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O Coração da Dama Sombria

O encontro nas Sombras

No reino de Altharion, onde as noites eram longas e os ventos carregavam o cheiro de mistério, existia uma lenda que todas as crianças ouviam em seus primeiros anos: a história da Dama Sombria. Diziam que ela morava nas terras proibidas, um lugar onde as árvores eram negras como carvão e o sol nunca se punha completamente.

A Dama Sombria, com seu manto de veludo negro, olhos como abismos e um coração envolto em sombras, era uma figura temida e desejada. Alguns acreditavam que ela possuía poder suficiente para controlar os destinos dos homens, outros diziam que seu coração era feito de trevas, incapaz de sentir amor ou compaixão.

Mas para Isabela, uma jovem corajosa e curiosa, a lenda não passava de uma história para assustar os mais fracos. Até o dia em que ela, sem querer, cruzou o caminho da Dama.

Era uma noite fria, com a lua cheia refletindo uma luz prateada sobre as terras de Altharion. Isabela, em busca de uma flor rara para salvar sua mãe enferma, adentrou na floresta conhecida por todos como a “Floresta do Esquecimento”. O vento sussurrava, e as árvores pareciam observar seus passos, mas ela não se importava. A desesperança de sua mãe a impulsionava a continuar.

De repente, uma neblina espessa tomou o ar, e uma figura apareceu diante dela. A Dama Sombria. Sua presença era imponente, quase mística, e sua voz, suave, como o som do vento, cortou o silêncio da floresta.

"Você ousa entrar no meu domínio, jovem mortal?", perguntou a Dama Sombria.

Isabela, com o coração batendo forte, olhou para a mulher misteriosa. Ela sentiu algo, algo que não soubera explicar — uma dor profunda, como se o próprio vento estivesse triste.

"Eu... preciso de ajuda", respondeu Isabela, engolindo o medo que a consumia. "Minha mãe está doente, e eu não tenho mais tempo."

A Dama Sombria a observou por um longo momento, e algo nos olhos de Isabela fez com que a mulher se aproximasse. Era como se ela visse uma sombra em seu próprio ser refletida naquela jovem.

"Eu posso ajudá-la", disse a Dama, com uma leveza que parecia contradizer a escuridão ao seu redor. "Mas tudo tem um preço."

Isabela hesitou, mas o desespero falou mais alto. "O que é? Qualquer coisa, eu faço."

A Dama Sombria sorriu de uma forma enigmática. "Você terá o que deseja, mas meu preço será o seu coração."

A jornada de Isabela e da Dama Sombria se desenrolou em uma relação complexa e cheia de tensões. A cada dia que passava, Isabela sentia uma transformação dentro de si. As palavras da Dama, seu olhar penetrante, e as promessas de um poder escondido dentro do coração da mulher que, para todos, representava a escuridão, começaram a se entrelaçar com a própria essência de Isabela.

Isabela recebeu a flor rara que salvaria sua mãe, mas o preço não foi pago imediatamente. O tempo de transformação estava apenas começando. Ao voltar para sua aldeia, ela encontrou sua mãe curada, mas algo estava diferente. Isabela sentia uma inquietação crescente em seu peito. O que significava dar o coração em troca de algo tão vital? E seria a Dama Sombria tão cruel quanto todos diziam?

Ao longo de semanas, ela começou a ouvir vozes nas sombras, murmúrios que a chamavam. Sua alma estava sendo lentamente consumida pela escuridão. Ela sentia que a cada passo, um pedaço de sua humanidade ia se afastando, substituído por algo desconhecido, algo profundo e sombrio.

Ela não podia mais voltar atrás.

A Escolha do Coração.

O momento final chegou na véspera de um eclipse lunar, quando a lua parecia consumir o sol, e a terra se banhava em uma luz macabra e dourada. A Dama Sombria, em sua forma mais pura, apareceu diante de Isabela, agora irreconhecível, com os olhos brilhando como estrelas que morriam.

