Ella Antonelli ficou sem entender, completamente confusa. Pálida, sem reação, encarava Rodrigo Hernandez. Não era a primeira vez que o CEO entrava na cafeteria Maman, uma das mais conceituadas da cidade, sempre no mesmo horário. Mas sempre que ele aparecia, era Ella quem o atendia… e dessa vez, ele pedira algo bem diferente.

Ella: — Bom dia, senhor. O que vai querer hoje?

Rodrigo: — Uma esposa.

Ella piscou, incrédula.

Ella: — Uma esposa? — eu… não tenho esse tipo de café no cardápio.

Rodrigo frequentava aquele café há meses, e sempre era Ella quem o recebia com um sorriso impecável. Desde o primeiro dia, algo nele a encantava. Cada vez que ele cruzava a porta, todas as mulheres olhavam admiradas; algumas até tentavam se aproximar, incluindo sua melhor amiga e colega de trabalho.

Rodrigo era alto, forte, atlético. Moreno, com olhos castanhos claros profundos, às vezes frios. Vestido com perfeição, sua presença era intimidadora. Naquele dia, ele usava um terno azul escuro impecável, cabelo bem cortado e aquela barba por fazer que deixava qualquer mulher sem fôlego. Meu Deus, estava extremamente charmoso.

Ella, tentando se recompor: — Senhor, posso saber o que vai querer?

Rodrigo: — Senhorita Ella, certo?

Ella: — Sim, senhor.

Ele respirou fundo.

Rodrigo: — Não me refiro ao café. Refiro-me à minha vida. Preciso encontrar a esposa perfeita.

O coração de Ella disparou. Sua respiração ficou descompassada. Rodrigo a observava com um olhar intenso, sério.

Nesse momento, Camille apareceu, quebrando o clima.

Camille: — Ei, amiga, tá tudo bem? Precisa de ajuda?

Ella: — Ah… oi, Camille. Tá tudo bem, estamos terminando aqui.

Camille: — Então tá. Que tal sairmos pra almoçar hoje?

Ella: — Vou pensar… te aviso.

Ella voltou seu olhar para Rodrigo, que continuava parado à sua frente.

Ella: — Senhor, não sei que tipo de brincadeira é essa, mas estou no meu trabalho. Não tenho tempo pra isso.

Rodrigo: — Brincadeira? Eu não estou brincando.

Ella: — Mesmo que estivesse… o que eu tenho a ver com isso?

Rodrigo: — Preciso da sua ajuda. Podemos conversar em particular?

Ella: — Se você não percebeu, estou no trabalho.

Rodrigo: — Que horas você almoça? Passo aí e conversamos.

Ella: — Não sei… nem te conheço direito. Essa conversa tá estranha demais pra mim. Melhor não.

Ele sorriu levemente e estendeu a mão.

Rodrigo: — Eu entendo. Mas não custa tentar. Olá, meu nome é Rodrigo Hernandez. Prazer. Que tal almoçarmos? Só para conversar, como amigos que estão se conhecendo.

Ella: — Tudo bem, mas eu escolho o lugar, ok?

Rodrigo: — Perfeito. Aqui está meu cartão. Me liga, e nos encontramos onde você quiser. Até logo.

Rodrigo se afastou, deixando Ella completamente confusa. Ela voltou ao trabalho, tentando se concentrar, mas a cabeça não parava de pensar nele.

Camille: — Ei, miga, vamos almoçar?

Ella: — Desculpa, hoje não vou poder.

Camille: — Ah, por causa daquele pedaço de mal caminho chamado Rodrigo, né? Hummm… kkkkk

Ella: — Ei! Você estava espionando! Fofoqueira, kkkkk

Camille: — Kkkk, eu sabia! Vai sair com ele, sua safadinha, kkkkk

Ella: — Nada disso! Só vamos conversar, só isso. E eu… não estou procurando relacionamento. Você sabe o motivo.

Camille: — Eu sei, amiga. Mas não pode se fechar para o amor. Você tem direito de amar e ser amada também.

Ella: — Eu sei… mas é difícil. Enfim, preciso resolver umas coisas e depois vou me encontrar com o senhor intenso, kkkkk. Até mais tarde!

