Nicole sempre soubera que a vida não seria fácil. Desde muito jovem, ela tinha uma compreensão clara de que, para sobreviver, era preciso lutar. Criada em uma pequena cidade do interior, a jovem viu de perto as dificuldades que sua família enfrentou. Seus pais eram trabalhadores, mas as condições financeiras eram sempre apertadas. A pequena casa de madeira que eles chamavam de lar tinha mais rachaduras do que ela gostaria de contar, e o teto, muitas vezes, pingava durante as chuvas mais fortes. Ainda assim, ela lembrava com carinho do calor da cozinha, dos risos que ecoavam enquanto seu pai contava histórias antigas, e da presença reconfortante de sua mãe, que a fazia sentir que tudo ficaria bem, apesar das dificuldades.
Quando tinha apenas 13 anos, seus pais faleceram em um trágico acidente de carro. O vazio que isso deixou foi tão grande quanto o amor que ela tinha por eles. De repente, Nicole se viu responsável pelos três irmãos mais novos: Lucas, de 10 anos; Sofia, de 8; e Júlia, de 5. Não havia tempo para chorar, não havia espaço para luto. Os dias seguiam sem piedade, e a realidade apertava cada vez mais.
Nicole sabia que precisava ser forte. Sua mãe sempre lhe dissera que, embora o amor fosse importante, a sobrevivência vinha antes de tudo. E, agora, ela se via forçada a aplicar essa lição com todas as forças que possuía. Ela tentou de tudo. Trabalhou em fazendas, vendeu doces na rua, fez bicos para amigos da família. Mas, por mais que tentasse, o dinheiro nunca era o suficiente. O que ela ganhava mal cobria as despesas da casa e a alimentação para os quatro. Ela sonhava com um futuro diferente, mas o medo de não ser capaz de prover para os irmãos sempre a impedia de olhar para o horizonte.
A vida de Nicole foi marcada por sacrifícios, e ela aprendeu, de maneira dura, que a dignidade era algo que se perdia facilmente quando a fome batia à porta. Com o tempo, ela se viu forçada a tomar decisões difíceis. Aos 18 anos, a oportunidade apareceu de maneira inesperada.
Ela foi recrutada para trabalhar como garçonete em um bar da cidade, um estabelecimento conhecido por ser frequentado por homens de negócios e outros tipos que precisavam de algo mais do que um simples jantar. O dono do bar, Marcos, viu em Nicole uma mulher bonita e determinada, e logo a promoveu a dançarina. Ao princípio, ela hesitou, mas a pressão da necessidade falou mais alto. Não era o tipo de vida que ela imaginava para si, mas os olhos do dono eram claros: “Aqui, você pode ganhar muito mais.” E foi assim que ela entrou no mundo das boates, um lugar onde, ao longo dos meses, aprenderia a ser mais do que uma garçonete — aprenderia a ser uma mulher desejada.
As primeiras noites no palco foram de terror. O calor do ambiente, os olhares famintos e as risadas cruéis a fizeram questionar sua decisão. Mas, ao olhar para seus irmãos dormindo em casa, ela sabia que não poderia voltar atrás. Cada noite no palco a fazia sentir-se mais fria, mais distante de quem era, mas ao mesmo tempo, mais forte, mais capaz de garantir a sobrevivência de quem ela mais amava.
Nicole logo entendeu que seu corpo era sua moeda de troca, e o olhar de desejo nos homens a tornava uma mercadoria. Os sorrisos, os elogios, os toques não passavam de uma forma de poder que ela mal compreendia. Mas, apesar de tudo, a recompensa financeira a fez seguir em frente. Cada centavo que ela ganhava era um passo em direção a uma vida melhor para seus irmãos. Seu corpo, embora não fosse o que ela desejava oferecer ao mundo, era o único bem que ela tinha para negociar.
Ela não se permitia olhar para os outros dançarinos e dançarinas. Eles estavam ali para fazer o que precisava ser feito. Nicole tentava ignorar a sensação de ser usada, mas não conseguia se livrar da tristeza que sentia sempre que o dia amanhecia. Ela sabia que não estava realmente vivendo; ela estava apenas sobrevivendo.
Foi quando Gabriel Ferreira entrou na sua vida que ela teve a chance de mudar isso.
Gabriel era tudo o que Nicole jamais imaginou que poderia conhecer. Ela sabia que ele era diferente dos outros. Não era o tipo de homem que ela via na boate, com olhares vazios e intenções sujas. Quando ele entrou na boate pela primeira vez, ela percebeu que ele não estava ali para ser como os outros clientes. Ele não a olhava como uma dançarina. Ele olhava para ela como se a visse pela primeira vez como uma mulher, e isso, por mais estranho que fosse, a fez sentir algo que não sabia como descrever.
