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O Professor( Atualizando)

Volta às Aulas

...Capítulo 01...

O alarme despertou e acordei ansiosa para voltar à escola e reencontrar meus amigos — especialmente Carla e Maria Clara. Havíamos passado mais de um mês afastadas por conta das férias, e havia tanto a ser dito, tantos assuntos para colocar em dia. Tomei um banho e vesti uma roupa básica, presente da minha mãe no meu último aniversário.

— Bom dia, querida — disse minha avó, entrando no quarto com um copo de achocolatado nas mãos.

— Vó, vou tomar café da manhã com vocês. Ainda tenho tempo — respondi com um sorriso, terminando de me arrumar.

— Tudo bem, mas não demore, senão esfria — alertou, saindo e encostando a porta com cuidado.

Na cozinha, meu avô e minha mãe já finalizavam o café. Beijei a bochecha dele e abracei minha mãe pelas costas, ainda sentada à mesa.

— Querida, preciso que ajude sua avó no mercado depois da escola. Vou me atrasar por causa de uma reunião. Você se importa?

— Claro que não, mamãe. Não tenho nenhum compromisso hoje. O curso de natação só volta na próxima semana.

— Que bom, querida. Aposto que está com saudade.

Sorri e confirmei com a cabeça, embora soubesse que aquele seria meu último semestre.

A natação sempre foi meu hobby. Foi lá que conheci Tônio e Gabriel, meus melhores amigos homens. Com eles, as risadas vêm fácil. Sempre achei amizade com garotos mais interessante — menos drama, menos conversa sobre maquiagem ou cabelo, assuntos que nunca me cativaram. Vaidosa, só com Carla e Maria, minhas duas melhores amigas.

Depois do café, peguei minhas coisas e fui ao ponto de ônibus. E lá estava ele: Lucca Santos, 17 anos, moreno de olhos claros. Com certeza, o rapaz mais bonito da escola.

— Oi, Diana, tudo bem?

— Oi, Lucca. Tudo sim, e com você?

— Tudo bem. É bom ver alguém no ponto — disse, com um sorriso leve.

— No primeiro dia, quase ninguém aparece mesmo — comentei, descontraída.

Logo em seguida, chegou Gael Santos, primo de Lucca. Cumprimentou o primo, mas sequer me olhou. ele sempre foi um pouco soberbo, se achando superior por estar entre os mais bonitos da escola. Por dentro, dei um sorriso irônico. O mais bonito é o mais gentil… respira, Diana. Que fogo é esse?

O ônibus chegou, e de longe vi Carla Davis guardando meu lugar, como sempre.

— Ai, amiga, que saudade! — exclamou ela, me abraçando com alegria.

— Também estava com muita saudade. Como você está?

— Ótima, agora que voltamos à rotina.

— Como alguém pode gostar tanto de escola assim? — brinquei, e rimos juntas.

— Xiu! Tô tentando dormir! — gritou Diogo, irmão da Carla, lá do fundo.

— Ele veio no primeiro dia? — sussurrei.

— Também não sei que milagre foi esse — rimos de novo, abafando os risos diante dos “xis” que vinham do fundo.

— Tô com música boa no celular. Vamos ouvir?

Assenti, e ela me entregou um dos fones. Fomos ouvindo nossas músicas preferidas até a escola.

O primeiro dia de aula foi tranquilo, sem muitas atividades. Os professores se juntaram e organizaram um lanche coletivo para promover a integração. A turma era quase a mesma do ano passado, exceto por duas meninas novas: Marcelina e Juliana, que pareciam reservadas. Por sorte, eu e Carla estávamos na mesma classe. Maria Clara, infelizmente, não teve a mesma sorte e caiu no 1º ano B. Estranhamente, ela não apareceu naquele dia — o que não era típico dela.

— Você viu como o Lucca tá bonito? E é o último ano dele, né?

— Vi sim... E ele é tão educado.

Conversar com a Carla era leve. De todos, ela era a pessoa em quem eu mais confiava.

— Você precisa pedir o número dele. Ele pega o mesmo ônibus, mora no mesmo bairro, estuda na mesma escola. Quando vai criar coragem?

— Carla! Fala baixo — pedi, constrangida.

Estávamos no fundo da sala, comendo salgadinhos enquanto observávamos a turma. Gostávamos dali pela vista privilegiada.

