Era uma manhã de segunda-feira,eu e mainha colhiamos o arroz.O ar fresco da manhã batia nos meus cabelos,e o sol brilhava.Era uma vida feliz.Mesmo que meu pai morrera em um acidente trágico,em uma noite chuvosa.O carro capotou em uma estrada escura,ele desviará de um caminhão com produtos químicos.Essa lembrança era amarga,para mim e para mainha.Sentia muita falta dele,ele costumava brincar comigo todos os dias,cuidava de mim e de mainha,colhia conosco e eu perguntava muitas coisas para ele no campo.Um dia,mainha desmaiou no meio da colheita de arroz.

"Me ajudem,por favor!"...eu gritava em desespero.

A levamos para o quarto,chamamos o médico,ele a examinou.Mainha estava muito doente.Ela adormeceu,seu semblante era triste,como se fosse se despedir a qualquer momento.Eu ficara ao lado dela na cama,acariciando seu rosto e seu cabelo,as lágrimas rolaram pelo meu rosto.Parei de colher e passei a cuidar dela.Dava-lhe remédios e chás,e ao seu lado todos os dias.Dona Maria,uma vizinha nossa de muito tempo,me ajudara,ela tinha uma amizade com Mainha e cuidava de mim como uma filha.Me entregava vários chás para ajudar na melhora de mainha.Planejava levar mainha para a cidade,para fazer um tratamento.Porem sabia que não haveria condições de locomover ela até o hospital da cidade grande.

"Se eu morrer, você me promete que vai ser feliz,que vai mudar de vida,ter um emprego bom e conhecer um belo rapaz para formar uma família."...mainha,triste.

"Mãe, você não vai morrer,vai ser curada e vai continuar no campo comigo."...chorei muito ao falar.

Nos próximos dias,mainha teve uma crise,tossia muito e saía sangue do pano branco que ela levará até a boca.

"Mainha,aguenta,por favor!"...eu triste e segurando nos ombros dela.

Ela virou-se para mim.

"Milena,eu te amo!"...ela sussurrando.

Diminuiu as tosses,ela se deitou na cama e ficou imóvel.

"Mainha,fala comigo,por favor!"...eu chorando e a chamando.

Mainha continuava imóvel,chorei como se houvesse muitas lágrimas dentro de mim,gemi,a dor de perde-la cravava meu peito como uma faca.Organizei um velório,com poucas pessoas, vestimos preto,me abraçaram desejando os pêsames.Dona Maria me abraçou chorando e soluçou.Todos foram para a rua,alguns rapazes pegaram o caixão de mainha,acariciei seu rosto pela última vez, sentindo sua pele rígida e fria.

"Adeus, mamãe!"...me despedindo.

Levaram o caixão,ela foi enterrada.Dias depois,decidi morar na cidade,coloquei a casa a venda.Nao apareceu nenhum comprador.Colhia no campo e sentia falta de mainha.As lágrimas vinham novamente no meu rosto.Meses após a morte de mainha,aparece um comprador.Alto,com cabelos grisalhos e sorriso amarelo,Senhor Mendonça.Ele chegou com aquelas botas desbotadas.Me ofereceu uma quantia favorável,fechei negócio com ele,ouvi dizer que ele não era uma boa pessoa,eu não me importava,queria vender a casa,mesmo que isso me doía o coração.Mexendo em alguns papéis,achei fotos minhas e de mainha,juntei nossas economias em uma mala.Na manhã de quinta-feira,o céu estava nublado e a chuva ameaçava cair,mesmo assim sentia um cheiro de vida nova no ar.Levei minha mala e peguei um táxi,o caminho até a estação seria longo e até a cidade seria mais longo ainda.Observava a paisagem e as lembranças vieram na minha mente,a vida com meu pai,passeando pelo campo e depois com minha mãe.Sozinhas,uma vida simples,mas sentindo profundamente a ausência do meu pai.Nao consegui evitar que as lágrimas rolassem e que eu sentisse um embrulho no estômago.

Chegando na estação embarquei em um trem,as lágrimas rolaram no meu rosto novamente,enxuguei e procurei pelo meu lugar.Uma moça loira,magra e bem vestida sentava ao lado.Ela lia um livro,permanecemos em silêncio por um tempo.Ela parou de ler o livro.

"Você está indo para a cidade?"...ela,curiosa.

Tentei não chorar mais.

"Estou!"...respondi,enxugando as lágrimas no canto dos olhos.

"Que bom, você vai gostar!"...ela,animada.

Assenti com a cabeça, não sei se realmente iria gostar,estaria acostumada com a calmaria do campo.Ela continuou:

"É sua primeira viagem de trem?"...ela,com um sorriso no rosto.