Gabriel Ferreira não era apenas um homem de negócios, ele era o tipo de homem que todos respeitavam. Sua postura, seu estilo, a maneira como ele caminhava e falava, tudo nele parecia gritar poder e controle. Mas ao mesmo tempo, havia algo profundamente solitário em seus olhos. Ele não se entregava facilmente a ninguém, e isso despertava uma curiosidade que Nicole não conseguia controlar. Ele estava longe de ser o tipo de homem acessível para ela, e ela sabia disso, mas algo em sua presença a fez sentir um magnetismo que ela não pôde ignorar.
Foi naquela noite, enquanto dançava no palco, que ele a viu pela primeira vez. Não foi um olhar qualquer. Não foi o tipo de olhar que ela estava acostumada a receber. Havia um interesse genuíno ali, uma vontade de saber quem ela era, algo mais profundo que a fez sentir um frio na espinha. No entanto, ela sabia que ele não estava ali para ela. Ele era o tipo de homem que possuía tudo, enquanto ela estava apenas tentando encontrar um caminho para sair daquele lugar.
Naquela noite, depois do trabalho, Gabriel se aproximou dela. Ele não usou palavras vazias ou elogios baratos como os outros homens. Ele olhou em seus olhos e, com uma voz suave e controlada, perguntou:
— Como você se chama?
Nicole ficou surpresa. Ela não esperava que ele a falasse diretamente. O simples fato de ele ter feito uma pergunta a fez hesitar por um momento.
— Nicole — respondeu ela, tentando manter a compostura.
Gabriel sorriu de maneira quase imperceptível, mas seu olhar ainda estava fixado nela, como se tentasse ver além da superfície.
— Tenho uma proposta para você, Nicole. Algo que pode mudar sua vida.
Nicole, desconfiada, ficou em silêncio por um momento. Ela sabia o que os homens ricos queriam de mulheres como ela. Mas a proposta de Gabriel foi diferente.
— Eu preciso de uma babá para minha filha. Maria Clara. O trabalho é simples, e o pagamento é mais do que você receberia aqui. Não quero que continue nesse ambiente. Você merece mais.
Essas palavras tocaram um ponto sensível em Nicole. Ela estava tão acostumada a ser vista como um objeto, que a ideia de ser valorizada por sua capacidade, e não por seu corpo, foi algo novo. Gabriel não sabia, mas ele estava oferecendo a ela mais do que um simples trabalho. Ele estava oferecendo a chance de uma vida diferente, uma chance de fugir do mundo sujo em que ela estava presa.
Nicole pensou muito antes de aceitar. Ela sabia que uma mudança tão drástica poderia trazer consequências que ela ainda não compreendia. Mas, no fundo, sabia que essa era a única oportunidade que teria de mudar sua vida. O trabalho como babá significava estabilidade, um salário generoso, e, o mais importante, significava um futuro melhor para seus irmãos.
Foi com esse pensamento que ela decidiu aceitar a proposta. Não sabia o que o futuro lhe reservava, mas estava disposta a arriscar tudo por uma chance de recomeço.
Nicole nunca imaginou que seu novo trabalho como babá seria tão desafiador. Quando aceitou a proposta de Gabriel, pensou que a vida seria mais simples, que as complicações seriam menores. No entanto, logo percebeu que sua decisão de mudar de vida não seria tão fácil quanto parecia. Cada dia em sua nova rotina parecia testar sua capacidade de adaptação e força emocional. O que ela não sabia era que, além dos desafios do trabalho, ela também teria que lidar com algo muito mais complexo: o magnetismo silencioso de Gabriel, um homem que a fazia questionar tudo o que ela conhecia sobre desejo, poder e controle.
A casa de Gabriel Ferreira era imensa, uma verdadeira mansão de estilo moderno, com paredes de vidro que se abriam para uma vista deslumbrante da cidade. Quando ela chegou pela primeira vez, não pôde deixar de se sentir pequenina, como se estivesse em um mundo que não era o seu. A sensação de deslocamento era palpável. O que ela sabia sobre luxo? O que ela sabia sobre estar rodeada de riqueza? Nada. Tudo isso parecia distante, como se estivesse em um filme, um filme que não tinha nada a ver com a vida real.