— Eu não vou pedir o número dele. Seria o fim da minha dignidade — dramatizei.

— Se quiser, eu peço. Não me importo de ser atirada — disse ela, rindo e colocando dois salgadinhos na boca.

— Come mesmo, e vê se para de falar besteira — falei, e ela sorriu com os olhos.

O dia seguiu sem grandes emoções. Reencontros, conversas, risadas. Ao meio-dia, já ansiava por ir embora. Ao entrar no ônibus, vi que estava lotado. Carla correu na frente, e ao seu lado estava Diogo.

— Ei! Você sabe que esse é o meu lugar! — reclamei, irritada.

— Então, gata, eu não vou sentar nem do lado do príncipe, nem da bruxa. Agora se vira ou vai em pé — respondeu com sarcasmo.

Olhei ao redor. Susane — a “bruxa”, segundo Diogo, por estar sempre um pouco desarrumada — e Lucca, de fones, observando a movimentação.

— Você é um idiota, Diogo. E por que você não guardou meu lugar, Carla?

— Ele jogou a mochila em mim, esse miserável! — respondeu ela, batendo nele, que só sorria e fazia bico.

— Senta com alguém, amiga. Amanhã prometo que não corro. Juro!

Antes que eu decidisse, uma garota me empurrou e sentou ao lado do Lucca. Restava-me Susane.

— Com licença, Susane. Está guardando lugar?

Ela negou com a cabeça. Sentei e coloquei meus fones, resignada.

Naquela tarde, fui com minha avó ao mercado. Ela sempre gostava de ter companhia. Peguei algumas barras de chocolate e, ao me virar, vi Estefani — irmã do Lucca — me olhando. Mas não me cumprimentou.

De todas as meninas do mundo, ter encrenca com Estefani era a pior opção. Ela era conhecida, popular e protegida pelo irmão. Se algum dia eu quisesse algo com Lucca, teria que me dar bem com ela. E para completar o azar: Maria Clara estudaria com essa peste.

No dia seguinte, ao final da aula, um professor novo entrou. Deixou um caderno sobre a mesa. Alto, por volta dos quarenta anos, usava roupas esportivas.

— Bom dia, galerinha — disse com uma voz grossa, mas animada.

— Bom dia! — respondemos em coro.

— Sou o novo professor de Educação Física, Marcelo. Também serei o responsável por acompanhar vocês nas aulas de natação. A escola firmou parceria com uma escola particular, e agora todos terão direito a aulas de natação gratuitas.

A notícia soou como música para meus ouvidos. Meu contrato estava para acabar e, com a saúde debilitada do meu avô, renovar estava fora de cogitação. Olhei para Carla, que sorria de orelha a orelha.

— Você ouviu o que eu ouvi? — sussurrou.

— Sim! — respondi, sem conseguir conter a felicidade.

— As garotas aí do fundo querem compartilhar a conversa? — perguntou o professor, braços cruzados.

— Não, professor. Desculpe — respondeu Carla, séria. Eu abaixei a cabeça, tentando esconder o sorriso.

O professor explicou os detalhes do contrato e as novas regras.

— Na quarta-feira, faremos uma aula-base para avaliar o nível de vocês. Alguém aqui já pratica ou praticou natação?

Levantei a mão, junto com mais duas pessoas.

— Muito bom. Quero conversar com vocês no final da aula.

— Hum... Amiga, já vai ter conversa particular com o professor gato — sussurrou Carla, maliciosa.

— Credo, Carla. Que nojo — respondi, e rimos baixinho.

Aulas de natação.

...Capítulo 02 ...

Após o sinal tocar, restamos apenas eu, Thiago, Ágata e o professor na sala. Ele finalizava algumas anotações em seu caderno e pediu que esperássemos.

— Professor, preciso pegar o ônibus... Ele não costuma esperar — disse em tom suave, pois eu dependia dele para voltar para casa.

— Onde você mora?

— No bairro das Esmeraldas.

— Eu moro ali perto. Não se preocupe, posso deixar vocês em casa.

Olhei para os dois colegas, que sorriram com um ar de “não vamos precisar ir a pé”.