"Sim!"...respondi,tentando mostrar um sorriso.

"Qual o seu nome?"...ela,guardando o livro na bolsa.

"Milena Garcia!"...respondi, desejando estar como ela.

"O meu é Catarina,prazer!"...ela estendeu a mão.

Permanecemos em silêncio novamente.

"Boa sorte pra você,que nos vejamos denovo!"...ela quebrou o silêncio,sorrindo.

Ela desceu em uma estação,eu já desceria na próxima.Chegava na cidade.Cada passo que dava,admirava como tudo na cidade era diferente,havia muitas lojas e muitas pessoas.Me aproximei de um rapaz para pedir informação,mas ele não me deu atenção.

Depois de uma moça que também não respondeu a minha pergunta.Me senti perdida e percebi que não cidade as pessoas não são tão prestativas como no interior.Avancei uns passos para atravessar a rua, porém não vi um carro que vinha na minha direção,freiou bruscamente.Com o susto acabei caindo,o motorista desceu ,um homem alto,de terno,novo,bonito e cabelos escuros.

"Você está bem?"...perguntou preocupado me ajudando a levantar do chão.

"Estou, obrigado!"...respondi,segurando a mão dele.

"Eu te levo ao hospital."...ele se ofereceu.

"Não precisa,eu estou bem."...disse olhando no olho dele.

"Vamos eu te levo."...ele insistiu.Entrei no carro dele,era luxuoso e super confortável.No hospital,fiz exames o médico disse que eu estava bem.O motorista esperava do lado de fora.O encontrei no corredor.

"Você não é daqui?"... perguntou ele curioso.

"Estou vindo do interior."...respondi,mexendo na minha bolsa.

"Você tem onde ficar?"...o homem.

"Não,mas vou ficar em um hotel ou pensão por enquanto."...disse a ele me afastando e indo em direção a porta.Ele se encantou com meu jeito de falar.

"Você quer ficar na minha casa?"...ele me puxou pelo braço levemente.

"Não precisa,muito obrigado."...respondi o encarando devolta.

"Por favor,deixa eu te recompensar pelo atropelamento."...disse ele,quase implorando.

"Está bem, só por hoje."...aceitei a proposta.

Nos direcionamos até o carro dele,ele abriu a porta para mim,como um cavalheiro.No caminho,ficamos em silêncio.Quando chegamos,percebi que ficara em um condomínio de luxo da cidade.O nome dele é Erik Monroy,um empresário renomado,rico,que tinha uma empresa grande no México e em outros países.

Quando entramos,uma senhora baixinha com uniforme o cumprimentou,era sua empregada,Judith.

"Eu quero te pagar por esse dia."...disse a ele abrindo a minha carteira.

"Não precisa, você é minha convidada."...disse ele colocando a mão dele sobre a minha.

"Não quero incomodar."...insisti.

"Você não incomoda, é bem vinda."...disse ele fazendo um sinal para Judith guardar a minha mala.

Os dias passaram rápido demais,e Erik me dava dicas de como se comportar na cidade.Aprendia com alegria,adorava aprender coisas novas.Erik tem uma noiva, há 10 anos,trabalhava com ele na empresa.Ela apareceu no apartamento,eu abri a porta.

"O Erik está?"...ela olhando pra dentro do apartamento.

"Não,ele deu uma saída."...respondi,educadamente.

"E você? é a nova empregada?"... perguntou ela me olhando por cima.

"Não". ...respondi,constrangida.

"Então quem você é?"...ela,insistiu.

"Digamos que o Erik me acolheu porque eu vim do interior e não tinha onde ficar."...respondi,sem encara-la.

"Entendi". ...ela, não acreditando no que eu disse.

Erik chegou.

"Oi,meu amor!"...Helena o cumprimentou.

"Oi. ...ele respondeu.

"Eu estava conversando com essa sua...agregada. ...disse Helena olhando pra mim dos pés a cabeça.

"A Milena Garcia é minha convidada,estou ajudando ela,porque ela veio do interior,vai ficar aqui por enquanto."...disse Erik,me abraçando de lado.

"Ah,eu pensei que fosse outra empregada,ela é nova e muito bonita. ...diz Helena olhando novamente da minha cabeça aos pés.

Senti um certo ciúmes da parte dela.

"Não é empregada, é apenas minha hóspede. ...Erik tentando ver se ela parava com o ciúmes.

Ele da uma saída com Helena,depois volta.

"Acho melhor eu ir embora,sua noiva não gostou da minha presença. ...disse a Erik, preocupada.