Ao acordar no primeiro dia, Nicole observou os detalhes da casa. Os móveis eram sofisticados, as paredes decoradas com arte moderna e os pisos impecáveis. As janelas enormes davam para um jardim bem cuidado, onde flores e árvores exóticas estavam dispostas de forma quase mágica. Ela se sentiu como uma intrusa, e não podia deixar de pensar em como havia chegado até ali. Estava longe da vida agitada da boate, mas a distância entre aqueles dois mundos parecia cada vez mais difícil de atravessar.
Enquanto descia para o café da manhã, ela viu Maria Clara pela primeira vez. A menina, com seus olhos grandes e expressão curiosa, parecia nervosa, mas também contente. Nicole notou a timidez de Maria Clara, que a olhava com um sorriso cauteloso, como se estivesse tentando entender o que aquela nova mulher significava em sua vida. Nicole sorriu de volta, tentando passar confiança, mas por dentro estava se sentindo tão vulnerável quanto a menina.
A manhã passou com Nicole tentando se acostumar com os detalhes do trabalho. Preparar o café da manhã para Maria Clara foi mais difícil do que ela imaginava. A pequena parecia gostar de tudo, mas Nicole não sabia exatamente como agradá-la. Tentou ser delicada, mas a incerteza sobre seus próprios passos a fazia hesitar. Quando Maria Clara a elogiou por ter feito o café exatamente como ela gostava, Nicole sentiu uma ponta de satisfação. Ela estava começando a perceber que poderia ser boa no que fazia.
O dia seguiu com a rotina de cuidar de Maria Clara, levando-a para a escola e ajudando a menina com suas atividades. Ao fim da tarde, Gabriel retornou ao lar, e Nicole, sem saber o que esperar, continuou com seus afazeres. Ela sabia que seu trabalho ali não era apenas cuidar de Maria Clara, mas também manter a casa organizada, garantir que tudo estivesse perfeito para ele, para o homem que a contratou e que, de certa forma, parecia ser mais imponente do que ela conseguia compreender.
Quando Gabriel entrou em casa, o silêncio se fez presente. Ele não falava muito, mas sua presença era algo que dominava o ambiente. Nicole, sempre observadora, notou a maneira como ele se movia pela casa, com passos firmes e decididos. Não parecia o tipo de homem que se perderia em um mundo de detalhes ou distrações. Ele estava ali para ser eficiente, para controlar tudo ao seu redor, mas havia algo em seu olhar que parecia distante, como se estivesse sempre imerso em pensamentos profundos.
Naquela noite, Gabriel pediu que Nicole se juntasse a ele na sala de estar, algo que ela não esperava. Ele estava sentado em uma poltrona de couro escuro, a luz suave do ambiente refletindo em sua pele morena, dando-lhe uma aura quase intocável. Nicole hesitou por um momento, mas logo se aproximou, sentindo-se pequena diante da grandeza do homem que estava à sua frente.
— Como foi o seu dia? — perguntou ele, com a voz grave e calma. Seu olhar estava fixo nela, mas não de uma maneira agressiva. Era um olhar curioso, algo que ela não sabia como lidar.
Nicole, que não estava acostumada a ser tratada com tanto interesse genuíno, respondeu com um sorriso tímido:
— Foi bom, senhor. Maria Clara é muito educada, e ela se adapta bem à rotina.
Gabriel fez um gesto com a mão, como se não quisesse mais formalidades. Ele parecia não gostar de ser tratado com distância.
— Já lhe disse para me chamar de Gabriel. — Ele falou com um tom que, embora sério, não era ríspido. — Você está aqui para cuidar de minha filha, mas também precisa sentir-se à vontade.
Nicole sentiu uma pequena tensão em seu peito. Era uma coisa simples, mas a maneira como ele a observava, sem pressa, fez seu coração bater mais rápido. Ela não sabia o que responder. A palavra "à vontade" parecia distante de tudo o que ela já havia vivido. Ela, que sempre se sentiu pequena e insignificante, agora estava sendo tratada com um respeito que ela não sabia como responder.
Naquela noite, ela ficou até tarde cuidando das tarefas da casa. O silêncio entre ela e Gabriel era palpável, mas Nicole não se atrevia a fazer mais nada além do seu trabalho. Ele estava sempre perto, mas nunca parecia querer conversar mais do que o necessário. O que ela não sabia era que, por mais que ele tentasse manter uma distância, ele estava começando a perceber mais sobre ela do que gostaria de admitir.
