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A Dúvida

1

Não sei ao certo o que me levou a olhar para ele naquele momento. Talvez eu estivesse cansado da monotonia que era a minha vida, ou talvez tivesse visto nele uma nova fonte de divertimento.

Ele tinha acabado de ser contratado para meu assistente, a pobre dona Eva tinha acabado de se reformar e ele tinha-me sido indicado pelo meu pai mesmo antes de falecer. Pelos vistos ele era filho de um dos grandes amigos dele, acabado de regressar dos Estados Unidos e precisava de um emprego.

Eu não era a opção mais indicada, até eu conseguia perceber isso, mas aqueles olhos castanhos fizeram-me querer manter aquela pessoa por perto.

- James, estás muito distante...- comentou a minha mãe ao almoço. O nosso restaurante favorito na zona de Chelsea costumava encher á hora de almoço, mas naquele dia nem estando o restaurante a abarrotar de homens atraentes me fez deixar de pensar no Josh.

- Disseste alguma coisa?

- Ora, ora, ora...- ela disse logo inclinando-se mais para perto de mim com um sorriso entusiasmado.- Como se chama o motivo de não me ligares nenhuma?

- Mãe, pára, não estejas a fazer filmes onde não há...

- James, eu sei o filho que tenho e esse teu olhar distante só pode querer dizer que temos alguma nova vítima...

- Falas como se eu fosse um predador qualquer!- resmunguei, muitas vezes aqueles comentários que ela fazia deixavam-me deveras chateado.

- Nada disso meu anjo!- ela apressou-se a dizer quando em vão me tentou abraçar. Olhei para ela sério, eu precisava desesperadamente que ela percebesse que eu estava a falar a sério e que estava na hora dela parar com aqueles comentários, mesmo que fossem a brincar eu sabia que havia ali alguma pontinha de verdade no que ela queria dizer.

O garçon interrompeu o que podia ser o início de uma discussão, eu já o conhecia de outras noites bem passadas. Mal me viu abriu um sorriso e a minha mãe olhou para mim e depois para ele abanando depois a cabeça, sim, mais uma vez ela tinha ficado envergonhada por ter um filho gay mais do que assumido.

- Vão desejar mais alguma coisa? - o garçon perguntou, a pergunta era mais dirigida a mim do que a ela.

- Por agora não, se eu vier a precisar eu aviso.- respondi, talvez mais frio do que o habitual. Isso fez com que ele recuasse um pouco sem mesmo se aperceber, o sorriso desapareceu logo dos lábios dele e passou a um olhar de desilusão.

- Mais uma conquista tua?- a minha mãe voltou ao ataque sem me dar tempo sequer de terminar o meu vinho.

- Mae, este almoço era para passarmos tempo juntos ou para te informares sobre as minhas conquistas?

Ela riu bem alto sem se preocupar com o que os outros clientes no restaurante pudessem pensar sobre ela. Quando parou de rir olhou para mim, procurou na mala dela um lenço e enxugou a lágrima que estava quase a cair de tanto ter rido.

- Pronto, eu paro! Já não se pode vir almoçar com o filho favorito e querer saber da sua parte emocional...- ela terminou a frase com um beicinho dessimulado que me fez rir.

- Estou bem, não te rales comigo. Preciso voltar para a empresa, vai haver uma reunião com o conselho em breve e tenho de ter as contas do último semestre prontas para serem apresentadas.

O olhar dela ficou triste quando voltou a olhar para mim. Eu já sabia que assunto vinha a seguir, por isso antes que ela começasse a falar levantei-me da mesa e despedi-me dela apressado.

- Não sejas como o teu pai e não te mates a trabalhar James...- ela disse-me para despedida. Acenei com a cabeça, não valia a pena falar pela milionésima vez sobre a morte do meu pai quando sabiamos que isso ia levar a mais sofrimento para ambos.

Apressado saí do restaurante, entrei no meu carro e dirigi até a empresa onde Josh estava a organizar as pastas que eu lhe tinha pedido. Quando lá cheguei ele recebeu-me com um sorriso como sempre.

- Foi bom o almoço?- perguntou-me animado e amável como sempre.

- Foi como se estivesse a ser examinado através de uma lupa, mas no geral sim, foi. Já almoçaste?

- Vou agora, estava só a terminar de organizar as pastas, deixei em cima da sua mesa, daqui a pouco estou de volta!

Nao lhe disse mais nada, deixei ele sair, mas mais uma vez dei por mim a pensar em como seria beijar os lábios dele, o pescoço, ideias que tinham de ser só mesmo ideias, o trabalho ia vir sempre primeiro.

2

Josh voltou do almoço em pouco tempo, parecia preocupado com alguma coisa. Andava de um lado para o outro e ao fim de algum tempo veio ao meu gabinete.

