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Entre Magia e Realeza

Capítulo 1- O Herdeiro e o Mago

Capítulo 1 – O Herdeiro e o Mago

O céu estava tingido de vermelho quando Ardan ergueu sua espada, o coração pulsando forte contra o peito. O cheiro de ferro e cinzas impregnava o ar, e os gritos da batalha ecoavam como um lamento pelos campos devastados. O vento carregava consigo o cheiro metálico do sangue, misturado à fumaça das fogueiras que ainda ardiam entre os destroços das tendas e das casas destruídas.

O príncipe sentia o peso da armadura sobre seu corpo, o suor escorrendo por sua nuca, misturando-se à sujeira e ao sangue seco em sua pele. Desde que fora treinado para a guerra, desde que segurou uma espada pela primeira vez, soube que seu destino era lutar. Ele era o herdeiro do trono humano, o filho do rei Cedric, e o futuro da coroa dependia dele.

E os magos eram seus inimigos.

Essa sempre fora a verdade que lhe ensinaram. Os magos eram perigosos, traiçoeiros, portadores de uma força que não deveria existir no mundo. Seu próprio avô havia sido assassinado por um mago, e desde então, a coroa decretou que toda feitiçaria deveria ser erradicada. A guerra entre humanos e magos não era apenas uma disputa por poder; era uma questão de sobrevivência.

Ele acreditava nisso. Sempre acreditou.

Mas naquela noite, algo mudou.

No centro do campo de batalha devastado, cercado por soldados humanos, estava o mago responsável pelo terror daquela guerra: Kael, o Feiticeiro Sombrio.

Seu nome era sussurrado com temor entre os guerreiros do reino. Diziam que ele podia destruir exércitos inteiros com um simples gesto, que sua presença era um presságio de morte. Ele era o maior inimigo da coroa.

E, no entanto, ali estava ele – derrotado, ajoelhado no chão, preso por correntes encantadas que enfraqueciam sua magia. Seu cabelo negro caía desordenado sobre o rosto, os fios grudados pela poeira e pelo sangue. A túnica escura estava rasgada, expondo ferimentos profundos ao longo de seus braços e peito. Mas, mesmo ferido e capturado, Kael não parecia aterrorizado. Seus olhos prateados refletiam algo muito diferente de medo.

Desafio.

Havia uma arrogância fria em sua postura, como se zombasse de todos ali, como se soubesse de algo que os outros não sabiam.

— Então é você — Kael murmurou, sua voz rouca cortando o silêncio. — O príncipe herdeiro.

Ardan franziu a testa.

— E você é o Feiticeiro Sombrio.

Kael riu, uma risada baixa, quase debochada, apesar da dor evidente em seu rosto.

— Assim me chamam, não é? — Ele ergueu a cabeça lentamente, seu olhar fixo em Ardan. — E o que pretende fazer comigo, príncipe? Me matar aqui mesmo? Ou prefere me arrastar como um troféu para seu rei?

Os soldados que cercavam o mago se agitaram, alguns segurando suas armas com mais força, prontos para agir caso fosse necessário.

— Você deveria tê-lo matado assim que o encontramos — murmurou um dos soldados ao lado de Ardan. — Ele já fez muitas vítimas, meu senhor. Deixe-me acabar com isso agora.

Ardan não respondeu de imediato.

Ele sabia o que deveria fazer. A resposta lógica era simples: dar a ordem e acabar com a vida do mago ali mesmo. Seu pai ficaria satisfeito, seus homens o aclamariam, e um dos maiores inimigos do reino finalmente seria eliminado.

Mas algo o impedia.

Seus olhos permaneceram fixos nos de Kael. O ódio estava ali, mas também algo mais. Algo que Ardan não conseguia nomear.

Ele não sabia o que era pior: a raiva que queimava dentro dele ou a dúvida inesperada que começava a surgir.

— Você realmente acredita que somos os monstros? — Kael quebrou o silêncio, sua voz mais baixa, mas intensa. — Que foi meu povo quem começou essa guerra?

Ardan apertou os punhos.

