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Na Contramão dos Sentimentos

Primeiro Dia, Primeira Impressão

Valéria atravessou o portão da escola com o coração batendo rápido. A mochila parecia mais pesada do que deveria, e cada passo até a sala de aula parecia um desafio. Ao entrar, as vozes altas e as risadas preenchem o espaço, deixando-a ainda mais nervosa. Tentou ignorar os olhares curiosos enquanto procurava um lugar vazio.

Foi então que viu o grupo de garotos no fundo da sala. Um deles, em especial, se destacava: Vinícius. Ele ria de algo que um amigo disse, inclinando levemente a cabeça para trás. Seu sorriso era contagiante, do tipo que fazia todos ao redor se sentirem incluídos. Valéria desviou o olhar rapidamente, mas a imagem ficou gravada em sua mente.

“Concentre-se, Valéria,” pensou. “Você está aqui para estudar, não para ficar observando garotos.”

A professora entrou, pedindo silêncio, e começou a apresentar a nova aluna: “Esta é Valéria. Espero que todos sejam acolhedores com ela.”

Valéria assentiu educadamente, sentindo os olhos de todos sobre si. Enquanto procurava uma carteira vaga, Letícia, uma menina loira com um sorriso simpático, acenou para ela. “Aqui tem lugar! Pode sentar com a gente.”

Aliviada, Valéria sentou-se e, antes que pudesse dizer algo, as outras duas meninas do grupo começaram a se apresentar. Camila, morena de olhos expressivos, e Júlia, de cabelos cacheados e cheios de personalidade, a bombardearam com perguntas.

“De onde você veio?”, “Por que trocou de escola?”, “O que gosta de fazer no tempo livre?”

Valéria tentou responder sem parecer distante, mas sua timidez não facilitava. “Eu vim de uma escola menor. Gosto de ler e... às vezes desenho.”

Letícia olhou para ela com curiosidade. “Você parece tão séria. Tá tudo bem?”

“Ela tem cara de brava, mas acho que é só o jeito dela,” brincou Júlia, arrancando risos das outras. Valéria sorriu timidamente. “Talvez seja mesmo.”

Enquanto a aula seguia, ela notou Vinícius várias vezes. Ele era o tipo de pessoa que parecia brilhar onde quer que estivesse, conversando com todo mundo, inclusive com a professora. As meninas ao seu redor riam exageradamente de tudo o que ele dizia. Valéria tentou ignorar, mas seus olhos insistiam em procurar por ele.

“Valéria,” cochichou Letícia, cutucando-a. “Você tá encarando o Vinícius?”

“Não! Claro que não,” respondeu, sentindo o rosto esquentar.

“Tudo bem, ele é bonito mesmo,” disse Camila, rindo. “Metade da escola tem uma queda por ele.”

No intervalo, as quatro foram para o pátio. Valéria observava tudo com atenção, tentando se acostumar ao ambiente. Letícia apontou discretamente para Vinícius, que estava cercado por amigos. “Ali está ele, o garoto mais popular daqui.”

“E provavelmente o mais difícil de se aproximar,” acrescentou Júlia.

“Mas ele é legal,” disse Camila. “Nunca vi ele destratar ninguém, mesmo sendo tão... disputado.”

Valéria apenas balançou a cabeça, fingindo desinteresse, mas o comentário ficou na sua mente. “Ele nunca notaria alguém como eu,” pensou novamente.

Quando estavam voltando para a sala, uma bola de papel atingiu o ombro de Valéria. Ela virou-se rapidamente, pronta para ignorar, mas viu Vinícius sorrindo para ela. “Desculpa, foi mal! Eu tava mirando no Lucas,” disse ele, apontando para um amigo.

Valéria tentou sorrir. “Tudo bem.”

“Bem-vinda à escola, Valéria,” disse ele antes de voltar para seu grupo.

Seu coração acelerou, mas ela tentou disfarçar. Letícia sorriu de lado. “Ele já sabe seu nome. Isso é um começo.”

Valéria deu de ombros, tentando não demonstrar nada. “É só educação,” respondeu, mas algo dentro dela dizia que aquele momento ficaria marcado.

O Primeiro Contato

O sol estava forte no intervalo, e Valéria sentou-se em um banco no canto do pátio, comendo devagar o lanche que trouxe de casa. Suas novas amigas tinham se dispersado para conversar com outros colegas, deixando-a sozinha. Ela não se importava; preferia observar o ambiente a se forçar a interagir.

