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Um Amor Para O CEO

Caíque

— Você vai ficar despejando suas ignorâncias pra cima de mim logo cedo, mãe?

— Olha como você fala comigo, Caique! É inadmissível você ainda querer conferir algo que já fiz. — Minha mãe me olhava com ódio.

— Fui conferir porque você se envolveu. Sou o presidente daquela empresa e a decisão final é minha. A senhora sabe muito bem que se tem alguma conferência dessa importância, eu gosto de averiguar pessoalmente e não pedir a terceiros. O papai era assim.

— Ah, agora eu sou “terceiros”? Caso você não se lembre, sou acionista na empresa, senhor presidente; e sua mãe! E seu pai era um doido!

Onde já se viu ir pessoalmente conferir uma obra, isso não é para nós, os Montenegro. — O semblante de soberba estava estampado em seu rosto.

— Você sempre deturpa o que digo. A construção desse shopping é muito importante e já falei para a senhora que projetos grandiosos assim, eu

tomo as decisões diretamente, sem passar por ninguém. Tenho uma equipe maravilhosa? Tenho, inclusive meu melhor amigo trabalha nela. Tenho a

senhora na empresa, apesar de ser sempre contrária ao que digo, mas tenho, mas eu gosto de decidir tudo, afinal, sou o presidente. E a senhora foi dizer

ao Gustavo Meirelles, que eu iria autorizar a utilização de material de qualidade inferior na construção. Jamais!!!! Já autorizei a compra do material de melhor qualidade do mercado.

— Vai gastar dinheiro à toa. Você ama esbanjar.

— Esbanjar? Estou pensando na segurança das pessoas que irão frequentar o local e ao mesmo tempo, trazer mais rendimento pra empresa.

Vamos consolidar o nome que já temos no mercado. Pare de tomar decisões por mim. Quer me ajudar, dê sua opinião e vamos discutir juntos.

— Você é um idiota como o seu pai. Matheus estaria bem melhor à frente da empresa.

— Pare de falar do papai. Ele não está mais aqui para se defender das suas ignorâncias. A senhora é ambiciosa, quer manter a pose, mas economizando onde não deve haver economia e não é assim que as coisas funcionam, não quando somos donos da maior construtora do país. Temos um nome a zelar e a senhora adora sustentá-lo por aí. E quanto ao Matheus, você prefere ele, pois meu irmãozinho caçula é como a senhora, se não pior.

— Me poupe da sua ladainha, Caique. Esse seu eterno drama me irrita mais do que me convence.

Observei aquela mulher que tinha o título de minha mãe, mas que parecia me odiar, subir as escadas da nossa casa e me deixar ali, com mais uma amostra do seu caráter.

Branca Montenegro era uma mulher ambiciosa, exibicionista e preconceituosa. Este último, era com tudo que se possa imaginar. Odiava pessoas pobres, negras, gays... A lista era extensa. E eu também não sabia ao certo como ela se tornou mãe, uma vez que queria sempre manter o corpo perfeito, por que ela se preocupava muito com a aparência também.

Só que com o passar dos anos, fui percebendo que era só comigo o seu desprezo, pois minha irmã Beatriz ela paparicava e o Matheus, ah, esse ela só faltava lamber o chão que ele pisava.

Meu pai, Augusto Montenegro, nos deixou havia um ano. Morreu em decorrência de um grave tumor no cérebro e a falta que ele me fazia era imensurável.

Meu velho construiu seu império de forma justa. Ele era um homem honrado e de pulso firme, que comandava sua empresa na linha de frente, mesmo tendo uma equipe para auxiliar. Jamais vi meu pai faltar ao trabalho e delegar tarefas aos outros. Até hoje, sinceramente, não sabia como ele foi se apaixonar por minha mãe, mas ficaram juntos por 25 anos e isso me deixava perplexo tamanha a diferença entre eles.

Um pouco antes de morrer, meu pai me deu mais uma amostra de sua confiança e amor, dizendo para mim, em uma cama de hospital, que eu era seu maior orgulho e que ele me amava muito. Que ele iria descansar em paz sabendo que eu continuaria com seus negócios. Que eu seria perfeito para comandar sua empresa e que não deixaria nada faltar para minha mãe e meus irmãos.

Isso enfureceu minha mãe na época, porque queria que o Matheus ou a Beatriz assumisse a Presidência; assim ela comandaria por trás. Minha irmã, coitada, não era uma fútil como minha mãe, mas não ligava para os negócios da família. O negócio dela era a moda. Beatriz havia nascido para isso e era estrela de grandes campanhas para marcas muito famosas. Seu nome era forte nesse meio. Minha mãe adorava, pois ganhava roupas que nem nas lojas tinham chegado e depois ostentava em jantares caríssimos.

