Eu Nunca Direi que Te Amo !
Episódio 1
Capítulo 1 – Fumaça no Fim do Turno
O cheiro de café queimado ainda grudava na roupa de Akira enquanto ele empurrava a porta dos fundos da cafeteria. O ar lá fora estava úmido, abafado, mas era melhor que o interior cheio de pedidos atrasados e clientes apressados.
Ele se encostou na parede, puxou do bolso o maço amarrotado e acendeu um cigarro com os dedos trêmulos de cansaço. Deu uma tragada longa, sentindo o alívio lento preencher o peito apertado.
A voz era familiar. Mais do que familiar. Quase um eco do passado.
Akira olhou de lado, o cigarro preso entre os lábios, e congelou.
Mais alto do que ele lembrava, com o mesmo cabelo loiro bagunçado, os traços coreanos suavizados por olhos verdes que Akira jamais esqueceria. Estava diferente, sim, mas ao mesmo tempo igual demais. Tempo nenhum muda certas coisas.
O outro sorriu, um sorriso hesitante, como se não soubesse se devia estar ali.
Yukun Shinkai
— Faz tempo, né?
Akira sentiu a garganta secar. O cigarro queimava esquecido entre os dedos.
Cinco anos de silêncio. Cinco anos de ausência. E agora ele estava ali. Como se nada tivesse acontecido
Akira Aikyo
— Você... voltou pro país?
Yukun Shinkai
--Voltei tem umas semanas. Só agora consegui um tempo livre. Muita correria.
Akira apenas assentiu. Queria dizer tanta coisa, mas nenhuma palavra parecia certa.
Yukun olhou para ele com um ar meio nostálgico, meio culpado.
Yukun Shinkai
— Você tá bem?
Akira Aikyo
— Sobrevivendo.
Um silêncio desconfortável se instalou entre os dois, quebrado apenas pelo som de carros distantes e o estalo do cigarro queimando.
Yukun Shinkai
— Eu tô noivo
Yukun disse de repente, como se estivesse tentando preencher o vazio entre eles com alguma notícia leve.
Akira engasgou na fumaça.
Yukun Shinkai
— É... foi meio rápido, mas... tô feliz. Daqui dois dias vou conhecer oficialmente os pais dela. Aquela visita clássica, sabe?
Akira forçou um sorriso. O coração dele parecia ter escorregado garganta abaixo.
Akira Aikyo
— Que bom... espero que dê tudo certo.
Yukun enfiou as mãos nos bolsos.
Yukun Shinkai
— Eu... é bom te ver, Akira. Mesmo.
Akira não respondeu. Apenas tragou mais uma vez e desviou o olhar para a rua vazia.
Quando voltou a encarar o espaço ao lado, Yukun já estava indo embora, caminhando devagar, como alguém que deixou algo para trás.
Akira ficou ali por mais alguns minutos, em silêncio, até o cigarro apagar entre os dedos.
E tudo parecia queimar outra vez.
Episódio 2
Capítulo 2 – Silêncios e Vapor
A porta da frente mal tinha rangido quando um borrão de cabelo escuro veio correndo pelo corredor.
gritou Akemi, pulando nos braços do irmão como se tivesse oito anos de novo.
Akemi Aikyo
— Ai meu Deus, que saudade de você, sabia?! Londres é maravilhosa, mas nada se compara a nossa casa!
Akira, ainda com o uniforme da cafeteria grudando no corpo e o cheiro de café velho nas narinas, ficou parado. Seu braço caiu lentamente nas costas dela, sem energia. A cabeça latejava. O coração também.
Akemi Aikyo
— Você tá com cheiro de cinzeiro, credo!
Akemi fez careta, afastando-se um pouco
Akemi Aikyo
— Eu te falei que esse vício vai te matar, né?