De repente, uma sombra cobriu sua visão, e ela levantou os olhos. Era Vinícius. Ele segurava uma bola de futebol e estava levemente ofegante, provavelmente vindo de uma partida improvisada com os amigos. Seu sorriso era descontraído, mas curioso.

“Ei, você é nova aqui, né?” perguntou ele, parando ao lado do banco.

Valéria engoliu em seco, surpresa com a aproximação. “Sim, sou.”

“Eu sou Vinícius,” disse ele, ajeitando a bola debaixo do braço. “Se precisar de ajuda com qualquer coisa, é só falar.”

Ela tentou responder, mas antes que pudesse, um grupo de amigos o chamou, acenando de longe. “Já vou!” ele gritou de volta, olhando para Valéria com um sorriso rápido. “Nos vemos por aí.”

E com isso, ele se afastou. Valéria permaneceu imóvel, processando o que acabara de acontecer. Foi uma interação breve, mas o suficiente para deixar seu coração acelerado.

Depois desse encontro, Valéria não conseguiu evitar prestar mais atenção em Vinícius. Ele parecia estar em todos os lugares: no corredor, conversando com a professora, no centro de uma roda de amigos no pátio. Sempre sorrindo, sempre interagindo.

No entanto, não era apenas a popularidade dele que chamava sua atenção. Valéria começou a notar os pequenos gestos de gentileza que ele fazia, quase imperceptíveis para quem não prestava atenção. Como naquela vez em que ele ajudou uma menina quieta da sala a carregar os livros na biblioteca. Ou quando ele ofereceu seu lanche a um garoto do primeiro ano que parecia nervoso e perdido.

Ele não fazia essas coisas para chamar atenção; parecia genuíno. Isso apenas reforçava o que ela já começava a sentir: ele era tudo o que ela admirava, tudo oq ela queria ser, mas também tudo o que ela achava impossível alcançar.

Na semana seguinte, enquanto esperava na fila do refeitório, Valéria percebeu Vinícius ao lado de um amigo. Ele ria de algo, mas, de repente, virou-se para ela. “Ei, Valéria, né?” perguntou, como se confirmasse que tinha acertado seu nome.

“Sim,” respondeu ela, surpresa por ele lembrar.

“Tá gostando da escola?” perguntou ele casualmente, pegando uma bandeja.

“ah , sim, é diferente,” respondeu ela, tentando soar natural.

“Se precisar de ajuda com as matérias ou com... sei lá, os grupos, pode falar diretamente comigo,” disse ele, com aquele sorriso fácil, lançando uma charmosa piscada. Antes que ela pudesse responder, ele acrescentou: “Mas acho que você tá se saindo bem. As meninas do seu lado da sala falam super bem de você.”

Valéria corou, mas Vinícius já estava indo embora, se despedindo com um gesto simples de mão. Ela olhou para a bandeja em suas mãos e sentiu um calor inexplicável no peito. Talvez, só talvez, ele tivesse prestado mais atenção nela do que ela imaginava.

A Praça e o Encontro Inesperado

Era um sábado ensolarado quando Valéria e suas amigas decidiram passear na praça principal da cidade. O lugar estava movimentado: crianças brincando no parquinho, casais caminhando de mãos dadas, e grupos de adolescentes reunidos perto da quadra de futebol.

Valéria observava tudo com atenção, como sempre fazia, mas manteve-se em silêncio enquanto suas amigas conversavam animadamente. Foi então que Letícia apontou para a quadra. “Olha quem tá ali!”

Quando Valéria seguiu o olhar dela, sentiu o coração acelerar. Era Vinícius, jogando futebol com um grupo de garotos. Ele corria com facilidade, o cabelo bagunçado pelo esforço, enquanto dava instruções para o time. Sua energia parecia contagiar todos ao redor.

De repente, enquanto tomava um gole de água na lateral da quadra, ele olhou em direção ao grupo de Valéria. Quando seus olhares se cruzaram, ele acenou com um sorriso.

“Ele te conhece?!” perguntou Letícia, claramente surpresa.

Valéria tentou parecer indiferente, mas sabia que seu rosto corava. “Ah, nada demais. Ele só me cumprimentou uma vez na escola.”

“Amiga, metade da escola quer a atenção dele! E ele acenou pra você? Isso não é nada comum,” comentou Camila, rindo.

Antes que Valéria pudesse responder, o jogo terminou e Vinícius veio em direção a elas. Ele carregava a bola debaixo do braço e parecia levemente suado, mas ainda tinha aquele sorriso descontraído.