“Você chegou até aqui”, disse a Dama com um tom grave. "Agora, é hora de fazer a escolha final."

Isabela, com o coração cada vez mais gelado, encarou a mulher. Ela sabia que estava diante de algo maior que sua própria vida. O preço do desejo já fora pago, mas agora, a verdadeira pergunta era: ela poderia viver com a escuridão que tomara conta de seu ser? Ou ela abriria mão do que restava de sua humanidade para abraçar uma nova existência, ao lado da Dama Sombria, compartilhando a solidão e o poder das trevas?

"Eu..." Isabela começou, mas as palavras falharam. Seu coração estava em conflito. "Eu... não sei mais o que é viver sem sombra."

A Dama Sombria sorriu, tocando suavemente o rosto de Isabela.

"Então, venha. Juntas, dominaremos os corações dos homens, e o mundo se curvará ao nosso poder."

Mas antes de tomar a última decisão, Isabela sentiu uma dor profunda no peito. Algo que ela não esperava. O coração da Dama Sombria, tão distante de qualquer humanidade, pulsava com uma melancolia que reverberava em sua própria alma.

Ela olhou para a mulher sombria, agora com uma sensação de empatia. Talvez a verdadeira escuridão não fosse o que ela temia, mas o que a Dama havia carregado por tantos séculos.

No último suspiro da noite, Isabela fez sua escolha. Ela não podia abandonar sua humanidade, mesmo que isso significasse perder tudo o que conhecia. Ela entregou seu coração, mas com a promessa de nunca deixar a escuridão consumir completamente seu ser. Ao fazer isso, ela descobriu que o verdadeiro poder não estava na sombra, mas na capacidade de escolher quem ser, mesmo nas trevas.

A Dama Sombria olhou para Isabela com algo que se assemelhava a um sorriso, mas era feito de nostalgia e dor.

"Você tem algo que eu jamais terei, jovem", disse a Dama. "O poder de redimir seu próprio coração."

E assim, o destino de Isabela foi selado, não como a nova Dama Sombria, mas como a guardiã do equilíbrio entre a luz e a escuridão, uma nova lenda nascida da mistura das trevas com a esperança.

O coração da Dama Sombria não estava perdido, mas transformado — nas mãos de Isabela, ele agora pulsava com uma força renovada, capaz de resistir ao poder que antes dominava tudo ao seu redor.

Após a escolha que transformou o destino de Isabela, os ventos em Altharion começaram a mudar. A aldeia onde ela cresceu, antes distante e tranquila, agora sentia a presença das sombras que ela trazia consigo. Seu coração, embora preservado da escuridão total, batia com uma força crescente, como se a cada dia ela fosse mais capaz de dominar as forças que outrora a consumiam.

Isabela, agora mais do que uma simples jovem corajosa, passou a ser vista como uma figura misteriosa e enigmática. Aqueles que sabiam de sua jornada falavam dela com reverência e medo, pois ela havia feito algo que nenhum ser humano jamais ousaria: havia tocado a escuridão sem se perder nela.

A Dama Sombria, ou o que restava dela, agora residia dentro de Isabela. Embora sua essência ainda fosse forte, como um eco distante, ela era apenas uma sombra que acompanhava cada passo de sua nova existência. Isabela não podia negar que, de algum modo, a presença da Dama em seu espírito lhe conferia um poder que ela não compreendia completamente. A cada noite, ela sentia o peso das decisões da Dama, como um peso que a atraía para o abismo das escolhas que ela teria de fazer no futuro.

O véu da tempestade

Como um peso que a atraía para o abismo das escolhas que ela teria de fazer no futuro.

Mas ainda havia algo dentro de Isabela que a impelia a lutar contra o destino imposto. Ela não queria ser um reflexo das trevas. Queria viver, respirar e manter a chama de sua humanidade acesa, mesmo que o preço fosse alto. Seu coração, embora tocado pela escuridão, ainda batia com a esperança de que a luz poderia um dia prevalecer.

