A noite estava pesada em Seul. O céu, coberto de nuvens escuras, parecia prever a tragédia que estava por vir. Raios cortavam a escuridão como lâminas, e o som dos trovões se misturava ao barulho de tiros que ecoavam pelos arredores da grande mansão da família Kim.
Dentro da casa, o caos tomava conta.
A guerra entre máfias havia finalmente estourado, motivada pela ambição de uma organização rival que queria roubar o controle do império construído pelos Kim — uma das famílias mais temidas do submundo sul-coreano.
Na mansão, a mais nova entre eles chorava em meio ao pânico. SN, com apenas 1 ano de idade, era a caçula dos oito irmãos Kim. Seus olhos ainda não compreendiam o mundo, mas sentiam o desespero.
Seus sete irmãos mais velhos, mesmo ainda muito jovens, já tinham a essência de guerreiros. Eles eram:
Kim Nam-joon (RM) – o primogênito, inteligente e estrategista, com 17 anos. Kim Seok-jin (Jin) – 16 anos, o protetor, com um coração enorme escondido sob uma máscara fria. Min Yoon-gi (Suga) – 15 anos, silencioso, observador, um gênio da guerra desde pequeno. Jung Ho-seok (J-hope) – 14 anos, impulsivo, corajoso e com reflexos quase sobre-humanos. Park Ji-min (Jimin) – 13 anos, destemido e habilidoso, com olhar intenso. Kim Tae-hyung (V) – 12 anos, carismático e enigmático, sempre agindo com o coração. Jeon Jung-kook (Jungkook) – 11 anos, o mais novo dos irmãos homens, mas o mais feroz quando se tratava de proteger a família.
Eles estavam todos ali na noite em que a máfia rival invadiu.
Os pais de SN tentaram proteger os filhos, mas foram brutalmente assassinados. A mansão foi invadida por mercenários armados, prontos para eliminar qualquer rastro da linhagem Kim. Em meio ao tiroteio, gritos e sangue, os irmãos sabiam que lutar seria suicídio. Eles estavam em menor número, mal armados, e tinham SN ali no meio de tudo.
Num ato desesperado, os sete irmãos fingiram estar mortos. Caíram entre os escombros, cobertos pelo sangue dos pais. SN, assustada, caiu do colo da mãe e rolou pelo chão, machucada, mas viva.
Horas depois, o silêncio tomou conta da mansão destruída.
Foi então que um homem apareceu.
Um aliado antigo da família Kim — leal aos seus líderes até o fim — encontrou SN ainda respirando. Frágil. Ferida. Mas viva. Sabendo que ela era o último elo indefeso da linhagem Kim, ele a pegou nos braços e fugiu com ela para longe da Coreia.
O destino? Rússia.
Lá, o homem a entregou ao cuidado do irmão e da cunhada — mafiosos russos que deviam favores à família Kim. Eles criaram SN como se fosse deles, mantendo seu passado em segredo, enquanto seus irmãos verdadeiros, em algum lugar do mundo, também sobreviviam no anonimato.
Eles estavam vivos.
Eles sabiam que SN também poderia estar viva.
E o mundo do crime... ainda não fazia ideia do furacão que estava se formando.
Porque SN Kim não morreu naquela noite.
Ela apenas foi esquecida.
Mas uma alma como a dela não fica em silêncio pra sempre.
O cheiro de sangue ainda pairava no ar quando os últimos tiros silenciaram. A mansão Kim, antes símbolo de poder e respeito, agora não passava de ruínas. O fogo consumia parte do jardim, e a chuva começava a cair, lavando o chão como se o céu também chorasse pela tragédia.
SN, com apenas 1 ano, estava caída no chão frio, coberta por poeira e pequenos cortes. Seus olhos estavam abertos, mas confusos, assustados. O corpo da mãe jazia a poucos passos, sem vida. Ela tentou chorar, mas não tinha mais forças.
Foi quando um homem surgiu nas sombras.
Ele era um velho amigo da família Kim, um leal aliado que servia silenciosamente nas sombras. Quando viu o corpinho pequeno de SN ainda se mexendo, o coração dele quase parou. Sem pensar duas vezes, correu até ela, a envolveu com seu casaco e olhou em volta para garantir que ninguém o via.
— Shhh… eu tô aqui, pequena — sussurrou, com a voz embargada.