Meu celular vibrou. Ao pegá-lo, vi uma mensagem da Carla:

“— Eu acho que a Maria não está bem. Acredito que seria bom irmos visitá-la. (12:05)”

“— Por que você acha isso?(12:06)”

“— Segundo dia de falta. E ela não me manda mensagens há dias. Não custa a gente ir lá investigar.(12:07)”

“— Você não vem? O ônibus está saindo.(12:09)”

“— Não. O professor ainda está terminando algo. Vou dar atenção aqui. Beijos, amiga.(12:11)”

“— Beijos. Se cuida.(12:13)”

Guardei o celular no bolso.

— Primeiro, quero agradecer pelo desempenho de vocês. Fico muito feliz em saber que tenho três alunos tão dedicados — disse o professor, levantando-se e vindo em nossa direção. — Vou precisar da ajuda de vocês como auxiliares nas aulas de natação. Como a turma é grande, dividimos a sala em dois grupos, e, sozinho, não dou conta. A tarefa é simples. Levem este papel para casa e leiam com calma, junto aos seus responsáveis.

Entregou um papel para cada um. Ao ler, vi que eram tarefas simples, como organizar filas, auxiliar nas pranchas e ficar atento aos colegas.

— Se estiverem interessados, trago pontos extras para vocês. Mas será necessário ficar após as aulas. O bom de sermos em três é que conseguimos dividir bem — ele sorriu.

— E a outra metade da turma? — perguntou Ágata.

— A outra metade ficou com as aulas de quarta e quinta. Todos participarão. Essa é a ideia.

— E como esses pontos serão aplicados? — questionou Thiago.

— Se você faltar em alguma matéria, seu auxílio será considerado, e não colocarei a falta no boletim. Além disso, notas vermelhas poderão ser arredondadas para a média mínima, que é cinco. Ou seja, nada de boletim vermelho.

Senti o olhar do professor sobre mim enquanto lia as instruções no papel.

— Alguma dúvida? — perguntou.

Neguei com a cabeça.

— Então é isso. Se não quiserem participar, basta não trazerem o papel assinado. Não é nenhum bicho de sete cabeças. — Ele foi direto. Um tanto grosso. Sorri diante daquela resposta seca. Às vezes eu também sou assim. Quando voltei os olhos para ele, percebi que me observava com atenção.

A reunião durou cerca de vinte e cinco minutos. Já dentro do carro do professor — um veículo bonito, cheiroso, com vidros escuros e bancos surpreendentemente confortáveis — eu e Ágata nos sentamos atrás, enquanto Thiago foi na frente com ele.

Ágata foi a primeira a ser deixada em casa. Em seguida, chegou a minha vez.

— Obrigada, professor — agradeci, abrindo a porta.

— Imagina, Diana. Eu que agradeço. Até mais!

— Até...

Ao chegar em casa, encontrei minha avó já à porta.

— Quem é essa pessoa que te trouxe, minha filha?

— É meu professor, vovó. Fique tranquila. Precisei ficar para uma reunião. Com autorização da diretoria e confirmação dos pais, ele pôde nos trazer em segurança hoje.

— Não aceite carona de estranhos — advertiu, abrindo os braços para me acolher.

— Te amo, vovó.

— Também te amo, querida.

Soltei-me de seus braços. Ao passar pela sala, vi meu avô assistindo a uma novela em um canal conhecido da cidade.

— Ei, vô, que tal eu fazer uma pipoca pra gente? — perguntei, já sorrindo.

Ele retribuiu o sorriso. Meu avô se chama João Sales. Tem 67 anos e, por causa dos anos de trabalho duro e sem descanso, hoje depende de uma cadeira de rodas. Minha mãe e minha avó, Dona Joana Sales, são quem cuidam dele. Sinto um amor imenso pela minha família — um carinho que cresce diante do esforço de cada um para manter tudo de pé.

Somos uma família simples, e por muitos motivos, já passamos por grandes dificuldades. Um exemplo disso é que, quando minha mãe, a senhorita Catarina Sales, descobriu que estava grávida de mim, foi abandonada pelo meu pai, Pedro Martins. Isso a fez amadurecer cedo. Com seu próprio esforço, ela paga boa parte das contas da casa.

Preparei a pipoca, e logo minha avó se juntou a nós. Rimos e conversamos bastante enquanto assistíamos à novela. Algumas horas depois, minha mãe chegou. Meus avós já estavam adormecidos no sofá, e eu mexia no celular, olhando as redes sociais.