O primeiro teste de sua nova condição veio de maneira inesperada. Uma tempestade, forte e implacável, se aproximava da aldeia. Os ventos cortavam como lâminas afiadas, e a terra tremia sob a força da natureza selvagem. As pessoas, temerosas do que estava por vir, buscavam refúgio, mas algo mais sombrio parecia tomar conta da tempestade. Era como se o próprio céu estivesse sendo rasgado pela fúria de um poder além de sua compreensão.

Isabela, agora mais conectada com a energia da escuridão que residia em seu ser, sentiu a tempestade não apenas como uma força da natureza, mas como uma manifestação de algo muito mais profundo e maligno. Ela soubera, instintivamente, que a tempestade não era um mero fenômeno climático. Era um chamado. Algo ou alguém estava tentando invocar as trevas de uma forma que nem mesmo a Dama Sombria poderia controlar.

"Está vindo", murmurou a voz da Dama em seu espírito, sua presença agora mais forte. "O véu da tempestade está prestes a se levantar. Você terá que decidir: deixar que a escuridão te guie ou lutar contra ela."

Isabela olhou para o horizonte, onde as nuvens se acumulavam como uma parede de sombras impenetráveis. Ela sabia que a tempestade não seria apenas uma catástrofe natural. Algo mais profundo, mais antigo, estava por trás disso. E, como a guardiã de um coração partido entre a luz e a escuridão, era sua responsabilidade enfrentar o que quer que estivesse vindo.

Enquanto a tempestade se aproximava com força, a aldeia entrou em pânico. Muitos procuraram refúgio nas cavernas e cavernas subterrâneas da região, lugares conhecidos por sua proteção natural contra os desastres. Mas Isabela não podia se esconder. Ela sentia que era seu destino enfrentar o que quer que estivesse vindo, mesmo que fosse algo além do que ela poderia controlar.

Ao caminhar pela floresta em direção ao epicentro da tempestade, a Dama Sombria sussurrou novamente em sua mente.

"Eu sempre soube que você se levantaria contra o destino, Isabela. Mas agora, o momento chegou. Não se esqueça de que, por mais que busque resistir, a escuridão sempre encontrará um caminho."

As palavras da Dama ecoaram como um lembrete amargo de que, por mais que Isabela tentasse lutar contra o que se tornava inevitável, ela estava ainda mais entrelaçada com as sombras do que imaginava. Mas, ao mesmo tempo, algo despertava dentro dela. A vontade de lutar, de resistir ao que estava por vir.

Ao chegar ao centro da floresta, onde o céu estava agora totalmente coberto por nuvens negras, Isabela viu o que causava a tempestade. No chão, uma fenda escura se abria, como uma ferida no próprio tecido do mundo. Das profundezas, uma figura emergia lentamente: um ser de sombras e fogo, com olhos vermelhos como o sangue, e uma aura de destruição imensurável.

"O Senhor das Sombras", sussurrou a voz da Dama Sombria, agora mais distante, mas ainda presente. "Ele foi o primeiro a ser banido. Agora, ele retorna para reclamar o que perdeu."

Isabela encarou a criatura, seu coração batendo mais forte, o frio das trevas envolvendo-a. Ela sabia que sua decisão seria crucial. Se ela cedesse, o mundo seria consumido por aquele ser maligno, mas se lutasse, talvez tivesse que pagar um preço maior do que qualquer um poderia imaginar.

"Eu não vou deixar você destruir este mundo", disse Isabela, suas palavras firmes, mas sua voz trêmula.

O Senhor das Sombras riu, sua voz como um trovão que ecoava por toda a floresta.

"Você realmente acha que pode me derrotar, mortal? Eu sou a escuridão que existe dentro de todos. Eu sou o vazio que você teme, o vazio que habita seu coração."

Com uma determinação renovada, Isabela estendeu as mãos, sentindo a energia da Dama Sombria pulsando dentro de si. Ela não poderia vencer o Senhor das Sombras com apenas força física. Mas, talvez, ela pudesse usar o que a Dama Sombria lhe ensinara: o poder da escuridão controlada.

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