Pensamento de Rodrigo:

Aquela balconista era linda… pena que não atendia aos requisitos da ridícula lista do meu pai. Mas, se pudesse escolher, tenho certeza de que ela seria perfeita.

.

.

.

Continua

Naquela manhã, Rodrigo acordou cedo, já sentindo o peso de uma reunião familiar. Ele se dirigiu à mansão Hernandez, onde seu pai, Antônio, sua mãe, Mérida, seu irmão mais velho, Roberto, com a esposa Andréia, e o advogado da família já esperavam.

A família Hernandez era conhecida pelo poder e influência no mundo dos negócios, com um patrimônio bilionário. Roberto, o primogênito, não quis assumir a fortuna familiar. Tornou-se um cirurgião renomado e casou-se com Andréia Fantim, filha de uma família brasileira influente. Rodrigo, o caçula, herdou o talento para negócios do pai, mas também a fama de homem frio, implacável e mulherengo. Assumiu temporariamente a presidência da empresa, já que Antônio precisava cuidar da saúde.

Mérida, sempre graciosa e radiante, preparava-se para mais um encontro familiar com aquele sorriso acolhedor que derretia qualquer tensão.

Antônio havia convocado a reunião alegando uma piora em sua saúde, só para garantir a presença de todos. A mansão estava cheia de expectativa.

Antônio — Meus filhos, minha amada esposa e minha querida nora… é maravilhoso ter todos aqui. Obrigado por terem vindo.

Rodrigo — Pai, está bem, né? Aquele e-mail foi só pra nos assustar e obrigar a vir, certo?

Roberto — Pai, como está de verdade?

Andréia — Calma, meninos, deixem ele falar, kkk.

Rodrigo e Roberto — Desculpa, pai.

Antônio — Tudo bem. Respondendo às perguntas de vocês: sim, estou bem, graças a Deus. O e-mail foi só uma forma de vocês aparecerem. Vocês andam tão ocupados que nem sabem como estamos. Hoje precisava vê-los, principalmente você, Rodrigo. Temos que conversar sobre a empresa e seu futuro nela.

Roberto — Que alívio! Fico feliz que esteja bem. Mas já que o assunto é com meu irmão, vou dar uma volta no jardim com Andréia e a mamãe, ok?

Antônio — E você, Rodrigo… quero saber uma coisa.

Roberto — Sim, pai?

Antônio — Quando vamos ganhar um neto? Kkkkk

Roberto e Andréia — Pai! Sogro! Rsrsrs

Antônio — Por que essa cara de sem graça? Sete anos de casados, está na hora de aumentar a família!

Roberto — Se o Rodrigo casar, eu te dou um neto, pai. Kkkk

Rodrigo — Ei, não me coloque nessa treta! Estou muito jovem para casar!

Antônio — Você que pensa! Trinta e cinco anos estão chegando, não dá mais para adiar. Cada final de semana tem uma mulher nova…

Mérida — Meus amores, vou preparar um café. Andréia, me ajuda?

Andréia — Claro, sogra.

Rodrigo — Calma aí, pai… não é assim. O que posso fazer se elas se jogam em cima de mim?

Antônio — É sobre isso que quero falar. Rodrigo, se não se casar até maio com uma mulher que atenda aos meus requisitos…

Rodrigo — Pai, que brincadeira é essa? Não tem graça.

Antônio — Não é brincadeira, Rodrigo. Se você casar antes do prazo, assume definitivamente a presidência da empresa e se torna CEO. Caso contrário, perde o cargo para um dos sócios e terá que começar do zero.

Rodrigo engoliu em seco. Justo quando ele começava a se sentir confortável em seu império.

Nesse instante, Mérida entrou com Andréia, e a empregada trouxe uma bandeja com café e biscoitos.

Mérida — Coloque aqui na mesa, Cleusa. Obrigada, pode se retirar. — (olhando para Rodrigo) — Meu filho, seu pai e eu queremos o seu bem. Você conhece nossos valores e, sim, está na hora de casar. Esta é a condição para continuar na presidência: não é para casar e se separar logo em seguida. Serão dois anos de casamento, com dedicação de marido.