“— Oi, amiga.(17:10)”

“— Oi, Maria! Por que você está sumida?(17:16)”

“— Não estou sumida. Mudei de escola, na verdade. Venham aqui em casa no fim de semana.(17:20)”

Ao ler, fiquei em choque. Eu não fazia ideia de que ela mudaria de escola. Um filme passou na minha cabeça, relembrando toda a nossa história juntas. O trio parecia se desfazer diante dos meus olhos.

“— Não acreditoooo! Você vai nos abandonar!!(17:22)”

“— Quanto drama, Diana kkk. Estou morrendo de saudade de vocês. Mais tarde mando mensagem. Vou sair com uma galera nova que conheci hoje na turma. Beijos, gatinha!(17:25)”

“— Beijos... juízo!(17:30)”

— Com quem você está conversando, que está com esse sorriso no rosto? — perguntou minha mãe, me pegando de surpresa.

— Ah? — me assustei. — É a Maria... ela acabou de contar que mudou de escola.

— Que bom, filha. Fico feliz por ela. Mudar às vezes faz bem — disse, enquanto colocava alguns papéis sobre a mesa.

— Tenho um aqui pra você assinar. É sobre o projeto de auxiliar nas aulas de natação, às quartas e quintas.

— Mas você não disse que as aulas só começariam na semana que vem?

Expliquei tudo o que havia acontecido na escola. Ela ficou contente com a oportunidade e aliviada ao saber que não teria mais que pagar pela minha escola particular.

— Estou muito feliz que vamos economizar — disse, me envolvendo nos braços e beijando minha testa. — Você é a melhor filha do mundo.

Sorrindo, a abracei forte, aconchegando-me em suas costas.

— Eu te amo.

Nunca faltou amor entre nós. E era esse amor que me fazia a menina mais feliz do mundo — me impulsionava a ser melhor, sempre.

Mais tarde, assinei os documentos para ser auxiliar na natação. Na mesma noite, minha mãe ligou para a escola para confirmar o cancelamento da matrícula na particular. Tomei um banho quente, fiz minha higiene pessoal e fui direto para a cama. Adormeci rapidamente.

A semana passou voando. Quando me dei conta, já era quarta-feira — o tão aguardado primeiro dia de natação. Acordei cedo, organizei minha mochila com tudo o que precisava. Sabia que chegaria mais tarde em casa, mas estaria em um dos meus lugares preferidos.

Carla ficou decepcionada com a notícia da Maria. Ela gostava muito do nosso trio. Falamos sobre isso a semana inteira. Maria, por sua vez, quase não mandava mensagens. Não dizia o que fazia, mas no Illégram víamos as fotos dela...

— Bom dia, Diana — disse a professora Karen ao me ver no corredor.

— Bom dia, professora.

Ela sempre foi muito gentil comigo. Acredito que é porque sou a aluna mais dedicada da sua disciplina. Entrei na sala e me sentei. O dia passou rápido. Já na saída, a diretora Mônica entrou na sala.

— Boa tarde, alunos! Vim dizer que estou muito feliz por vocês serem a primeira turma a iniciar as aulas de natação. Quero que aproveitem esse dia, se divirtam, participem e respeitem o professor Marcelo e sua equipe. — Ela consultou uma folha em mãos. — Thiago, Diana e Ágata... a lista dos primeiros alunos está com o professor. Quem for participar, aguarde na sala após a chamada.

Ela se aproximou do professor Marcelo, que ouviu atentamente. Em seguida, ele se posicionou no meio da sala.

— Hoje, meus auxiliares serão Diana e Ágata. Thiago, amanhã é a sua vez junto com a Ágata, ok?

— Sim, professor — respondeu Thiago, enquanto Ágata confirmava com a cabeça.

— Podem formar uma fila aqui. Confiram seus nomes na lista. Quem encontrar o seu, volte ao lugar e aguarde.

A fila foi se formando. Vi Carla conferindo a lista e, com um gesto de mão, sinalizou que não estava entre os selecionados. "Droga", pensei. Queria muito que ela estivesse comigo no primeiro dia, para poder apresentá-la aos meus colegas. Respirei fundo e me conformei. Logo todos os selecionados se sentaram, e o professor permaneceu à frente da sala.

— Bom, vamos lá?

