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Um Café e Você

Uma Quarta-Feira Diferente

Era uma tarde tranquila de quarta-feira, e eu seguia meu ritual semanal: passar um tempo no parque, observando o movimento, lendo e refletindo sobre a vida. Como de costume, terminei o passeio indo até a cafeteria que adoro, conhecida por sua pequena biblioteca.

Ao entrar, fui atendida por uma mulher que eu nunca havia visto antes. Ela tinha os cabelos negros, olhos cor de caramelo e um sorriso largo e acolhedor. Sua pele, de tom suave, refletia o brilho do sol, realçando ainda mais sua beleza.

Com o mesmo sorriso, ela perguntou o que eu desejava naquela tarde. Respondi que queria um café e biscoitos doces. Enquanto ela se movia pela cafeteria, percebi que estava aprendendo as rotinas do local, guiada por um funcionário mais experiente. Ele, em voz baixa, mencionou que eu sempre aparecia às quartas-feiras no mesmo horário e fazia o mesmo pedido. Ela sorriu e agradeceu pelas informações.

Quando meu pedido chegou, agradeci e aproveitei para perguntar se era o primeiro dia dela no trabalho, já que eu nunca a tinha visto ali antes. Com um sorriso sereno, ela explicou que era a nova dona da cafeteria. Havia comprado o espaço alguns meses atrás, mas só agora conseguirá assumir sua nova aventura, e disse que ficou sabendo que eu era uma cliente especial.

Fiquei sem jeito quando ela me chamou de "cliente especial", mas tentei disfarçar a timidez, desejando sucesso em sua nova jornada. Ela agradeceu, sorriu novamente e voltou a atender outros clientes.

Passei os próximos 30 minutos saboreando meu café, meus biscoitos e a leitura. Quando terminei, fui até o caixa para pagar e, para minha surpresa, foi ela quem me atendeu. Perguntou se o café estava do meu agrado, ao que respondi que sim, estava perfeito. Antes de sair, comentei que voltaria na semana seguinte.

Com um sorriso ainda mais largo, ela disse que, se eu permitisse, se juntaria a mim para um café e uma conversa na próxima visita. Concordei, sem esconder a sensação de que algo novo e especial começava.

...Cliente Especial...

Os últimos dias tiveram sido intensos. Eu estava sobrecarregada com tantas informações que precisava assimilar rapidamente, mas naquela tarde de quarta-feira, tudo mudou. Foi quando a vi entrar no café.

Ela carregava um livro nas mãos, vestia um vestido preto elegante que ia até os joelhos e tênis brancos que contrastavam perfeitamente. Seu cabelo longo, com mechas que lembravam avelã, brilhava à luz do sol. Escolhi uma mesa estrategicamente banhada pela luz, e eu, sem conseguir evitar, me ofereci para atendê-la.

Eu precisava ouvir sua voz. Enquanto me aproximava, notei como seus olhos pareciam ganhar uma clareza especial sob o reflexo do sol. Quando trocamos as primeiras palavras, a conversa fluiu de forma tão natural que senti uma conexão imediata.

O que mais queria naquele momento era me sentar ao seu lado, esquecer as obrigações e passar a tarde inteira conversando com ela. Mas o trabalho me chamava.

Quando fiquei a saber que ela era uma cliente fiel, sempre voltando às quartas-feiras, algo dentro de mim transformou-se. Eu sabia que, a partir daquele momento, esperaria ansiosamente por todas as quartas. Afinal, ela não era apenas mais uma cliente. Ela era especial.

segundo encontro

Os dias passaram em uma correria intensa na cafeteria. Eu precisava aprender tudo o mais rápido possível e, com muito esforço, consegui colocar tudo em ordem do jeito que planejei. Agora consigo tirar algumas horas para descansar. Mas, durante a semana, só pensava nela – a cliente especial, a garota que me fez suspirar desde o primeiro dia em que a vi.

Quando a quarta-feira chegou, a ansiedade para vê-la novamente tomou conta de mim. Às 16h em ponto, lá estava ela, entrando na cafeteria. Vestia um short jeans azul, uma camiseta preta com o logo da banda Evanescence, e tênis All Star preto com detalhes brancos. Os cabelos soltos e óculos escuros reforçavam seu estilo despojado, e em suas mãos estava um livro.

Quase babei na frente de todos ao vê-la, mas Erick, meu funcionário e braço direito – que logo será o gerente da cafeteria – me cutucou.

— Prepara logo o café dela e os biscoitos e vai lá na mesa dela!

Olhei para ele, rindo. Ele tinha percebido que fiquei interessada por ela desde a primeira vez que apareceu. Fiz exatamente o que ele sugeriu. Peguei a bandeja, respirei fundo e, com um sorriso, fui até a mesa dela.

— Boa tarde, minha cliente especial!

Ela (sorrindo)

— Você aprendeu meu pedido mesmo. Vou começar a acreditar que sou especial de verdade.

Ela olhou diretamente para mim e continuou:

— Por favor, sente aqui comigo para esse café, como combinamos na semana passada.

Sem pensar duas vezes, me sentei. Então, me lembrei de que ainda não sabia o nome dela.