Beatriz era muito independente e não seguia muito as loucuras que minha mãe falava. Estava mais preocupada em cuidar da sua carreira que crescia cada vez mais. A fama estava se consolidando.

Meu irmão caçula só queria usufruir do dinheiro da família e de vez em quando batia ponto na empresa. Ele havia se formado em advocacia e “fingia” que trabalhava lá. Coitado de mim se tivesse ele como referência de advogado na empresa, já estaria tudo em ruínas.

Minha equipe era muito bem montada e ainda contava com pessoas que iniciaram com meu pai. Isso me dava um suporte maravilhoso. Nela, também estava meu melhor amigo, Saulo. Nós nos conhecemos ainda adolescentes e essa amizade seguiu até os dias de hoje. Estudamos juntos na mesma escola, na mesma faculdade e ele sim, era um excelente advogado.

Um verdadeiro exemplo de profissional e tinha a minha total confiança. O irmão que eu não via em Matheus, via em Saulo.

Ele sempre foi meu ombro amigo. Sempre me ouviu quando eu desabafava sobre a rejeição que sentia por parte da minha mãe, que era tão contrária ao carinho e amor que meu pai me dava. Sobre meus embates com Matheus, que parecia querer competir comigo desde que veio ao mundo,

sendo que sempre o tratei com carinho, com os cuidados de um irmão mais velho.

E por fim, foi Saulo que me amparou quando perdi meu pai. Até hoje não lidava com isso muito bem e chorava várias vezes, principalmente quando estava em sua cadeira, na sala da Presidência da AGM Construtora.

Me senti sem rumo e sozinho, pela primeira vez na vida, sem meu pai ao meu lado. E todos os dias tento ser o melhor e honrar seu nome, da empresa e o de nossa família.

Com isso, acabava me deixando de lado. Foi muita coisa para absorver e comandar depois que meu pai nos deixou. Hoje, aos 26 anos, não é fácil ser quem eu sou, com tantas responsabilidades nas costas. Sendo o rosto da minha família e da empresa, nenhum escândalo podia ter meu nome envolvido, até porque, seria mais uma coisa para minha mãe ter contra mim.

Encosto-me no sofá ainda criando coragem para ir trabalhar. Essas discussões logo cedo com minha mãe acabavam comigo e deixavam meu humor em frangalhos. Olho em meu relógio e vejo que Saulo está para chegar. Meu amigo hoje iria comigo, já que seu carro estava em revisão e nós morávamos no mesmo condomínio de casas.

— Bom dia, senhor Caique. — Olho para Magnólia, nossa querida governanta e sorrio para a mulher de cabelos brancos. Ela é a doçura da

nossa casa e seu carinho por mim me comove.

— Mag, sem o “senhor”. Bom dia — respondo e me levanto, indo abraçá-la.

— Tenho medo da dona Branca ouvir e não gostar. Ela já me deu várias broncas por isso — a senhora responde abraçada a mim.

— Ela foi para o quarto dela, no mínimo, para retocar aquela maquiagem que nunca pode estar desfeita, mesmo sendo tão cedo.

— Já vai para a empresa?

— Vou, estou só esperando o Saulo. — A campainha tocou nesse instante.

— Vou atender, deve ser ele — Mag respondeu.

Meu amigo entrou com seu bom humor habitual e deu um beijo estalado no rosto de Mag, fazendo-a corar e veio até mim.

— Bom dia, patrão.

— Olha esse deboche. — Saulo riu.

Caique

continua

— Vamos trabalhar?

— Vamos. Hoje tenho duas coisas muito importantes para fazer. — Saulo me analisou e sabia que ele estava se perguntando o que era.

— Sei da inspeção na obra. Que outra coisa seria essa? — Uma sobrancelha foi levantada em minha direção.

— Te conto no carro, vamos!

O tempo estava uma merda. Nublado, ventando e chovendo forte, nem parecia o Rio de Janeiro. Fábio, meu motorista e segurança, abriu a porta pra gente e quando Saulo e eu estávamos acomodados, ele nos levou para a empresa.

Durante o percurso, subo a divisória do carro e logo, Saulo e eu, temos privacidade.

— O que você está aprontando, Caique?

— E eu sou lá homem de ficar aprontando?

— É, realmente, você é certinho demais, até para o meu gosto.

— Não fale assim, você sabe mais do que ninguém das minhas responsabilidades.

— Mas não precisa se anular por elas. Você nem vive, Caique. E você sabe muito bem do que estou falando. — Encarei os olhos do meu amigo.

— Sei, mas, então, é sobre isso a outra coisa que irei fazer hoje. Vou me encontrar com Natanael de novo.

— Justo ele?

— Por que você cisma com o rapaz?

— Ele não me passa confiança, só isso. Porra, vocês se conheceram no banheiro de um evento e você logo ficou todo rendido. Me lembro dos seus sorrisos naquela noite.