— Magos sempre foram uma ameaça ao nosso reino. O que fizemos foi apenas nos defender.

— Se defender? — Kael soltou uma risada amarga. — Foi isso que disseram a você? Que foram os magos que trouxeram a guerra?

Ardan não respondeu. Ele sabia das histórias. Já ouvira rumores de que a guerra não começou por causa dos magos, mas sim porque a coroa os perseguiu primeiro. Os humanos os caçaram, os expulsaram de suas terras, queimaram vilarejos inteiros.

Mas ele nunca se importou.

Até agora.

Kael percebeu sua hesitação. Um brilho diferente cruzou seu olhar.

— Talvez o verdadeiro monstro não seja quem você pensa, príncipe.

Ardan sentiu a raiva crescer dentro de si. Ele não queria ouvir aquilo. Não queria duvidar.

— Cale-se! — ele rosnou, dando um passo à frente, a lâmina da espada apontada para o peito de Kael.

Mas o mago não recuou.

Mesmo com a lâmina tão próxima, ele manteve o olhar fixo no príncipe, desafiador.

— Me mate, então — Kael sussurrou. — Vamos, termine o que começou.

O ar ficou pesado. Todos os soldados ao redor prenderam a respiração, esperando a ordem de Ardan.

Mas ela nunca veio.

O príncipe não conseguiu se mover. Algo dentro dele gritava que aquilo estava errado.

Finalmente, ele abaixou a espada.

— Levem-no ao castelo — ordenou, surpreendendo até a si mesmo.

Os soldados trocaram olhares confusos, mas nenhum ousou questionar. Apenas obedeceram, acorrentando Kael ainda mais e o conduzindo pelo campo de batalha.

Ardan ficou para trás por um momento, observando enquanto o mago era arrastado.

Ele deveria sentir satisfação. Deveria sentir alívio.

Mas tudo que sentia era um estranho aperto no peito.

Algo dentro dele dizia que aquele encontro mudaria tudo.

E ele não poderia estar mais certo.

Capítulo 2- Sombras no campo de Batalha

Capítulo 2 – Sombras no Campo de Batalha

O caminho de volta para o castelo foi silencioso. O único som que preenchia a noite era o estalar das botas sobre a terra manchada de sangue e o tilintar das correntes que prendiam Kael. O mago caminhava entre os soldados, sua postura rígida, mas sem demonstrar resistência.

Ardan o observava de tempos em tempos, tentando entender por que ainda estava hesitando. Ele deveria estar satisfeito. Kael era o inimigo mais perigoso dos humanos, e agora estava derrotado. Seu pai veria isso como uma grande vitória.

Então por que ele sentia que algo estava prestes a dar errado?

Quando chegaram ao acampamento militar montado temporariamente nos arredores da floresta, os soldados se dispersaram para descansar. Os curandeiros corriam entre os feridos, enquanto patrulhas eram organizadas para garantir que nenhum mago rebelde tentasse resgatar Kael.

Ardan ordenou que Kael fosse acorrentado a um dos postes centrais da tenda de confinamento. O mago foi empurrado para o chão com brutalidade, e um dos guardas lhe deu um chute no estômago antes de se afastar.

— Cuidado com ele, meu príncipe — um dos soldados alertou. — Esse desgraçado já matou muitos dos nossos. Ele não merece sua piedade.

Ardan apenas assentiu, mas não respondeu. Ele se virou e saiu da tenda, sentindo o olhar de Kael cravado em suas costas.

A noite avançava lentamente, e Ardan se retirou para sua própria barraca, mas não conseguiu dormir. Algo o inquietava.

A guerra sempre o acompanhou como uma sombra, mas nunca hesitou em suas decisões antes. Ele sempre soube o que era certo e o que era errado. Os magos eram inimigos. Ele era o príncipe herdeiro. Sua missão era protegê-los.

Então por que aquela captura não parecia uma vitória?

Depois de um tempo, sem conseguir encontrar descanso, Ardan se levantou e saiu para o ar frio da madrugada. A lua iluminava fracamente o acampamento, projetando sombras longas e distorcidas no chão. O silêncio era quase absoluto, interrompido apenas pelo som distante de cavalos e o murmúrio das tochas crepitando.

