O Colégio dos Segredos
O Chão Ensanguentado
O som da chave girando na fechadura rompeu o silêncio da casa. William entrou sacudindo o guarda-chuva encharcado e colocando as compras sobre a mesa. A casa parecia incomumente quieta.
William
Lucas.Voltei.. Cadê você? Comprei seu lanche favorito
Sem resposta. O silêncio pesado deixou William inquieto. Ele olhou ao redor notando a sala de estar iluminada. Avançou lentamente sentindo algo errado. Foi então que viu.
Lucas estava caído no chão uma poça de sangue se alastrava sob ele tingindo o piso de vermelho. William congelou por um instante incapaz de processar o que via.
Correndo até ele William se ajoelhou ao lado do irmão e o puxou levemente para si...O corpo de Lucas estava fraco pálido e sua respiração era irregular.
William
*desesperado com a voz embargada*
O que aconteceu com você? Lucas por favor fala comigo
Lucas
*com dificuldade a voz um fio* Will... desculpa...
William
Desculpa do quê? Não diz isso...Vou te levar ao hospital. Só... aguenta, tá? Por favor
William rapidamente tirou o celular do bolso com as mãos trêmulas e ligou para a emergência mas enquanto falava com o atendente Lucas tentou dizer algo mais.
Lucas
*Sussurrando* Eu... não consegui... cumprir a promessa...
William
*com o rosto molhado de lágrimas* Promessa? Que promessa Lucas? Não me deixa...Você vai ficar bem ouviu?
Lucas tentou esboçar um sorriso fraco antes de sua cabeça pender para o lado os olhos começando a perder o brilho. William sacudiu o irmão gritando por ele.
William
Lucas.. Fica comigo.. A ambulância tá vindo...Não faz isso
Os minutos pareceram horas. Quando os paramédicos chegaram William mal conseguiu falar apontando apenas para o irmão.
No hospital William estava sentado na sala de espera as mãos ainda manchadas de sangue. Ele encarava o vazio tentando afastar as imagens do corpo de Lucas caído no chão.
Um médico finalmente se aproximou com o rosto sério.
Médico: Você é o irmão de Lucas?
William
*levantando-se rapidamente*
Sou sim.. Ele tá bem? Ele vai ficar bem não é?
Médico: *hesitante* Sinto muito. Fizemos tudo o que podíamos mas ele perdeu muito sangue. Seu irmão não resistiu.
O mundo de William desabou naquele instante. Ele balançou a cabeça como se rejeitasse as palavras que ouvia.
William
Não... ele não pode ter morrido... Ele tava falando comigo..Ele tava... por favor diz que ele ainda tem chance
O médico apenas abaixou a cabeça em silêncio. William caiu de joelhos apertando o rosto com as mãos enquanto o choro explodia de dentro dele.
William
*sussurrando* Por que Lucas? Que promessa você quebrou? Por que não me disse o que estava acontecendo?
As palavras finais de Lucas ecoavam na mente de William enquanto o vazio tomava conta de seu peito.
Promessas quebradas e o peso da culpa
A porta da sala se abriu e os pais de William entraram apressados. A mãe estava com os olhos vermelhos e o pai tinha o rosto tenso mas não havia luto nos olhos deles. Apenas algo que William não conseguia definir.
Mãe: *olhando para ele com frieza* O que aconteceu William? Por que ele estava assim?
William
*ainda em choque* Eu... eu cheguei e ele já estava no chão. Eu tentei ajudar eu...
Pai: *Cortando-o* Você estava lá e não fez nada para salvar seu irmão? Como você pôde ser tão inútil?
William
*perplexo* Não... Eu liguei para a ambulância ..Eu fiz tudo que pude
Mãe: *com a voz embargada de raiva* Mas não foi o suficiente foi? Ele era tudo o que tínhamos e agora... estamos presos com você.
William sentiu as palavras como facadas. A dor que já o esmagava ficou ainda mais insuportável.
William
*Sussurrando* Vocês não podem estar dizendo isso... Eu perdi ele também. Ele era meu irmão.
Pai: *olhando diretamente nos olhos de William* Lucas era a parte boa dessa família...Quem deveria ter morrido era você não ele.