Sem fazer barulho, escapou pelos fundos da mansão e levou SN até a casa de um amigo de confiança, alguém que não tinha ligações diretas com a máfia, mas que devia favores à família Kim. Lá, ela foi escondida, alimentada e cuidada às pressas, enquanto a guerra lá fora ainda rugia. Eles sabiam que, se descobrissem que a bebê estava viva, ela também seria caçada.
Enquanto isso, os homens que atacaram a mansão — enviados pela máfia rival — acreditavam que o trabalho estava completo. Com sangue nas mãos, deixaram o local certos de que haviam acabado com todos os Kim.
Mas eles estavam errados.
Dentro da mansão destruída, entre os corpos dos pais e membros da segurança, sete garotos se levantaram.
Sujos, ensanguentados, feridos — mas vivos.
Kim Nam-joon (17) foi o primeiro a se ajoelhar no meio da sala principal, encarando o chão encharcado de sangue. Seu rosto estava rígido, mas seus olhos ardiam de dor.
Atrás dele, seus irmãos vieram um a um.
Seok-jin (16) caiu de joelhos e soltou um grito sufocado.
Yoon-gi (15) mordeu o lábio até sangrar, segurando as lágrimas.
Ho-seok (14) tremia, tentando conter a raiva.
Jimin (13) chorava sem som, o olhar perdido.
Tae-hyung (12) se curvou sobre o corpo da mãe, abraçando-a.
Jung-kook (11) apenas olhava para os lados, procurando a irmã mais nova… sem encontrá-la.
— A SN… onde tá a SN?! — gritou Jungkook, levantando de repente, desesperado.
Todos olharam em volta. A bebê não estava ali. Só o cobertorzinho dela, manchado de sangue, jogado no chão.
O desespero tomou conta. Eles pensaram o pior. Acreditaram que ela também tinha morrido. E naquela noite, no centro do próprio lar destruído, os sete irmãos Kim choraram juntos.
Choraram pela perda dos pais. Pela irmã sumida. Pela infância roubada.
Mas naquele instante, um novo pacto foi selado entre eles.
A partir dali, não seriam mais apenas garotos. Se tornariam monstros se fosse preciso. Irmãos de sangue, forjados na dor.
O mundo ainda não sabia… mas uma nova era estava nascendo.
E a última chama da família Kim ainda ardia — longe, na Rússia, escondida entre inimigos e aliados.
SN ainda vivia.
E um dia… ela voltaria.
A neve caía suavemente sobre Moscou naquela noite. As ruas estavam silenciosas, exceto pelo som abafado dos carros e o eco de passos no concreto gelado. Dentro de um antigo galpão, reformado como centro de treinamento, uma jovem se movia com precisão mortal.
SN Kim.
Fria como o aço que empunhava, determinada como nunca. Seu olhar era intenso, carregado de perguntas que ninguém nunca teve coragem de responder.
Ela parou por um segundo, ofegando, encarando o próprio reflexo em um espelho rachado na parede. O rosto ainda carregava traços delicados, mas os olhos... os olhos estavam diferentes. Cansados. Desconfiados. Perigosos.
— "Por que vocês mentem pra mim?" — sussurrou, como se esperasse uma resposta do vidro.
Atrás dela, a porta se abriu. Era Mikhail, o homem que a criou como filha desde que ela chegou à Rússia, ainda bebê, nos braços de um velho aliado dos Kim.
— SN, já passou da meia-noite. Você precisa descansar.
Ela olhou de volta, com a voz baixa e firme:
— "Me diz a verdade. Quem eu sou?"
Mikhail hesitou. Pela primeira vez, o homem que enfrentava assassinos sem piscar… engoliu seco.
— "Você é SN Romanova. Nossa menina. Nossa filha."
Ela balançou a cabeça, com raiva nos olhos.
— "Mentira."
— "SN..."
— "Eu vejo nos olhos de vocês toda vez que falo do passado. Eu sinto. Tem algo errado. Tem algo que vocês escondem de mim desde o começo."
— "É para sua segurança."
— "Minha segurança ou o conforto de vocês em manter o passado enterrado?"
Silêncio.
Ela andou até uma caixa velha no canto do galpão. Com cuidado, puxou a tampa. Dentro, havia papéis antigos. Documentos, fotos queimadas… e um nome. Um nome escondido em um pedaço de papel amassado:
“Família Kim – Seul”
Seus dedos tremeram. Era a primeira vez que aquele nome aparecia em sua frente.
— "Eu pesquisei. Existe uma máfia na Coreia do Sul com o mesmo sobrenome que aparece nesses papéis."