Akemi Aikyo
— Sério, você precisa parar com isso. Você tá bem? Parece pálido. Não tá se alimentando direito, né? Eu trouxe umas barrinhas de cereal de lá, super saudáveis. Você tem que experimentar! E, e... você não vai acreditar, mas eu quase fui parar numa rave underground por engano!
Akemi ria e fala sem parar pra respirar....
Akira caminhou em silêncio até o corredor, sem tirar os tênis, passando por ela como se a energia da casa fosse barulho demais.
Akira Aikyo
— Preciso de um banho
Akemi Aikyo
— Mas eu nem falei da viagem ainda...
Akira Aikyo
— Depois, Akemi
O tom seco dele cortou a sala como um feitiço de silêncio. Akemi o olhou por alguns segundos, com as palavras morrendo na garganta. Então forçou um sorriso, como sempre fazia.
Akemi Aikyo
— Tá... vai lá. Depois a gente conversa.
Akira entrou no banheiro e trancou a porta. Ligou o chuveiro no quente até o vapor cobrir tudo
Deixou a água cair sobre os ombros e, finalmente, cedeu. O peso que ele carregava desde o beco atrás da cafeteria escorreu com a fumaça e o calor.
Yukun tinha voltado. Estava noivo.
E Akira estava... afundando de novo.
Episódio 3
Capítulo 3 – O que ninguém vê
A água quente batia nas costas de Akira como se quisesse arrancar alguma coisa de dentro dele. Os ombros arqueados, os cabelos longos grudando na pele, o corpo tremendo de frio ou raiva, nem ele sabia.
O mundo tinha girado rápido demais. Yukun. Noivo. De alguém.
Deixou o corpo escorregar até sentar no chão frio do boxe. E então, como se o silêncio fosse insuportável, socou a parede com força.
A cerâmica devolveu o som surdo e impiedoso. Os nós dos dedos ardiam, mas a dor era quase um alívio. Pelo menos ali, no meio do vapor, ele podia sentir alguma coisa. Podia desabar sem ninguém ver.
Na cozinha, Akemi mexia o chá com distração. A colher tilintava na xícara, mas seus olhos estavam vidrados na porta fechada do banheiro, dois cômodos à frente.
Akemi Aikyo
— Ele não tá bem....
disse, quase como se admitisse pra si mesma.
Mei, a mãe, cortava legumes com calma, mas não olhou para a filha.
Mei Aikyo
— Seu irmão nunca mais foi o mesmo depois daquele ano. Você sabe disso.
Akemi Aikyo
— Eu sei… mas já se passaram cinco anos, mãe. Ele ainda tá preso naquela dor. E a gente nem sabe o que foi exatamente. Só que ele quebrou por dentro e nunca colou de novo.
Mei Aikyo
— Alguns machucados a gente não vê...
disse Mei, enfim olhando para Akemi com uma expressão cansada.
Mei Aikyo
— Seu irmão sempre foi sensível, mais do que deixava transparecer.
Akemi bufou, cruzando os braços.
Akemi Aikyo
— Sensível, sim. Mas agora ele… ele se sabota, se afasta de todo mundo. Você viu como ele nem quis saber da minha viagem? Ele não era assim. Ele ria. Ele zoava meu sotaque falso de anime. Agora ele só existe.
Mei soltou um suspiro longo.
Mei Aikyo
— Talvez ele precise que alguém segure ele de volta. Mesmo que ele não queira.
Akira estava com a testa encostada nos joelhos, abraçado a si mesmo sob o chuveiro. Os olhos inchados. O peito vazio. Os punhos vermelhos.
Queria gritar. Mas só a água fazia barulho.
Akira Aikyo
“Por que você voltou... justo agora?”
Akira Aikyo
“E por que... você ainda me afeta tanto?”
Ele se levantou com dificuldade, desligou a água e ficou ali, nu, com o coração em frangalhos.
Não sabia se conseguia aguentar ver o Yukun de novo. E, pior ainda, descobrir quem era a noiva que ele ia apresentar.
Algo dentro dele já sabia que a dor estava só começando.
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