— Já estamos saindo há dois meses e estou adorando. Claro que não é toda hora que consigo me encontrar com ele, mas o Nate não desistiu e isso me mostra que também sente algo por mim. — Saulo suspirou. — E a forma que nos conhecemos pouca importa, o conheci e gostei dele. Vou julgar o rapaz por que o conheci no banheiro? Sério isso?

— Tá, só não quero que se machuque, ok? Você, apesar de ser um empresário de sucesso e já ter 26 anos, não tem muita experiência com os homens. E é por isso que falo que você tem que viver, se permitir a conhecer pessoas. Mesmo que não seja intencional, você vive em uma redoma, Caique. Fora esse Natanael, só saiu com mais dois e não deu certo.

— Minha mãe não pode suspeitar que sou gay, não agora. Não até eu acabar essa obra do shopping e fazer dele um sucesso. É o primeiro projeto

grandioso que pego desde a morte do meu pai e sei que ela está só me observando, esperando um deslize para me dar o bote. Depois ela vai ver o empresário que sou. Daí, vou tomar as rédeas e me assumir, goste ela ou não.

— Sabe que por mim você já tinha feito isso mas você se prende muito ao que ela e os outros vão achar.

— Não é isso, é que, como ela é acionista, tenho medo de que ela faça algo para me tirar da Presidência.

— Ela não faria isso.

— Há essa possibilidade, Saulo. Os outros acionistas gostam muito dela também. Se ela arma um motim contra mim, eu caio. Minha mãe é muito preconceituosa e, também fico com medo da exposição na mídia e o quanto isso poderia nos afetar. Já presenciei clientes bem preconceituosos no nosso ramo e você sabe o quanto isso me assusta. No fundo, não é minha

mãe que me preocupa e sim, em não conseguir cumprir a promessa que fiz ao meu pai, de cuidar dos negócios da família. Me sentiria péssimo em decepcioná-lo de alguma forma.

— Essa parte até juro que entendo, mas não queria que você se anulasse por isso. — Suspirei e olhei pela janela quase não enxergando nada por causa da chuva.

— Estava com saudade! Desta vez você demorou muito para achar um tempinho pra mim. — Natanael estava ofegante, pois eu já beijava seu pescoço, apertando sua bunda gostosa e ele tirava a minha gravata.

— Desculpa, meu lindo. Com esse novo projeto do shopping, tenho ficado atolado de serviço.

— Tudo bem, eu te entendo.

— Homem, que fogo!! — Ri do comentário do cara lindo ao meu lado, que estava me deixando todo apaixonado.

Tínhamos acabado de transar e realmente eu estava cheio de saudade dele. Estava louco para tê-lo dentro de mim e hoje não lhe dei sossego.

— Promete que entende que preciso ir?

— Claro! Essa construção é importante para sua empresa. E que sacanagem essa que sua mãe fez, hein?

— Pois é, por isso preciso ir pessoalmente ver como anda tudo e acabar com essa história de material de baixa qualidade. Na minha empresa não vai ter isso.

— Bota ordem, meu CEO. — Nós dois rimos.

Tomei um banho rápido enquanto Nate ficou na cama mexendo no celular. Saí pelado mesmo, ganhei um olhar gostoso dele e comecei a vestir meu terno para ir para o meu compromisso.

Quando me virei para ele, meu gatinho tinha um sorriso bonito no rosto e antes de sair, ainda dei um beijo muito gostoso nele.

— Namora comigo? — perguntei e ele arregalou os olhos.

— Namorar?

— Sim, estou gostando muito de você, Natanael.

A reação dele não era a esperada por mim. Natanael ficou constrangido, surpreso, assustado, tudo isso, menos empolgado.

— Olha, não precisa responder agora. Pode ser no próximo encontro, ok?

— Tá bom. Não fica chateado comigo, você me pegou de surpresa.

— Claro que não estou. Já estou com saudades — disse e ele sorriu, me dando um selinho nos lábios.

— Também já estou. Vai, senão você se atrasa, gatão.

Depois de mais um beijo, saí do motel em que estávamos e na garagem Fábio já me aguardava com toda discrição. Sempre ligava para ele vir me

Buscar, não podia correr o risco de alguém me ver saindo daqui. E eu sempre que saía com Natanael estava com um carro diferente.

Além de terem a AGM Construtora, que já ganhou vários prêmios por ser considerada a maior construtora do Brasil, meus pais sempre fizeram parte da alta sociedade do Rio de Janeiro. Tanto meu pai, quanto minha mãe, nasceram e cresceram neste meio e eu e meus irmãos nascemos em berço de ouro.  Nossa família sempre foi muito badalada: capas de revista e eventos grandiosos. Até porque, os sócios do meus pais também eram homens poderosos. Fui muito bem recebido quando assumi a Presidência e senti o peso de estar representando Augusto Montenegro.