— "SN..."
— "Não me chama assim se vai continuar mentindo."
Ela encarou Mikhail com os olhos marejados, mas firmes. Pela primeira vez, ele baixou a cabeça.
— "Você… você é a última filha da família Kim. A caçula. Todos pensaram que você tinha morrido naquela noite."
Ela sentiu o mundo girar. Suas pernas falharam por um instante, mas ela se segurou. Não chorou. Não naquele momento. Ela estava além das lágrimas.
— "E meus irmãos…? Eles também morreram?"
Mikhail respirou fundo.
— "Não. Eles estão vivos. E são poderosos. Comandam o império que restou. Mas ninguém nunca soube que você sobreviveu. Ninguém além de nós."
SN ficou em silêncio. O coração batia rápido, mas sua mente já trabalhava em estratégias.
— "Eles me deixaram pra morrer?"
— "Não. Eles pensaram que você morreu. Eles te procuraram por anos, mas nós te escondemos tão bem que nem mesmo seus próprios irmãos conseguiram te encontrar."
Ela fechou os olhos por alguns segundos.
— "Então… está na hora deles saberem que falharam."
Enquanto isso, em Seul…
Na sede da máfia Kim, a noite também era longa.
Namjoon estava reunido com os irmãos em uma sala escura. Mapas, documentos e garrafas de uísque ocupavam a mesa. O clima era pesado.
— "Mais uma pista falsa," disse Yoongi, jogando um papel no chão. "Mais um informante que jurava ter visto ela."
Jimin, sentado ao lado, esfregou o rosto com as mãos.
— "A gente tá caçando um fantasma, hyung. E se ela... e se ela realmente não—"
— "CALA A BOCA!" — gritou Jungkook, levantando de repente.
Todos olharam.
— "Você quer desistir? Beleza. Mas eu não vou. Eu prefiro morrer procurando do que aceitar que a SN não tá viva!"
Jungkook estava descontrolado. Os olhos vermelhos, o punho cerrado. Jin se levantou devagar.
— "Jungkook... a gente sente falta dela tanto quanto você. Mas não é saudável viver nessa obsessão."
— "VOCÊS ESTÃO ERRADOS! Ela tá viva. Eu sinto. Eu sei. Eu ouço a voz dela nos meus sonhos. Eu vejo ela toda vez que fecho os olhos. E o pior... é que eu não consigo lembrar do rosto dela direito."
Silêncio.
Taehyung, sentado no canto, falou pela primeira vez em horas.
— "Talvez... talvez ela esteja esperando a gente."
Jungkook o encarou.
— "Ou talvez… ela esteja vindo."
E ele estava certo.
Naquela mesma noite, SN estava em um avião, olhando pela janela. As luzes da Rússia desaparecendo atrás de si. Em mãos, o colar com símbolo da família Kim que Mikhail finalmente lhe entregou.
Ela apertou o colar.
— "Me esperem. Eu tô voltando. E dessa vez… ninguém vai me impedir de descobrir a verdade."
A neve da Rússia caía com força naquela noite. A mansão silenciosa parecia congelada no tempo. Lá dentro, SN caminhava pelo corredor com passos decididos. Sua cabeça girava com mil pensamentos desde que Mikhail, o homem que a criou, revelou sua verdadeira origem.
Ela entrou na sala de estar, onde ele a esperava, sentado em frente à lareira, com uma caixa de madeira antiga nas mãos.
— “Você disse que ia contar tudo,” — ela disse firme, sem hesitar.
Mikhail olhou para ela com um peso no olhar. Como se carregasse um segredo por décadas. Ele assentiu, abriu a caixa e retirou um pequeno objeto: um pingente antigo, aparentemente comum, mas com uma pedra brilhante no centro.
— “Esse diamante… estava com você quando eu te encontrei. Seus pais colocaram isso no seu pescoço antes do ataque.”
— “É só uma joia?” — SN perguntou, olhando o brilho da pedra.
— “Não,” — ele respondeu, encarando-a com seriedade. — “Esse diamante é o verdadeiro motivo da guerra que destruiu sua família.”
SN congelou.
— “O quê…?”
Mikhail respirou fundo, como se escolher as palavras fosse mais difícil do que enfrentar qualquer inimigo.
— “Dentro dessa pedra preciosa, há um microdispositivo. Um chip. Ele contém códigos de segurança para acessar as contas bancárias da máfia Kim, valores bilionários que estavam escondidos em paraísos fiscais… mas não é só isso.”