- Preciso de sair mais cedo...estou com um problema pessoal em mãos e preciso de o resolver.

- Okay, mas posso ajudar?- perguntei sem querer envolver -me muito ainda no assunto. A minha esperança era que ele não falasse o que se passava,pois ia haver mais conversa e íamos estar e entrar num campo mais pessoal, um campo que sempre tentei não ultrapassar.

- O meu sobrinho está doente, a mãe dele está fora em viagem volta hoje e eu fiquei de tomar conta dele, mas a ama ligou para mim e disse que precisa de sair, por isso tenho de ir para casa para tomar conta dele...

- Os teus pais não podem ajudar?- amaldiçoei-me logo de seguida por ter feito aquela pergunta, ia haver mais um motivo de conversa.

- Não, desde que houve o acidente que mal se falam, o meu pai está sempre ocupado fora do país em cirurgias e a minha mãe em festas, duvido que algum deles quisesse tomar conta da criança.

- Que idade tem ele?- se eu batesse em mim mesmo à frente dele ele ia achar estranho?

- Tem nove. Senhor, eu preciso mesmo de ir...- ele disse aflito quase aos pulinhos de ansiedade. Fiz sinal para ele ir. Se eu voltasse a abrir a boca podia ser mais motivo de conversa e eu não queria isso.

Eu sempre tinha pensado que apenas a minha vida tinha sido afetada pelo acidente em que o meu pai tinha falecido, mas na realidade haviam outras pessoas que também tinham sofrido e eu estava constantemente a esquecer isso. Abri a minha gaveta da secretária e tirei de lá uma moldura onde tinha a ultima foto que eu tinha tirado com o meu pai antes dele morrer: era o jantar de celebração da formatura do Josh, ele tinha acabado de regressar dos Estados Unidos e nesse dia eu ia assumir também o cargo de CEO da empresa. O meu pai tinha decidido finalmente que estava na hora de se reformar e eu ia ficar á frente dos negócios da família.

No final do jantar fomos todos para a nossa mansão, mas ele e o pai do Josh decidiram que queriam ir buscar mais vinho, eles foram no carro do meu pai e foi assim que horas depois de espera e de intermináveis tentativas de contacto descobrimos que tinha havido um acidente...

Atirei com a moldura para dentro da gaveta e fechei novamente, não era por olhar para a foto que o meu pai ia regressar a vida!

Terminei o meu trabalho e fui para casa, pelo caminho devo ter olhado para o telemóvel várias vezes na esperança de ver uma mensagem do Josh, mas nada, não havia nada e eu também não lhe queria ligar, era a vida dele pessoal.

Cheguei a casa, fui direito a casa de banho, um bom banho de água fria ia ajudar a tirar aquelas ideias idiotas da minha cabeça. Ele era meu funcionário, filho do melhor amigo do meu pai, tudo motivos para manter tudo a nível profissional, mas confesso que essas ideologias desapareceram da minha cabeça durante alguns momentos quando ele instantes depois apareceu na minha porta.

Com um amavel sorriso que me fazia tremer as pernas, e uma garrafa de vinho tinto, foi assim que ele apareceu á minha porta e eu que ainda nem tinha acabado de me vestir...Era karma? Forças de atração? O que raio se estava a passar que quanto mais eu fugia dele mais ele se aproximava?!

- Que se passa?- falei mal dei de caras com ele.

- Passei para agradecer ter-me deixado sair mais cedo,  a minha irmã veio de viagem, ela sabe que eu sou um desastre com crianças e não me quis dar mais trabalho, por isso vim agradecer. Vi esta garrafa de vinho, lembrei-me que gosta desta safra...

Olhei para a garrafa, sim, ele sabia que eu gostava pois já me tinha visto pedir aquele vinho no restaurante onde eu tinha almoçado com a minha mãe, mas ele não sabia era que eu pedia aquele vinho sempre ao mesmo garcon, o tipo que eu andava a comer nas minhas horas mais entediosas. Não pude deixar de sentir uma certa pena dele por não saber o significado daquele vinho, mas agradeci na mesma quando sorri para ele.

- Amanha já vais trabalhar?

- Sim, lá estarei!- ele sorriu para mim entusiasmado. Caramba homem, não sorrias assim para mim que fico logo arrepiado! Foi logo o que me apeteceu dizer-lhe, segurei -me apenas, mas havia partes do meu corpo que se estavam a manifestar e eu não podia continuar ali muito mais tempo com aquela conversa. No entanto, eu estava frustrado, havia ali uma pergunta que me fazia querer falar. Como é que ele me estava ali a ver de calças de fato de treino e tronco nu e não me dizia nada?! Ele era cego? Ou isso ou não gostava de homens, sim, era essa a melhor explicação, mas eu conhecia vários tipos hétero que depois de uma noite passada comigo tinham mudado de equipa, mas este não, o Josh não podia ser metido nesse lote, por isso suspirei e agradeci mais uma vez o vinho, mas ao fechar a porta reparei que ele estava a olhar para o meu corpo. Foi de relance, mas eu juro que percebi que ele passou os olhos dele pelo meu tronco e mordeu o lábio de baixo...eu estava a ficar maluco?!