Rodrigo suspirou, pensando: “Não acredito que meus pais fariam isso comigo… mas estão certos. Estou cansado dessa vida de festas e conquistas fáceis. Só que também não vou casar com uma interesseira. Quero um casamento como o dos meus pais: quase cinquenta e cinco anos juntos, felizes e apaixonados.”

Antônio — Estes são os requisitos para minha futura nora:

Pertencer a uma família respeitável.

Ter excelente educação.

Falar pelo menos três idiomas.

Ter capacidade para gerar filhos.

A cor de cabelo ou pele não importa.

…

Rodrigo — Pai… isso é loucura!

Roberto — Ele tem razão, pai. Como vai sair por aí perguntando essas coisas a todas as mulheres?

Antônio — Não é loucura. Tenho certeza que Rodrigo não terá problemas com isso. Você tem, no máximo, dois meses.

Alguns anos atrás

Ella Antonelli é a legítima e única herdeira da família Antonelli. Ela é a única filha de Kaleb e Eva Antonelli. Quando tinha dez anos, perdeu a mãe em um acidente de carro misterioso.

Quando fez quinze anos, seu pai casou-se novamente com Rosa Soares, que tinha uma filha de outro casamento, um ano mais velha que Ella, chamada Sara Soares. A família Soares era simples; Rosa era a típica madrasta má, e sua filha mesquinha e invejosa.

A família Antonelli era muito poderosa, trilionária, atuando no ramo de hotéis e restaurantes em todo o mundo. A mansão da família ficava na Itália, onde Ella cresceu com seus pais.

Ella levava uma vida tranquila e feliz ao lado do pai. Tinha até um namorado chamado Thiago; se conheceram no ensino médio, e tudo parecia perfeito… até seu pai casar novamente.

A vida de Ella virou um inferno. Sara, sua irmã postiça, era uma praga, sempre arrumando problemas e colocando a culpa em Ella, fazendo-se de vítima para o pai. Rosa sempre ajudava a filha em suas travessuras, aproveitando qualquer oportunidade para prejudicar Ella. O pai sabia de tudo, mas sempre garantia à filha:

Kaleb: — Minha bonequinha, não leve a sério. Eu sei que você não tem culpa. É só uma fase; ela vai melhorar quando se acostumar com a vida nova. Fica tranquila, releva, meu bem. Você é melhor que tudo isso. Eu te amo, bonequinha.

Ella: — Eu também te amo, papai. Vou deixar você trabalhar e ir para a faculdade.

Kaleb: — Ok, meu bem. Qualquer coisa, estou aqui, tá bonequinha.

Atrás da porta do escritório, Sara ouvia tudo e ficava ainda mais com raiva e ciúme:

Sara: — Bonequinha uma ova! Essa cadela acha que pode tudo só porque tem dinheiro e o pai dela ao lado. Vamos ver até quando vai durar. Vou acabar com você, sua songa-monga, te odeio!

Ella era inteligente e estudiosa. Ao contrário de Sara, que só pensava em namorados e gastava dinheiro que não era seu, vivendo no shopping. Na escola, Sara tirava notas ruins e só entrou na faculdade porque a mãe subornou o diretor.

Na faculdade, Ella era popular, tinha muitos amigos e era gentil com todos, apesar do poder da família. Sara, por outro lado, era conhecida por suas maldades e travessuras, sempre tentando prejudicar a irmã. Muitos alunos tinham medo dela. A única que batia de frente com Sara era Ella, e isso só aumentava o ódio de Sara.

No primeiro dia de aula, Sara deu de cara com Thiago no estacionamento da faculdade e ficou encantada com ele, sem imaginar que ele já namorava Ella.

Thiago não era um namorado perfeito: mulherengo e sem escrúpulos, típico cafajeste. Ele começou a namorar Ella por interesse — sua fortuna estava à beira da ruína, e seus pais haviam falecido, deixando apenas ele e a irmã, Renata. Diferente de Thiago, Renata tinha caráter e planejava o futuro.