Ela o encarava, em silêncio.
— “Também existem arquivos secretos. Dossiês. Identidades falsas, localizações de aliados e inimigos. Informações confidenciais que podem destruir qualquer organização criminosa no mundo. O seu pai… confiou tudo isso a você. Porque você era a última esperança. Ninguém suspeitaria de um bebê.”
SN sentiu o coração acelerar. Ela apertou o pingente no pescoço — sempre achou que era apenas uma lembrança, algo simbólico. Nunca imaginou que carregava o peso do império nas mãos.
— “Então… aquele ataque… não foi só por poder.”
— “Foi pelo que estava com você. Eles queriam esse diamante. Por isso atacaram a sua família. Por isso quase todos morreram.”
— “E meus irmãos…?”
— “Eles sobreviveram. Sete deles. E passaram anos tentando te encontrar.”
Ela fechou os olhos. Lágrimas silenciosas escorreram, mas seu rosto permaneceu firme. Não era tristeza. Era raiva contida. Fúria silenciosa.
— “Eles ainda me procuram?”
— “Não sei. Mas se descobrirem que você está viva… tudo muda.”
SN levantou os olhos, com uma determinação fria.
— “Então que mudem. Eu não vou mais me esconder. Eu vou pra Seul. E vou descobrir tudo. Quem me traiu. Quem me protegeu. Quem me abandonou.”
Mikhail se levantou também.
— “Se você fizer isso… vai estar se jogando no meio da guerra.”
— “A guerra me pariu, Mikhail. Eu sou filha dela.”
Enquanto isso, na mansão da máfia Kim – Seul
Os sete irmãos estavam na sala principal. A tensão era visível. O nome de SN voltava a rondar os corredores, rumores estranhos, sussurros no submundo.
Kim Nam-joon (RM), sempre o mais racional, estava com os braços cruzados. Kim Seok-jin (Jin) se mantinha calado, olhando para o fogo na lareira. Min Yoon-gi (Suga) digitava furiosamente no notebook, tentando rastrear fontes. Jung Ho-seok (J-Hope) caminhava de um lado pro outro, nervoso. Park Ji-min (Jimin) mordia o lábio, claramente abalado. Kim Tae-hyung (V) estava no canto, com o olhar perdido. E Jeon Jung-kook (Jungkook)... fervia.
— “VOCÊS VÃO MESMO CONTINUAR FALANDO COMO SE ELA TIVESSE MORTA?!” — ele gritou, socando a mesa.
Todos olharam.
— “EU SEI QUE SOU A PORRA DA OVELHA NEGRA DESSA FAMÍLIA,” — Jungkook disse, com os olhos marejados — “mas se mais um de vocês abrir a boca pra dizer que a SN tá morta, EU JURO QUE EU VOU PARTIR PRA CIMA!”
— “Jungkook, calma...” — tentou Jin, mas ele não deixou.
— “CALMA NADA, HYUNG! A GENTE É FAMÍLIA OU NÃO É?! Eu não me importo se todo mundo me acha rebelde, problemático, perdido... mas essa garota era nossa irmã! Ela é o que restou do nosso coração. Se a gente desistir dela, então já era. A gente perdeu TUDO.”
O silêncio dominou a sala.
Até que, do nada… o telefone de Yoongi tocou.
Ele atendeu. E o rosto dele mudou completamente.
— “Hyungs... vocês não vão acreditar. Alguém usando o sobrenome Kim… acabou de desembarcar em Seul. Vinda da Rússia.”
Todos se levantaram.
Jungkook apertou os punhos.
— “É ela.”
Namjoon encarou todos os irmãos.
— “Se for mesmo… então a guerra começou de novo.”
A tarde em Seul estava nublada quando o telefone de Kim Nam-joon tocou. O número era conhecido — Detetive Kang.
Namjoon atendeu na hora, a voz séria como sempre.
— “Detetive?”
Do outro lado da linha, a resposta foi direta:
— “Reúna seus irmãos. Preciso de todos vocês aqui no meu escritório agora. Não posso falar por telefone. Mas... é sobre a SN.”
Namjoon gelou por dentro.
— “Estamos indo.”
Minutos depois, os sete irmãos estavam no carro, o clima denso. Ninguém falava nada, mas todos sabiam que algo importante estava por vir.