Ele não planejava ir até Kael. Mas seus pés o levaram até lá mesmo assim.

Ao entrar na tenda, encontrou o mago exatamente como o havia deixado: acorrentado, imóvel, os olhos semicerrados. Mas ao perceber sua presença, Kael abriu os olhos completamente.

— Então você voltou — ele murmurou, sua voz rouca, mas carregada de ironia. — Não conseguiu dormir, príncipe?

Ardan cruzou os braços, mantendo sua expressão neutra.

— Eu queria algumas respostas.

Kael arqueou uma sobrancelha.

— Respostas? Interessante. Nunca pensei que um príncipe herdeiro questionasse suas próprias verdades.

Ardan ignorou o tom provocativo.

— Você sempre foi tratado como o maior inimigo do reino. Você já matou muitos dos meus soldados. Por que não se rendeu antes?

Kael soltou uma risada baixa.

— Você realmente acha que a rendição era uma opção? Seu povo nunca nos deu escolha. Meu povo não luta por ambição. Lutamos para sobreviver.

Ardan franziu o cenho.

— Se seu povo quisesse paz, poderia ter tentado negociar.

O mago o encarou por um longo momento antes de falar, e quando o fez, sua voz carregava uma exaustão profunda.

— Quando foi que um rei humano ouviu um mago sem antes condená-lo à fogueira?

A pergunta pairou no ar como um trovão silencioso.

Ardan abriu a boca para retrucar, mas parou. Ele sabia a resposta. Nunca.

Seu próprio pai ordenou execuções de magos antes mesmo da guerra começar. Seu avô iniciou as perseguições. Eles nunca tentaram ouvir o outro lado.

— Seu silêncio diz tudo, príncipe. — Kael inclinou a cabeça levemente. — Agora me diga... ainda acredita que somos as verdadeiras ameaças?

Ardan apertou os punhos.

Tudo que ele sabia começava a se despedaçar.

Antes que pudesse responder, um estrondo do lado de fora da tenda quebrou o silêncio. Gritos ecoaram pelo acampamento. O chão tremeu levemente, e Ardan sacou sua espada instintivamente.

Kael olhou para cima, sua expressão tornando-se séria.

— Parece que seus soldados estão prestes a descobrir que prender um mago não é o fim da guerra.

Ardan se virou e saiu apressado, seu coração martelando no peito.

Do lado de fora, sombras se moviam entre as árvores. Não era apenas o reflexo da lua. Algo estava errado.

Ele correu para a direção dos gritos, e o que viu fez seu sangue gelar.

O campo de batalha não havia acabado.

As sombras estavam vivas.

Capítulo 3- O Ódio que Nos Une

Capítulo 3 – O Ódio que Nos Une

O acampamento estava mergulhado no caos.

Ardan segurou a espada com força enquanto observava as sombras se movendo entre as árvores, contorcendo-se como serpentes na escuridão. Os soldados corriam em todas as direções, alguns empunhando tochas, outros tentando se defender de algo que não conseguiam enxergar completamente.

— Fiquem juntos! — gritou um dos comandantes. — Protejam o príncipe!

Mas Ardan não precisava de proteção. Ele era um guerreiro treinado, criado para a batalha. E mesmo que seu coração estivesse inquieto desde a captura de Kael, ele não podia se dar ao luxo de hesitar agora.

Ele avançou entre os soldados, os olhos atentos a qualquer ameaça. Foi então que viu.

Não eram apenas sombras. Eram magos.

Havia pelo menos cinco deles, encapuzados, ocultos pela penumbra da noite. Suas mãos brilhavam com a energia da magia, e o ar ao redor tremulava com a força que emanavam.

— Vieram resgatá-lo. — Ardan apertou a mandíbula. Ele deveria ter previsto isso.

Um dos magos ergueu as mãos, murmurando palavras em uma língua antiga. Antes que Ardan pudesse reagir, um de seus soldados gritou e foi arremessado para trás por uma explosão invisível. Outro foi envolto em tentáculos de sombra e arrastado para longe, desaparecendo em meio à escuridão.

