava lá. Ele se lembrava do jeito que o coração parecia ter parado, só pra poder guardar aquela imagem.

As lágrimas vieram antes que ele percebesse. Caíram pesadas, silenciosas. E, quando tocaram o chão, parecia que tinham o peso de uma vida. Tinham a delicadeza de uma furadeira ligando direto na alma.

Ele limpou os olhos com a manga da camisa, fungou como quem finge não estar chorando (apesar de estar claramente chorando) e resmungou, meio rindo, meio soluçando:

— Eu devia ter pegado dois copos... um pro vinho, outro pro orgulho que eu perdi.

Do outro lado da cidade, Dominique fechava o zíper da última mala com um suspiro longo, desses que carregam mais do que cansaço — carregam decisões. O quarto estava silencioso, iluminado apenas por uma luz baixa do berçário ao lado, onde o som mais forte era a respiração suave de um bebê profundamente adormecido.

Ele se aproximou devagar, os passos leves, como se o silêncio ali fosse sagrado. Encostou-se ao batente da porta, os braços cruzados, observando o filho dormir. Um pequeno anjo, envolto em cobertas macias e paz. Dominique sorriu, aquele sorriso tímido de quem está machucado, mas ainda assim encontra beleza em algo.

— Você não faz ideia do quanto me segura, sabia? — murmurou baixinho, mais pra si mesmo do que pro bebê.

Sentou-se no chão, encostando as costas na parede, e ficou ali apenas... olhando. Relembrando.

A primeira vez que César o abraçou no meio da madrugada, quando tudo parecia desmoronar e nenhuma palavra foi dita — só o calor de um abraço. As piadas ruins que César contava tentando cozinhar. O jeito como ele segurava o filho com medo de apertar demais, como se estivesse carregando o universo.

Viver com César nunca foi ruim. Na verdade, por muito tempo, foi tudo de bom que ele conhecia.

Mas as coisas boas... ah, como doem quando deixam de caber no presente.

Ele inclinou a cabeça pro lado e sussurrou, com um nó na garganta e uma leve ironia que quase passou despercebida:

— E pensar que eu tô saindo da única casa onde alguém sabia exatamente quantas gotas de açúcar eu gosto no café...

Fechou os olhos por um momento, inspirando fundo. Ele sabia que mudanças eram necessárias. Só não sabia que doíam tanto mesmo quando eram escolhas dele.

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