Ele se levantou rápido e já saiu em direção à porta. Na frente da escola, uma van nos esperava para levar à piscina. Por ser auxiliar, pude me sentar na frente.

— Não sabia que você fazia natação — disse Ágata, surpresa.

— Desde menina! — respondi, sem esperar a pergunta.

— Eu estou há três anos. Só por diversão. Meus pais não querem que eu fique sedentária.

A van começou a se mover.

— Compreendo — respondi, tentando encerrar o assunto.

Ao chegar na frente da escola, vejo Tônio entrando. Dou um passo à frente, tentando alcançá-lo.

– Ei, mocinha, onde você vai? – escuto a voz do professor e retorno.

– Banheiro.

– Em alguns segundos todos estarão lá dentro. Aí você vai ao banheiro. Só vou falar as regras novamente para ninguém ser expulso.

Ele começou a ler todas as informações contidas no papel que a gente levou para assinar:

Não brincar de afogar.

Não pular em cima de ninguém.

Obedecer aos auxiliares...

E por aí foi. Quando ele finalizou e todos entraram, fui até o banheiro e coloquei o meu maiô. Ao me olhar no espelho, percebi que meu quadril estava um pouco maior e meus seios desconfortáveis, como se tivessem crescido. Coloquei a touca no cabelo e fui até o professor, que me encarou por alguns minutos. Aquele olhar me deixou constrangida. Avisto meus amigos e, ao caminhar em direção a eles, o professor me segura pelo braço.

– Não pode conversar com outros alunos.

– São os meus amigos. Eu fazia natação aqui.

– Eu entendo, mas você vai ficar com a sua turma.

Fiz uma careta para os meus amigos e observei que eles riram.

– Sua equipe vai ficar na sala C. – disse o professor em um tom calmo. Tônio e Gabriel fazem natação na sala A, essa era a nossa sala antes.

Senti uma decepção me tomar. Fui para a sala C sem dizer nada ao professor, sentindo o peso de tudo que era "grátis".

– Pensa pelo lado positivo, você está com os seus colegas de classe – acrescentou ele com um tom de sarcasmo.

A galera da minha sala mais parecia estar em uma festa na piscina do que em uma aula de natação. Minha obrigação era apenas observar se ninguém estava se afogando ou tentando matar alguém. Fui para o canto da piscina, e a Ágata se aproximou.

– Você não parece contente.

– Estou bem.

Em seguida, o professor deu um pulo na piscina, fazendo os meninos se agitarem.

– Que babaca – escutei ela dizer. Dei um sorriso, e ela também.

– Acabei de pensar isso – respondi. Rimos novamente.

– Vamos apostar quem chega primeiro do outro lado?

– Por que não?!

Nos posicionamos como duas profissionais e fomos. Senti uma adrenalina me tomar e, quando percebi, já estava do outro lado da piscina.

– Uhuul! – comemorei ao perceber que cheguei primeiro. Todos os alunos nos observavam.

– Eu deixei você ganhar – disse Ágata, chegando dois segundos depois.

O professor se aproximou com a cara fechada. Respirei fundo, sentindo o cansaço.

– Parabéns, meninas. Esse é o nosso objetivo aqui hoje – falou, olhando para os alunos. – Agora quero que todos vocês vão até a linha de início e façam isso.

Os alunos resmungaram, já que a intenção deles era curtir o dia na piscina.

– Desculpem por estragar a felicidade de vocês duas, mas vocês não podem praticar a aula hoje, senão vão se cansar. Amanhã, Diana, você poderá praticar. Ágata, na próxima quarta. Por enquanto, vocês são auxiliares. Se algo acontecer, como vou pedir ajuda a duas auxiliares cansadas?

Refleti sobre o que ele disse e compreendi. Apenas abaixei a cabeça.

– Ágata, fica do outro lado. Diana, naquele canto. Vou ficar no meio da piscina. Caso algum aluno tenha cãibra, vocês ajudam.

Ágata se afastou. O professor passou por trás de mim, e me senti incomodada com o jeito dele. Então, mergulhei para ir até o meu ponto.

(Algumas semanas depois)

Havia sido anunciado no jornal que uma forte chuva atingiria a região. E naquele mesmo dia, a diretora da escola havia confirmado que eu, Ágata e Thiago poderíamos ter o dia só nosso na aula de natação. Ao acordar naquela manhã, a chuva já havia chegado, acompanhada de uma forte ventania.