A magia deles era poderosa. Demais.

Ardan girou a espada e atacou o primeiro mago que encontrou, um golpe certeiro mirando o peito do inimigo. Mas antes que a lâmina pudesse atingi-lo, uma barreira de energia surgiu no ar, repelindo seu ataque como se fosse nada.

— Maldição... — Ele recuou, buscando uma nova estratégia.

Os soldados ao seu redor estavam sendo dominados. Gritos de dor se misturavam ao som de feitiços sendo conjurados. O príncipe sabia que, se não fizesse algo logo, o acampamento inteiro cairia.

E então ele pensou em Kael.

Se havia alguém ali capaz de enfrentar esses magos, era ele.

Sem perder tempo, Ardan correu de volta para a tenda onde Kael estava aprisionado. Ao entrar, encontrou o mago sentado no mesmo lugar, encostado no poste de madeira, observando a cena do lado de fora com uma expressão impassível.

— Seu povo veio buscá-lo. — Ardan apontou para a destruição além da tenda. — Faça-os parar.

Kael ergueu uma sobrancelha.

— Por que eu faria isso?

Ardan cerrou os dentes.

— Porque se continuar assim, haverá mais mortes. Humanos e magos. E, acredite, meu exército não vai parar de lutar.

Kael suspirou, olhando para as correntes que o prendiam.

— Interessante. O príncipe herdeiro, pedindo ajuda ao inimigo.

Ardan não tinha tempo para joguinhos.

— Você quer que seu povo morra aqui? Se for libertado, pode evitar mais sangue.

O mago inclinou a cabeça, analisando o príncipe. Então, como se chegasse a uma decisão, ele abriu um pequeno sorriso.

— Tire essas correntes e veremos o que posso fazer.

Ardan hesitou por um segundo. Libertá-lo era um risco imenso. Mas se Kael realmente quisesse matá-los, já teria feito isso há muito tempo.

Ele não tinha escolha.

Com um golpe rápido da espada, ele quebrou as correntes mágicas. Assim que o último elo caiu no chão, Kael se levantou lentamente, esticando os braços. A energia ao seu redor mudou instantaneamente. O ar ficou pesado. A magia que estava selada agora fluía livremente novamente.

Ardan segurou o cabo da espada, preparado para qualquer traição.

Mas Kael apenas sorriu de lado.

— Hora de acabar com isso.

O mago saiu da tenda e, assim que pisou no campo de batalha, levantou uma das mãos. Sua presença fez as sombras ao redor tremerem, como se o reconhecessem.

Os magos inimigos pararam de atacar por um momento, confusos ao vê-lo solto.

— Parem. — Kael ordenou, sua voz ressoando com um poder que fez até mesmo Ardan estremecer.

Os magos hesitaram, mas um deles, o que parecia ser o líder do grupo, deu um passo à frente.

— Kael! Você não precisa ouvir esse príncipe humano! Viemos para resgatá-lo!

Kael soltou uma risada baixa.

— E, no processo, mataram vários dos nossos? Que tipo de "resgate" é esse?

O mago se calou, incapaz de responder.

Kael suspirou e ergueu a mão novamente. O ar ao redor dele pareceu vibrar, e então, num único movimento, ele esmagou as sombras que os atacavam.

A magia negra que antes assolava o campo de batalha se dissipou como fumaça ao vento. O silêncio caiu sobre o acampamento.

Os magos entenderam. Kael estava ordenando que recuassem.

Após um momento tenso, um a um, os inimigos desapareceram entre as árvores.

A batalha havia terminado.

Ardan olhou para Kael, ainda segurando sua espada.

— Por que fez isso?

O mago se virou para ele, seus olhos brilhando na escuridão.

— Porque, goste você ou não, nós dois queremos a mesma coisa.

Ardan franziu o cenho.

— E o que seria?

Kael sorriu de forma enigmática.

— O fim dessa guerra.

O príncipe sentiu um arrepio percorrer sua espinha.

O ódio entre eles ainda existia. Mas talvez... fosse exatamente esse ódio que os unisse.

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