“Valéria, você gosta de futebol?” perguntou ele, parando bem à sua frente.

Ela engoliu em seco, tentando manter a calma. “Não muito. Prefiro assistir a jogar,” disse, sorrindo timidamente.

Ele deu um meio sorriso e inclinou um pouco a cabeça, como se estivesse considerando a resposta. “Bom, então você pode torcer por mim da próxima vez.”

Antes que ela pudesse responder, ele piscou para ela de forma divertida e voltou para junto de seus amigos, deixando Valéria sem palavras.

Quando ele se afastou, suas amigas explodiram em risadas.

“Ele tem jeito, hein?” comentou Camila, cutucando Valéria no ombro.

“Valéria, ele tava claramente flertando com você,” acrescentou Júlia, empolgada.

“Não foi nada disso,” disse Valéria, tentando disfarçar, mas o rubor em suas bochechas denunciava o contrário.

Enquanto voltavam a caminhar pela praça, ela olhou discretamente para a quadra mais uma vez. Vinícius ainda estava lá, mas agora parecia distraído, rindo de algo que um amigo disse. Mesmo assim, a sensação de que ele realmente havia notado sua presença fazia seu coração bater mais rápido do que ela gostaria de admitir.

Naquele dia, pela primeira vez, Valéria começou a se perguntar se talvez houvesse uma chance de que ele a enxergasse de um jeito diferente.

Já era noite quando Valéria chegou em casa, ainda pensando no que havia acontecido na praça. Vinícius era gentil com todo mundo, disso ela sabia, mas a maneira como ele a tratou parecia... diferente. As palavras dele continuavam ecoando na sua cabeça: “Então você pode torcer por mim da próxima vez.”

Ela tentou afastar os pensamentos enquanto terminava o jantar com a família. Depois de ajudar a lavar a louça, subiu para o quarto, planejando revisar algumas anotações da escola. Ligou uma playlist tranquila, sentou-se na cama com o caderno no colo e abriu o celular para verificar as mensagens.

Assim que desbloqueou a tela, uma notificação chamou sua atenção: Vinícius.

Ela congelou. Não era possível que ele tivesse mandado mensagem para ela. Talvez fosse um grupo da escola, pensou. Mas quando abriu o aplicativo, lá estava: uma mensagem direta, inesperada.

Vinícius: "Oi, Valéria. Tá acordada?"

O coração de Valéria deu um salto. Por alguns segundos, ela ficou encarando a tela, pensando no que responder. Não queria parecer ansiosa, mas também não queria demorar demais.

Valéria: "Oi. Sim, tô. Tudo bem?"

Ele respondeu quase imediatamente.

Vinícius: "Tudo sim. Queria saber... você tava na praça hoje, né?"

Valéria sentiu o rosto esquentar. Ele tinha reparado mesmo.

Valéria: "Sim, eu tava com umas amigas. E você tava jogando."

Vinícius: "Verdade. Você ficou assistindo ou só passou por ali?"

Ela hesitou antes de responder. Não queria admitir que tinha olhado para ele mais do que deveria.

Valéria: "Ah, fiquei um pouco com as meninas, mas nada muito longo."

Ele mandou um emoji pensativo e depois uma nova mensagem:

Vinícius: "Queria ter conversado mais com você. Parece que você é diferente."

Diferente? Valéria sentiu o coração disparar. O que ele queria dizer com isso?

Valéria: "Diferente como?"

Demorou mais do que o normal para ele responder, o que só aumentou sua ansiedade. Quando a notificação finalmente apareceu, ela leu a mensagem várias vezes.

Vinícius: "Não sei. Você é mais tranquila, acho. Todo mundo quer aparecer, mas você... parece que tá bem sendo você mesma. Isso é legal."

Valéria sorriu involuntariamente, mas ainda estava tentando processar o que ele havia dito. Ela nunca imaginou que alguém notaria algo assim sobre ela, muito menos ele.

Valéria: "Eu não sei o que dizer... mas obrigada, eu acho."

Vinícius: "Não precisa dizer nada. Só queria que soubesse."

Depois dessa mensagem, Valéria ficou olhando para a tela, sentindo algo novo, algo que nunca tinha sentido antes. Ele não mandou mais nada depois disso, e ela também não sabia o que mais dizer.

Por fim, colocou o celular ao lado da cama, mas o sono demorou a chegar. Ficava se perguntando o que aquele "diferente" significava para ele. Talvez, só talvez, ela tivesse começado a ocupar um pequeno espaço nos pensamentos de Vinícius, assim como ele ocupava os dela.

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