Não,ela entendeu que estou te ajudando. ...disse ele sorrindo.

A semana começou e Erik me ofereceu emprego na empresa dele e eu aceitei.Comecou meu primeiro dia de trabalho,fiquei mais refinada com as aulas que ele me deu.Faziamos tudo juntos,acontecia situações engraçadas entre nós,no apartamento e na empresa.Meu coração batia mais forte quando o via pela manhã,quando ouvia sua voz,e até seu nome.Dias após teria uma festa da empresa.Helena não pode ir na festa com Erik,a mãe dela ficou internada no hospital,devido um tratamento que ela fazia.Erik me chamou para ir,coloquei o vestido mais bonito que tinha,de seda,com alças.

Sentamos nas mesas.

"Você está linda essa noite!"...disse Erik me encarando por um momento.

"Obrigado."...disse a ele,sorrindo.

Me chamou para dançar, dançamos.Nos dirigimos para a fonte que ficava ao lado do salão.Caminhamos devagar.

"Eu espero que esteja gostando de ficar na minha casa."...disse Erik,sorrindo.

"Estou adorando."...respondi,sorrindo devolta.

"Quero te agradecer por tudo que você tem feito por mim."...disse,olhando no olho dele.

"Não precisa,eu faria denovo."...disse ele colocando a mão no meu rosto.Estremeci com esse gesto.Senti que talvez ele também sentia algo por mim.Fomos até o carro em silêncio e permanecemos em silêncio.No apartamento,fomos dormir,em quartos separados.Semanas depois Erik discutiam,na empresa.

"Quantas mais você vai colocar na sua casa?"...Helena bem alterada.

"É só a Milena,eu já te expliquei,para com esse ciúmes!"...Erik,se justificando.

"Você tá transando com ela?"...Helena,irritada

"O que? Você tá louca?Acha que eu fico transando com uma pessoa que conheço a pouco tempo!"...Erik,tentando acalma-la.

"Com essa sua alma caridosa, né?"...Helena,batendo as mãos.

"Erik,ela está na sua casa, está participando da sua intimidade."...Helena,agitada

"Você enlouqueceu!"...Erik, decepcionado.

"Quer saber,eu vou pra minha sala."...Helena,saindo e batendo porta.

Entrei no escritório depois da discussão.

"Vocês brigaram por causa de mim,ouvi a discussão,melhor eu ir embora,vou hoje mesmo!"...disse a ele,nervosa.

"Não,fica por favor! Você é a minha melhor companhia!"disse ele,pegando na minha mão.Decidi ficar,porque estremecia ao vê-lo,e me arrepiava ao senti-lo me tocar.Semanas após, acontecia outra festa da empresa.Erik foi comigo e Helena.Helena se sentia desconfortável,mas teve que aceitar a minha presença,afinal de contas,sou uma das funcionárias.Um amigo de Erik me chamou para dançar,aceitei.Porem, não conseguia evitar de olhar para Erik e Helena que dançavam agarrados.Nao queria entender o que acontecia dentro de mim,em relação a Erik.

"O que aquela oferecida da Antônia veio nessa festa."...Helena começou uma discussão com Erik.

"E não para de olhar pra você!"...Helena,continuou alterada.

"Helena,para com isso, não olha pra ela,eu estou dançando com você."...Erik tentando acalma-la novamente.

"Eu não suporto essa nojenta!"...Helena,irritada.

"Ela tá me provocando."...Helena, neurótica.

"Então vai embora,pra não olhar pra ela mais!"...Erik,irritado também.

"Você quer que eu vá embora pra ficar com ela."...Helena,exagerando.

"Helena,vai embora, é melhor, você tá muito alterada,vai esfriar a cabeça."...Erik parando de dançar.

"Vai com Rodrigo,a festa começou agora,eu vou mais tarde."...Erik chamando Rodrigo que estava dançando comigo.

Ela ficou mais braba ainda e foi embora com Rodrigo.Eu e Erik dançamos,mas não trocamos nenhuma palavra.Eu e ele fomos até o carro,e no caminho até o apartamento, permanecemos em silêncio.

"Acho melhor eu ir embora."...quebrei o silêncio.

"Estou causando problemas pra você."...disse a ele, preocupada.

"Você não me causa nenhum problema."...disse ele,pegando na minha mão.

"Por favor,fica mais um pouco."...disse Erik me olhando como se estivesse implorando.

"Eu e Helena é assim mesmo, não brigamos por sua causa."...explicou ele.

Quando chegamos.

"Por favor,eu quero continuar com a sua companhia."...insistiu ele.

Ele se aproximou,pegou na minha mão e me beijou,eu estremeci com o beijo.