Ao entrarem no escritório do Detetive Kang, viram sobre a mesa uma pasta grossa, aberta, com várias fotos, arquivos e papéis.
O detetive os cumprimentou com um aceno e apontou pra cadeira.
— “Sentem. O que eu vou mostrar agora muda tudo.”
Ele puxou duas fotos. A primeira... uma imagem antiga. Uma bebê nos braços de um homem ensanguentado — os olhos assustados, mas vivos.
A segunda... uma jovem de expressão firme, cabelos escuros e olhar marcante. Ela aparentava ter uns 16 anos.
— “Essa é a SN. Ontem consegui acesso a um banco de dados russo com imagens de segurança de passaportes falsos... e ela apareceu. Viveu escondida por anos, sob outro nome.”
Os irmãos congelaram.
Jungkook foi o primeiro a pegar a foto da SN mais velha, os olhos arregalados.
— “É ela... Hyung, é ela...”
Jimin levou a mão à boca, segurando as lágrimas.
— “Ela tá viva…”
Yoongi olhou fixamente para o detetive.
— “Você tem certeza disso?”
O detetive assentiu.
— “Absoluta. Ela tem 16 anos agora. Foi registrada como filha adotiva de um casal russo, mas há conexões com um homem que esteve envolvido no ataque ao clã de vocês. Acredito que ele a salvou… e a escondeu.”
Taehyung passou a mão no rosto, tentando processar.
— “Então... ela ficou todos esses anos lá fora... sozinha... achando que a gente morreu?”
Namjoon fechou os olhos por um momento, sentindo a dor subir no peito.
— “Onde ela tá agora?”
O detetive olhou para eles com firmeza.
— “Ela está aqui. Em Seul.”
Um silêncio mortal caiu sobre a sala.
Jungkook se levantou num pulo.
— “Então o que a gente tá esperando?!”
Seok-jin o segurou pelo braço.
— “Calma. Precisamos saber onde ela tá exatamente. Não podemos assustá-la.”
O detetive assentiu.
— “Ela chegou ontem à noite. Está registrada em um hotel no centro. Eu vou rastrear os passos dela... mas vocês precisam estar preparados. Se ela voltar... a guerra também volta.”
Namjoon respirou fundo.
— “A gente não vai falhar dessa vez.”
Os irmãos se entreolharam. Determinados. Unidos. Pela primeira vez em anos, o coração deles bateu no mesmo ritmo: o ritmo da esperança.
E a guerra, que parecia adormecida, estava prestes a recomeçar.
A cidade de Seul vibrava com luzes, sons e movimento. Para a maioria das pessoas, era só mais uma noite comum. Mas para SN, tudo parecia... diferente. Ela andava pelas ruas como se carregasse o peso do mundo nos ombros — e, no fundo, carregava mesmo.
Com os cabelos soltos e óculos escuros, ela tentava parecer invisível. Mas dentro dela, um turbilhão explodia a cada passo.
“Foi aqui que tudo começou. Foi aqui que tudo acabou.”
Ela apertou o pingente que usava no pescoço — o mesmo desde bebê, o diamante. Agora ela sabia o que carregava. E sabia também que, se estava de volta, não havia mais volta.
Entrou num café discreto e sentou-se no fundo, perto da janela. Pediu um chá quente e tirou o celular do bolso. Nenhuma mensagem de Mikhail. Nenhum sinal de que estavam atrás dela.
Ou era isso que ela pensava.
Do outro lado da cidade, os irmãos Kim estavam reunidos em uma sala escura, com mapas abertos, computadores ligados e os olhos fixos nas imagens que o detetive Kang acabara de mandar.
— “Ela tá no centro da cidade,” — disse Yoongi, ampliando a foto dela entrando no café. — “Mas parece nervosa. Ela tá se escondendo.”
— “Ela tá se protegendo,” — corrigiu Jimin. — “Como sempre fez. Desde que a gente perdeu ela.”
Jungkook se levantou, os olhos determinados.
— “Eu vou até lá. Se ela me ver primeiro, talvez não fuja.”
Namjoon cruzou os braços.
— “Não vamos forçar nada. A gente espera o detetive confirmar a segurança do local.”
Jungkook não gostou, mas respirou fundo e assentiu. Só que no fundo, ele já tinha decidido: ele ia até lá. Não aguentava mais esperar.
De volta ao café, SN olhava pela janela. Ela se sentia... observada. O coração batia mais rápido. Um pressentimento? Ou paranoia?