— Eu não te perguntei seu nome, e nem disse o meu. Desculpa por isso. Eu me chamo Samantha, mas pode me chamar de Sam. E você, minha cliente especial, qual é o seu nome?

Ela olha para mim sorrindo e diz:

— É um prazer te conhecer, Samantha. Eu me chamo Luiza, sou professora e, como deve ter percebido, amo livros.

A única coisa que consegui perceber enquanto ela falava foi o quanto o sorriso dela é lindo. Desviei meus pensamentos rapidamente, voltei os olhos para o livro sobre a mesa e perguntei:

— Esse livro é bom?

Ela, sem hesitar, empurra o livro na minha direção e responde animada que sim. Acrescenta que eu deveria lê-lo, contando que a história fala de duas mulheres que se apaixonam. Ela diz que "Oito Minutos" foi o primeiro livro que leu da autora Fabíula Bortolozzo, e que já devorou mais três obras dela, ficando encantada com todas. Finaliza dizendo que já leu esse livro duas vezes e, por isso, quer me emprestar para eu ler também.

Peguei o livro, folheei algumas páginas e, sem pensar muito, respondi:

— Vou ler. Quero continuar conversando com você.

Assim que as palavras saíram da minha boca, me assustei. Eu estava flertando com ela descaradamente! Será que ela acha que faço isso com todas as clientes? Meu Deus!

Luiza apenas sorriu, me encarando, tomou um gole do café e comentou:

— Aqui fazem o melhor café que já tomei.

Tudo o que consegui fazer foi sorrir, ainda sem graça por tudo o que já tinha dito. Mas, criando coragem, perguntei:

— Você se importaria de sair comigo algum dia?

Um silêncio pesado se instalou entre nós. Os olhos cor de mel dela me fitaram como se fossem me atravessar. Finalmente, ela balançou a cabeça afirmando que sim, sem dizer nada.

Então, me entregou o telefone e pediu para eu digitar meu número. Porém, fez questão de deixar claro: por enquanto, nossos encontros serão apenas aqui, na cafeteria.

Sem coragem de questionar, apenas digitei meu número no aparelho, já torcendo para que ela me ligasse ou enviasse uma mensagem.

Luiza

Samantha, em pouco tempo, dispara que quer continuar conversando comigo e me convida para sair. A rapidez dela me assusta, pois ainda carrego os traumas de quando Carla me abandonou. Após quatro anos juntos, ela decidiu casar-se com outra pessoa e assumir o filho de sua atual esposa. Só de lembrar do que passei, mesmo tendo terminado há dois anos, sinto um enjoo imediato.

Desde então, tenho me limitado a encontros casuais com garotas que conheço no Tinder, apenas para aliviar o estresse do trabalho. Não me permito muito diálogo ou interesse em algo amoroso, buscando apenas sexo casual. É o que repito para mim mesma sempre que vou a esses encontros: "Eu só preciso de sexo."

Mas com Samantha é diferente. Eu não quero que essa amizade se resuma a sexo casual. Gostei de verdade de conversar com ela, ainda mais porque a conheci em um dos meus lugares favoritos da cidade.

Em poucas horas de conversa, Samantha já me contou praticamente tudo sobre sua vida. Desde os 18 anos, ela viaja pelo mundo, mas, há cinco anos, decidiu juntar dinheiro e se mudar para uma cidade pequena, mas com um toque de agitação. Por isso, escolheu Campo Verde. Ela passou férias aqui na infância, na casa de sua avó, e, há um ano, no velório dela, descobriu que a cafeteria estava à venda. Decidiu comprar o lugar, com a condição de que teria um ano para estudar tudo sobre café e administração de cafeterias. Agora, ela está aqui, bem na minha frente, cheia de expectativas para essa nova fase da vida.

Eu apenas suspiro, ouvindo tudo o que ela diz, e comento que, ao contrário dela, quase nunca saí de Campo Verde. O mundo, para mim, ainda é um grande mistério.

Já é noite, e eu preciso ir embora para deixar ela trabalhar. Me despeço com a promessa de entrar em contato com ela, mas não tenho certeza se realmente farei isso.

Voltando para casa a pé, observando o movimento da cidade, percebi que nunca quis deixar Campo Verde. Sempre tive boas relações por aqui, além de opções para me divertir. Mesmo após a morte dos meus pais, decidi permanecer na cidade. Quando herdei a casa deles, continuei aqui, embora não tivesse mais nenhum parente vivo.

Voltar para uma casa grande e vazia foi difícil, especialmente após a separação com Carla. Para aliviar a solidão, adotei duas gatinhas, Lua e Sol, que enchem o ambiente de alegria com suas brincadeiras, deixando a casa uma bagunça.

Naquela noite, enquanto preparava o jantar e ouvia minha playlist favorita, tomei quatro garrafas de Ice de limão. Foi então que criei coragem e enviei uma mensagem para Samantha:

"Você sabia que oito minutos é o tempo que a luz demora para chegar do Sol até a Terra? Se o Sol explodisse, a Terra ainda receberia seus raios por oito minutos, mesmo que ele já não existisse mais. E ela me disse que levaria oito minutos para voltar."

— Fabiula Bortolozzo

Tenha uma boa leitura, Sam.

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