William ficou sem palavras. O ar pareceu escapar de seus pulmões e a culpa que já o atormentava cresceu como uma sombra devoradora.
Horas depois William voltou para casa sozinho. O silêncio era insuportável. Ele entrou no quarto de Lucas ainda intocado como se o irmão fosse aparecer a qualquer momento com seu sorriso habitual.
Sentado na cama William olhou ao redor procurando algum sinal alguma resposta. Foi então que encontrou o diário de Lucas escondido sob o travesseiro.
William
*sussurrando segurando o diário com cuidado* Lucas... o que você estava escondendo de mim?
Abrindo as páginas ele encontrou palavras que pareciam gritar do papel
"Prometi ao Will que nunca desistiria mas é tão difícil carregar tudo sozinho. Eles me olham como se eu fosse a única coisa boa nessa casa mas eu me sinto um peso. Um peso que só piora as coisas."
William fechou o diário com força o coração apertado. As palavras finais de Lucas agora faziam sentido. Ele prometeu continuar mas não conseguiu.
William
*chorando* Eu devia ter percebido... Eu devia ter feito mais por você...
A culpa era insuportável. Ele se sentia esmagado pela ideia de que poderia ter feito algo para mudar o destino de Lucas. Mas agora era tarde demais.
No Limite da Dor
Duas semanas haviam se passado desde a morte de Lucas mas para William parecia que o tempo tinha parado. Ele mal saía do quarto ignorava as mensagens no celular e quase não comia. As palavras dos pais ecoavam em sua mente como uma maldição constante.
Pai: Você não faz nada de útil. Por que continua aqui? Não tem nem coragem de sumir não é?
As feridas emocionais se aprofundavam a cada dia. William estava afundando em um abismo do qual parecia impossível escapar.
Naquela noite ele encarava a banheira cheia de água o rosto refletido na superfície trêmula. As lágrimas desciam silenciosas enquanto ele se lembrava das últimas palavras de Lucas.
William
*sussurrando para si mesmo* Eu devia estar com você Lucas... Eu não consigo mais. Me espera... eu tô indo.
Com mãos trêmulas ele entrou na banheira e deitou-se submergindo lentamente. O peso da culpa e da dor parecia desaparecer enquanto a água o envolvia. Era como se ele finalmente tivesse paz.
Do lado de fora três batidas rápidas ecoaram na porta. Dois amigos de Lucas Daniel e Sofia estavam lá. Preocupados com o silêncio de William nas últimas semanas decidiram visitá-lo.
Daniel: *batendo mais forte* William...Está aí? Vamos abre a porta
Sofia: Isso não tá certo. Ele sempre responde. Precisamos entrar.
Com um empurrão forte Daniel conseguiu abrir a porta. Eles correram pela casa até encontrarem o banheiro. A porta estava trancada.
Sofia: *gritando* William...Abre a portavpor favor
Sem alternativa Daniel arrombou a porta. Eles encontraram William submerso na banheira imóvel.
Daniel: *gritando* Meu Deus.. Sofia..ajuda
Eles puxaram William para fora tentando reanimá-lo. Ele tossiu água voltando à consciência mas estava fraco e confuso
William
*murmurando* Por que vocês me trouxeram de volta? Eu só queria... ficar com ele...
Sofia: *segurando o rosto de William com os olhos cheios de lágrimas* E o que Lucas iria pensar William? Ele nunca quis isso pra você...Você acha que ele estaria feliz vendo o que você está fazendo?
Daniel: *com firmeza* Você ainda está aqui por uma razão William. Não desiste agora. Vamos te ajudar.
No hospital William foi tratado tanto fisicamente quanto emocionalmente. Os médicos recomendaram acompanhamento psicológico mas o maior apoio veio de Daniel e Sofia que se recusaram a deixá-lo sozinho.
Enquanto olhava pela janela do quarto do hospital William começou a refletir sobre as palavras de Sofia.
William
*pensando* O que Lucas realmente pensaria? Ele me queria vivo... ou isso é só o que eu quero acreditar?
Apesar da dor algo dentro dele começou a se acender novamente. Talvez ele ainda pudesse encontrar um caminho para seguir.
Para mais, baixe o APP de MangaToon!