Quando se levantou pra sair, o vento da rua soprou forte. Ela puxou o casaco e atravessou a calçada… mas ao virar a esquina, parou bruscamente.
Do outro lado da rua, um garoto com moletom preto e capuz abaixado... encarava ela. O olhar era intenso. Familiar. Quase doloroso.
Ela não sabia por que, mas o coração dela parou por um segundo.
Era Jungkook.
Ele também travou quando viu ela de perto. O rosto era o mesmo... mas mais maduro. Mais forte. Ela estava linda. Viva. Real.
Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, SN saiu correndo.
— “SN!!” — ele gritou, atravessando a rua atrás dela.
Ela corria como se a vida dependesse daquilo.
E talvez... dependesse mesmo.
A manhã em Seul estava nublada, o céu carregado como se também sentisse o peso daquele dia.
SN saiu do hotel com um capuz jogado sobre a cabeça e os olhos atentos a cada passo. Ela não sabia se estava sendo seguida, mas sentia que não estava mais segura. Algo dentro dela dizia que a hora estava chegando. E que o passado não podia mais ser evitado.
Ela dobrou a esquina de uma rua calma… e parou.
Ali, encostado num carro preto, estava ele.
O homem que a salvou quando bebê. Aquele que mandava cartas, brinquedos e que — mesmo de longe — foi sua única ligação com a verdade.
Os olhos dela se encheram de lágrimas imediatamente.
— “Mikhail…”
Ela correu até ele e o abraçou com força, como uma criança que reencontra o único porto seguro. As palavras saíram atropeladas, entre soluços e a voz embargada.
— “Muito obrigado… por tudo… por me criar, por nunca desistir de mim… por me dar uma vida quando eu não tinha mais nada… eu… eu não sei como te agradecer por todos esses anos…”
As lágrimas escorriam pelo rosto de SN sem parar, mas ela não tentou escondê-las. Ela precisava deixar tudo sair.
Mikhail a abraçou de volta, com o olhar calmo, mas cheio de dor e amor.
— “Você não precisa me agradecer por nada, devochka (garotinha). Foi o destino que me colocou naquele lugar, naquele dia. E foi você… que me deu uma razão pra continuar lutando.”
SN se afastou um pouco, olhando pra ele com os olhos marejados, buscando respostas. Ele respirou fundo e, com a voz grave e pausada, começou a contar o que ela tanto queria saber.
— “Naquela noite... quando os homens da família Kim invadiram a mansão... seu pai, o líder da sua família, sabia que o fim estava próximo. Ele me conhecia, e antes de morrer, me implorou pra tirar os corpos e esconder qualquer prova. Ele queria proteger você.”
SN segurou o pingente no pescoço, instintivamente.
— “Eu e meus homens recolhemos os corpos em silêncio. E no meio do sangue e da destruição… vi algo brilhando. O colar. Era lindo, brilhante... pensei em pegar, mas quando fui encostar... percebi que você ainda respirava.”
Mikhail parou por um segundo, lembrando daquela cena como se tivesse sido ontem.
— “Você tava toda suja de sangue, sua pele gelada... mas viva. Naquele instante, eu soube: não podia deixar você ali. Te levei pra Rússia e pedi pro meu irmão e minha cunhada cuidarem de você como filha. Eu mandava dinheiro, cartas… e… brinquedos.”
Ele sorriu com ternura.
— “Você ainda tem a boneca que eu te dei quando tinha um ano?”
SN sorriu entre lágrimas, e assentiu lentamente.
— “Claro que tenho… ela é a única coisa que ficou comigo por todos esses anos. Ela... tem o cheiro da minha infância.”
Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos. A cidade ao redor parecia parar.
— “Por que você nunca me contou antes?” — ela perguntou, com a voz baixa.
— “Porque ainda era cedo demais. E porque te contar… significava te colocar em perigo. Mas agora… agora eles já sabem que você voltou.”
SN ficou em silêncio, o olhar sério.
— “E meus irmãos…?”
Mikhail assentiu lentamente.
— “Eles estão te procurando. A cidade inteira está diferente desde que você pisou nela. Está na hora, SN. Está na hora de você decidir o que vai fazer com o seu nome. Com o diamante. E com tudo que você carrega.”
Ela limpou as lágrimas.
— “Eu vou terminar o que meu pai começou. Mas primeiro… eu quero olhar nos olhos de cada um dos meus irmãos. E lembrar pra eles quem eu sou.”
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