A relação deles, embora ainda muito profissional, começou a mudar de forma sutil nos dias seguintes. Gabriel começou a sair mais vezes, mas sempre que voltava, Nicole notava uma leve mudança em seu comportamento. Ele a observava com mais frequência, e às vezes, seus olhares se cruzavam de maneira intensa. Nicole sabia o que isso significava, mas tentava ignorar. A última coisa que ela precisava era se envolver com seu chefe, um homem que parecia ter o controle sobre tudo, menos sobre suas próprias emoções.
Maria Clara, por outro lado, parecia gostar cada vez mais de Nicole. A menina fazia perguntas sobre o mundo de Nicole, sobre o que ela gostava de fazer, sobre a vida antes da mansão. Nicole, com a sinceridade de quem sabia como lidar com crianças, respondia a todas as perguntas com gentileza. As duas começavam a criar uma ligação, uma conexão que Nicole não esperava, mas que ela estava começando a valorizar.
Conforme os dias passavam, a casa de Gabriel foi se tornando cada vez mais o seu novo lar. Nicole, aos poucos, foi se acostumando com a rotina, mas o olhar de Gabriel continuava a ser um desafio para ela. Ele estava sempre ali, à espreita, como se soubesse mais do que deixava transparecer. Havia algo nele que a fascinava, e isso a fazia querer entender mais sobre ele, sobre o que estava por trás da máscara de CEO que ele usava.
E foi naquele momento, enquanto ela preparava o jantar para Gabriel e Maria Clara, que a vida de Nicole tomou um rumo que ela jamais imaginou. Ela não sabia, mas seu coração estava prestes a ser colocado à prova.
Nicole sabia que estava em um ponto de transição. A vida que ela conhecia, a que lutou para deixar para trás, parecia uma memória distante. Agora, vivendo na mansão de Gabriel, cuidando de Maria Clara e imersa em um mundo de riqueza e luxo, sua vida havia mudado de forma drástica. No entanto, à medida que os dias se passavam, ela começava a perceber que as mudanças não eram apenas externas. Sua mente, suas emoções e, até mesmo, seu coração estavam começando a se moldar a essa nova realidade.
Ela tentava ser racional, focada no que importava: garantir que sua nova vida fosse segura e estável, e que ela fosse capaz de manter os irmãos distantes de qualquer perigo. O trabalho como babá parecia simples, mas estava longe de ser fácil. Maria Clara era uma menina encantadora, mas exigente, e Nicole sabia que seu principal dever era protegê-la e ajudá-la a se adaptar à ausência da mãe, que, por razões que Gabriel raramente falava, não estava mais presente. Embora o trabalho fosse gratificante em muitos aspectos, Nicole não podia negar que sua mente frequentemente se via ocupada com pensamentos que a desconcertavam: o comportamento de Gabriel.
Ele era tão enigmático. Por mais que tentasse manter a distância, a presença dele em sua vida era avassaladora. Nicole não sabia como lidar com ele. No começo, ela o via apenas como seu empregador, alguém que a contratara para cuidar de sua filha. Mas, com o passar do tempo, as interações entre eles se tornaram mais intensas. Gabriel estava sempre por perto, sempre observando-a, com seu olhar penetrante e sua postura imponente. Nicole se pegava em momentos de silêncio, observando-o de longe, tentando entender o que estava por trás daquela máscara de CEO bem-sucedido.
Ela sabia que não devia nutrir sentimentos por ele. Ele era um homem rico, poderoso e, provavelmente, inalcançável para alguém como ela. Mas, ao mesmo tempo, algo em seu comportamento a atraía. Havia uma vulnerabilidade em Gabriel que ela começava a perceber, uma fragilidade oculta que ele fazia questão de esconder. Talvez fosse a maneira como ele tratava Maria Clara, com uma doçura rara para alguém tão impessoal e distante. Ou talvez fosse o fato de que, por mais que estivesse cercado de luxo e poder, ele parecia tão solitário. Mas, mais do que tudo, era a tensão palpável que existia entre eles. Cada olhar trocado, cada palavra dita com cuidado, carregava um peso que Nicole não conseguia compreender.
O primeiro mês passou rapidamente, com Nicole tentando equilibrar suas responsabilidades e as emoções que estavam começando a borbulhar dentro dela. Ela sabia que tinha que se concentrar no trabalho e não se deixar levar por sentimentos complicados. No entanto, a presença de Gabriel tornava tudo difícil. Ele sempre a observava de longe, com seus olhos escuros e intensos, como se fosse capaz de ver além de sua fachada e entender o que ela estava tentando esconder. Nicole sentia como se estivesse à mercê dele, como se ele tivesse o poder de mexer com suas emoções a qualquer momento.