Por isso que evitava tanto os escândalos e não era assumido ainda, mas Nate aceitando namorar comigo, eu enfrentaria tudo por ele, só precisava acabar esse grande projeto que era tão importante pra mim.

— Desculpe fazer você vir aqui, Fábio.

— Que isso, senhor Caique. É meu trabalho, busco o senhor onde for.

— Mas um motel é um pouco ridículo, você não acha?

— Eu entendo a posição do senhor. É famoso e sabemos o quanto os jornalistas ficam à espreita.

— Exatamente. Vamos para São Conrado agora.

— Sim, senhor.

João Miguel (Natanael)

— Tudo ok? — pergunto.

— Tudo, você foi perfeito. Conseguiu o que ninguém jamais conseguiu. Um furo do “Senhor Perfeitinho”. — Meus dentes rangeram ouvindo o apelido que deram ao Caique na redação.

— Não fale assim, Jorge.

— Não se apaixonou, não, né, João Miguel?

— Lógico que não. Fiz o que tinha que fazer pelo meu trabalho. Ou

era isso ou iria pra rua.

— Não foi um sacrifício, né? Você é gay e ele é bonito pra caralho.

Uniu o útil ao agradável.

— É, se formos pensar assim... Mas eu pensava mesmo no meu

trabalho, Jorge. Não tinha conseguido nenhum furo ainda e Sidney queria

meu pescoço. Graças a Deus ele me deu esses dois meses para que eu

coletasse algo bom. Preciso ajudar nas contas de casa e não nasci em berço

de ouro como o Caique. Bom, está feito. Vou tomar um banho na banheira

linda que tem aqui e ir embora.

— Isso, tira mais uma casquinha e dá o fora daí. Em alguns minutos os

sites pipocarão com a foto do gostosão como veio ao mundo e também o

áudio de vocês e todo material que você colheu durante os encontros. Cara,

material de quinta pro shopping que a mãe queria aprovar, hein? Isso é um

escândalo! Me tira uma dúvida, onde você deixou esse celular gravando?

— Debaixo do travesseiro para não deixar minha voz reconhecível. —

A risada de Jorge do outro lado não me contagiou. Estava me sentindo estranho.

— Garoto esperto!

Desliguei o telefone para ir tomar um banho e ir embora. Mais tarde era só passar na sala do chefe e pegar o meu dinheiro.

Caique jamais desconfiou que saía com um jornalista disfarçado e nesses dois meses de convivência, tivemos nove encontros. Confesso que

não foi nem um pouco ruim estar com ele. Caique sabia ser um excelente amante e era muito carinhoso. Qualquer um podia ter se apaixonado por ele,mas eu precisava do meu dinheiro e do meu emprego, senão não teria mais como ficar em casa. Minha mãe me expulsaria se eu não contribuísse e eu sabia que isso tinha dedo do meu padrasto.  Ele já achava frescura eu ter feito faculdade de jornalismo, como sempre, não me apoiava em nada. E a falta de um furo para garantir meu emprego, poderia me fazer perdê-lo, já que eu ainda estava no comecinho do meu trabalho na redação. Isso seria motivo para ele dizer que sempre teve razão e que eu deveria era estar virando umas lajes como ele. Desculpe, mas eu não havia nascido para isso. 

E tudo isso me trouxe até a vida de Caique, o milionário, dono da maior construtora do país e que ninguém nunca via acompanhado. Os jornais o apelidaram de “o Senhor Perfeitinho” e Caique era perseguido por sites de fofoca como o Príncipe Harry lá na Inglaterra.

Cheguei até ele em um evento que consegui me infiltrar com a ajuda de um contato e puxei assunto quando nos esbarramos no banheiro.

Precisava primeiro sondar o terreno e joguei uma piada que me diria se ele era gay ou não. Um olhar também entrou na jogada e foi de primeira. Ali mesmo o paquerei e ao final do tal evento, trocamos beijos escondidos no banheiro novamente, que praticamente fechamos para nós dois. Dali foi fácil o primeiro encontro até esse último. Caique sempre me pareceu apenas

um homem jovem, que queria viver as delícias de sua idade, mas que tinha muitas responsabilidades nas costas.

Talvez sentisse saudades dele, mas nossos mundos eram muito diferentes e ele agora se dizia apaixonado. Eu era novo e não queria me prender a ninguém. Sei que não foi certo o que fiz, mas estava feito e a vida era assim, cada um tomava suas atitudes para sobreviver. Caique seria só mais um arrancado do armário e logo superaria. Meu padrasto que não podia desconfiar da minha orientação sexual, senão aí, sim, eu estaria ferrado.

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