Para sair da situação financeira complicada, os irmãos tiveram a ideia de conquistar a herdeira Ella e casar Thiago com ela. No início, ele não gostou da ideia, pois sempre teve a mulher que quis. Mas acabou aceitando: melhor ter uma mulher rica do que todas e passar necessidade.

Thiago conseguiu conquistar Ella, e eles namoravam há quatro anos. Ela ainda era virgem, e ele a traía sempre que podia, sem que ela soubesse. No fundo, Ella desconfiava disso.

Sara sempre que podia investia em Thiago, e ele até se divertia com suas investidas, embora não a considerasse tão bonita quanto Ella. Sempre dizia:

Thiago: — Gatinha, você é uma delícia, mas tenho namorada.

Isso deixava Sara ao mesmo tempo feliz e irritada.

Numa tarde, enquanto saía com amigas para o shopping, em vez de estudar, Sara passou de carro na entrada da faculdade para buscar uma amiga e viu Thiago beijando Ella. Furiosa, apertou o volante com força. Uma das amigas comentou:

Kelly: — Essa é a Ella, a miss da faculdade, e seu namorado Thiago. Ele é gato, né?

Sara: — Sei bem quem é ela… minha irmã. Não fazia ideia de que namorava. Que ódio!

Kelly: — Sério? A Ella é sua irmã? Vocês duas não têm nada uma a ver com a outra.

Sara: — Minha mãe casou com o pai dela, não somos de sangue. Há quanto tempo eles estão juntos?

Kelly: — Pelo visto, uns quatro anos. Ele era um galinha na escola, mas no terceiro ano do ensino médio conseguiu conquistar Ella.

Sara: — Odeio a miss certinha! Tudo nela me irrita. Mas não vou estragar minha tarde por causa dela, kkkkk. Vamos às compras, amiga.

Kelly: — Tá certo, vamos! kkkkk

Mais tarde, na mansão Antonelli:

Ella estava no final do último ano da faculdade, radiante, cheia de planos. Faltavam duas semanas para a formatura, e ela corria atrás do vestido ideal, tentando falar com o pai, que estava fora do país a trabalho.

Ella: — Oi, papai, sou eu de novo. Quando puder, me liga. Estou com saudades. E você vai chegar a tempo para minha formatura, né? Te amo.

Enquanto isso, Rosa e Sara tramavam contra Ella, trancadas no quarto de Sara. Sara estava irritada, jogando tudo no chão e praguejando:

Sara: — MALDITA ELLA! MALDITA ELLA! EU TE ODEIO! VOU ACABAR COM VOCÊ!

Rosa: — Calma, minha princesa. O que aconteceu? Senta aqui, acalme-se e me conta.

Sara: — Mãe, lembra do garoto que conheci no meu primeiro dia de faculdade?

Rosa: — Sim, o gatinho rico, Thiago, que você disse estar apaixonado, mas ele tem namorada. O que aconteceu?

Sara: — Ele mesmo! Gosto muito dele. Sabe quem é a cadela que namora com ele?

Rosa: — Quem filha? O que a Ella tem a ver com isso?

Sara: — Descobrir quem ele namora é o de menos, mãe. Quem namora com ele é sua enteada, a “santa do pão da Ella”. Pelo que descobri, estão juntos há quatro anos.

Rosa ficou de boca aberta, olhos arregalados:

Rosa: — Tem certeza, filha? Não pode ser… Como assim? Eles namoram há quatro anos e ele nunca veio aqui? Será que o Kaleb sabe disso?

Sara: — Não sei, mãe, e não me interessa agora. Me ajuda a tirar ele dela! Eu quero ele pra mim! Ella não pode ter tudo! Quero fazê-la sofrer, kkkkk!

Rosa, entretanto, estava distraída, lembrando das vezes que vira a enteada no jardim, na piscina e na biblioteca da mansão com um rapaz, mas nunca deu importância. De repente, levantou-se da cama, como quem teve uma ideia:

Rosa: — Então é isso… várias vezes eu vi ela com um rapaz aqui em casa, mas nunca parei pra reparar. Só pode ser esse Thiago!

.

.

.

Continua...