Numa noite, após um longo dia de trabalho, Gabriel chegou mais cedo do que o habitual. Nicole estava na cozinha, preparando o jantar, quando ele entrou sem avisar. Ela não o viu se aproximar, mas sentiu sua presença antes de ouvi-lo. Quando ela levantou os olhos, se deparou com ele parado na entrada da cozinha, com um olhar penetrante e um sorriso enigmático nos lábios.
— Nicole. — Gabriel disse, sua voz baixa e calma. — Espero que você tenha tido um bom dia.
Nicole, surpresa por ele estar ali, tentou manter a compostura. Ela sabia que o que fosse dito entre eles naquela noite poderia mudar tudo. Então, com um sorriso educado, respondeu:
— Sim, Gabriel. Tudo correu bem com Maria Clara.
Havia uma tensão no ar, algo que Nicole não conseguia explicar. Ela sabia que ele a observava, mas nunca sentia que ele estava realmente se importando com as pequenas coisas. No entanto, naquela noite, havia algo diferente. O que era? Nicole não conseguia entender.
Ele se aproximou mais, caminhando lentamente até a bancada da cozinha, onde ela preparava a refeição. Ela sentiu seu cheiro — uma mistura de madeira e couro, algo inconfundível. O simples fato de ele estar tão perto fez com que sua respiração se acelerasse. Nicole se forçou a focar no que estava fazendo, mas sua mente estava em outro lugar.
— Você está confortável aqui? — ele perguntou, quebrando o silêncio.
Nicole olhou para ele, tentando disfarçar a apreensão. A pergunta era simples, mas havia algo nas entrelinhas. Algo que ela não podia ignorar.
— Sim, estou. — Ela respondeu com sinceridade, embora seu coração estivesse batendo mais rápido. Ela não queria mostrar que estava insegura. Isso não era sobre ela. Era sobre garantir que Maria Clara estivesse bem e que Gabriel estivesse satisfeito com seu trabalho.
Gabriel deu um passo à frente, mais próximo do que ela esperava. O espaço entre eles estava se tornando menor, e a tensão, mais palpável.
— Você tem algo a dizer, Nicole? — Ele perguntou, com um tom de voz suave, quase provocador.
Nicole hesitou. O que ele queria dela? Ela não sabia como responder a isso. Não era simples ser próxima de seu empregador, principalmente quando ele parecia querer mais do que apenas uma relação profissional.
Ela sentiu o peso do olhar dele em seu rosto. Não conseguia olhar para ele diretamente nos olhos, então desviou o olhar rapidamente.
— Não... Não tenho nada a dizer. — Ela respondeu, tentando parecer tranquila.
Mas a verdade era que ela tinha muito a dizer. Havia algo dentro dela, uma necessidade de entender o que estava acontecendo entre eles. O que Gabriel queria dela? O que ela sentia por ele? E, mais importante ainda, o que esse sentimento significava para o futuro deles?
Gabriel observou seu comportamento por um momento antes de dar um passo atrás, como se percebesse que a tensão estava ficando insuportável para ela. Ele não disse mais nada, apenas fez um gesto para que ela continuasse com o jantar. Nicole, aliviada pela mudança de comportamento dele, voltou ao que estava fazendo, mas a sensação de que algo estava prestes a acontecer entre eles não a deixava em paz.
Durante o jantar, Gabriel foi mais ameno. Ele conversou com Maria Clara sobre a escola e os assuntos do dia, mas Nicole sentia que ele não estava realmente ali. Ele estava com a mente em outro lugar, e ela sabia que esse lugar, por mais que tentasse esconder, era ela. As palavras não ditas entre eles estavam carregando uma energia que não poderia ser ignorada por muito tempo.
Após o jantar, Nicole se retirou para o seu quarto. Ela precisava de um tempo para processar tudo o que havia acontecido naquela noite. O olhar de Gabriel, a proximidade inesperada, as palavras não ditas... tudo aquilo estava criando um turbilhão em seu peito. Ela sabia que não poderia continuar ignorando o que sentia. Mas o que ela deveria fazer com isso?
O que ela queria? O que ela deveria querer? Ela olhou pela janela do seu quarto, vendo as luzes da cidade lá fora, e pensou nos irmãos, na sua luta para dar a eles uma vida melhor. Nicole não podia se dar ao luxo de se perder nesse jogo. Não era apenas sobre ela e Gabriel. Era sobre os sacrifícios que ela já fizera. Sobre as escolhas difíceis que ela continuava a fazer.
Mas, no fundo, ela sabia que sua vida estava prestes a mudar mais uma vez, e dessa vez, era impossível voltar atrás.
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