3

Debaixo do chuveiro pela segunda vez... era um banho de água fria, eu precisava mesmo de acalmar e esquecer aquela ideia parva, mas eu não era maluco... ele tinha mesmo olhado, não tinha?Raios! Eu não podia perguntar-lhe diretamente! Eu queria aprofundar mais aquele assunto???Eu queria, eu precisava de tirar as minhas dúvidas e aí eu podia seguir em frente.

Saí do banho e vesti a minha roupa mais simples, fato e gravata não era de todo o que eu queria ao final de um dia de trabalho fechado num escritório onde nem o sol quase se via, fato de treino e tênis, sim, essa era a minha melhor escolha, saí de casa acelerado, eu queria chegar ao restaurante antes que ele fechasse, liguei varias vezes ao garçon mas ele não me estava a atender as chamadas, estaria ocupado?

Cheguei mesmo a tempo de o ver na conversa animado com uma das funcionárias, estavam a acabar de empilhar as últimas cadeiras da esplanada quando ele me viu e fez um ar desinteressado.

- A fazer-se de difícil?- falei baixo antes de tomar a decisão de sair do meu carro. Ele era apenas o substituto para o Josh, mas ele não sabia, ele ia apenas ajudar a acalmar o meu desejo por algo que eu não podia ter. Saí do meu Porsche laranja e encostei-me a ele de braços cruzados á espera que ele acabasse o que estava a fazer, os patrões já não estavam, a funcionária despediu-se dele e eu mal a vi virar a esquina entrei atrás dele para dentro do restaurante.

- Estamos fechados.- ele disse num tom amuado de braços cruzados. Eu tinha pouca paciência para aquele tipo de jogos. Aproximei-me dele e agarrei-o pela cintura, quando o beijei com a fome que eu tinha pelo Josh ele derreteu praticamente nos meus braços.

- Fecha a porta...- falei baixo no ouvido dele e vi ele a derreter ali mesmo, a birra passou-lhe na hora e ele correu para fechar a porta enquanto isso eu despi a minha camisola e esperei por ele junto ao balcão.

- Estás com pressa hoje...- ele disse com um sorriso provocador. Sim, eu estava e ele nem sabia porquê, ele nem fazia a mais pequena ideia que estava a ser usado.

- Anda...- disse-lhe e voltei a puxá-lo para mim para o beijar, passei a mão na nuca dele, puxei os cabelos dele enquanto passava a língua no pescoço dele, ele ainda lutava com a farda para tirar as calças. Virei-o de costas para mim e encostei-o ao balcão, ele apoiou as mãos no balcão e quando entrei nele não pude deixar de pensar no Josh. Era ele que eu queria estar a comer naquele momento.

- Mais...- ele gemia e pedia por mais e eu aumentei tanto a força como a velocidade com que entrava e saía dele, sim, eu ia terminar depressa se continuasse assim, mas aquilo era uma coisa que eu estava a fazer sem sentimentos nenhuns envolvidos pelo meio. Com um gemido dele e meu eu terminei, fiquei apoiado nas costas dele ainda durante alguns minutos com o coração aos pulos quase a querer sair-me do peito. Ele puxou as calças para cima e voltou-se para mim com a testa a pingar suor.

- Pensei que não querias mais nada comigo depois do almoço de hoje...

- Era a minha mãe, eu não podia dizer que te andava a comer, não gosto que se metam na minha vida.

- Parecia simpática...- ele respondeu quando deu a volta ao balcão para se servir de uma bebida. - Queres?

- Não, preciso de ir embora tenho de me levantar cedo amanhã...

Vi no olhar dele a esperança a esfumar-se.

- Tu sabes que isto é apenas sexo, não sabes?- perguntei-lhe, ele acenou com a cabeça, mas eu sabia que o estava a magoar. Caramba, porque é que tinha de ser sempre assim?

- Tens o meu número, já sabes, quando quiseres estou aqui...- ele disse depois de terminar a bebida. Percebi nessa altura que nem o nome dele sabia...

- Okay, mas não ate apegues a mim, sabes que eu não te posso dar mais do que isto...

Não esperei que ele me respondesse, voltei costas e saí dali a mais depressa possível com a certeza que não voltaria ali tao cedo, só se não tivesse outra opção.

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