– Está chovendo muito. Acho melhor você ficar em casa hoje – disse minha avó, ao perceber que eu olhava pela janela.

– Hoje eu teria o dia na escola de natação com a minha equipe – falei, pensativa.

– Marque para outro dia. Sua mãe já foi trabalhar, não tem como você ir até o ponto nessa chuva.

Peguei meu celular e mandei mensagem para Ágata:

"–Bom dia, você vai na aula de natação? (06:30)"

"–Bom dia, Diana. Vou sim, por quê? (06:32)"

"– Precisava de uma carona até a escola. Está chovendo muito e minha mãe já foi trabalhar. Ela entrou mais cedo hoje. (06:33)"

"– Fique pronta, passo te pegar na sua casa. Me passa o seu endereço. (06:34)"

Mandei minha localização para ela. Logo em seguida, recebi outra mensagem.

"– Amiga, não vou à escola hoje. Olha essa chuva! (06:36)" – era a Carla.

" – Eu vou, porque finalmente não vou ter o dia como babá. (06:38)"

"– Você é besta kkk (06:40)", logo em seguida: "Se cuida... do professor tarado. (06:41)"

Eu havia contado a ela sobre a primeira aula, e também comentei que o professor me encarava muito quando eu estava de maiô – mais do que o normal. Aquilo me assustava. Não contei a ninguém além da Carla, que, por ela, até "daria uns pega" no professor. Ele não é feio, apesar do cabelo grisalho, e chamava atenção. Após buscar informações, descobri que ele é casado com uma mulher linda, dez anos mais nova, e tem dois filhos de outro casamento. Era como se fosse meu pai, e só de imaginar, meu estômago embrulhava.

Chegando à escola de natação, quase não havia ninguém por causa da chuva. Ao passar pela sala A, vi Gabriel saindo de um mergulho.

– Garota! Que saudade!

Pulei na piscina e dei um abraço nele. Gabriel é alto, tem vinte e três anos, cabelo encaracolado, moreno.

– Que saudade de fazer aula com você – ele sorri.

– Você sumiu. O Tô tava falando de você ontem.

Tônio é um moreno charmoso, dois anos mais velho que Gabriel, porém bem magro.

– E cadê ele? – perguntei, me afastando.

– A gente brigou. Acho que ele está bravo.

Bom, eu não havia dito, mas Tônio e Gabriel são um casal – eu espero. Esse romance só surgiu depois que a gente se conheceu. No início, eu não sabia que eles eram gays, até o Tônio me obrigar a fazer uma pergunta que revelou o lado romântico deles. Logo começaram a sair, em oito meses estavam namorando, e eu virei a “filha adotiva”.

– Tenho certeza de que vocês vão se acertar. Não esqueçam que vocês vão ser os meus padrinhos de casamento, então façam as pazes!

Gabriel riu do meu comentário.

– Diana... – escutei a voz do professor ao fundo. Fiz uma cara de “me ferrei”, e Gabriel sorriu.

– Sim, professor? – olhei com cara de “não me mata!”

– Eu precisei dela, senhor. Não a culpe – disse Gabriel.

– Vamos, Diana. Ágata e Thiago estão esperando.

– Tchau – sinalizei com a mão e saí da piscina.

Cheguei na sala C e não havia ninguém. Enxuguei as mãos e fui ver meu celular. Havia uma mensagem de Ágata dizendo que teve um imprevisto e precisou sair.

– Professor, cadê o Thiago?

– Ele acabou de sair. Disse que já retorna.

Houve um silêncio. Então entrei na piscina e pratiquei. Não gostava de estar com esse professor sozinha, e para piorar, nem perto do meu amigo eu podia ficar. “Aff”, resmunguei em pensamento. As duas horas de treino passaram rápido. Thiago não retornou, e por sorte o professor não entrou na piscina. A chuva ficava cada vez mais forte. Quando saí do banheiro, ele estava em uma mesa, com a mochila e a chave do carro na mão. Ele fez um sinal, me chamando.

– Acredito que não tem como você ir até a sua casa? – perguntou ele.

– Eu vou de metrô, não fica tão longe daqui – respondi.

– Posso te deixar na frente ou até mesmo na sua casa. Moro a umas quadras dali – disse, enquanto o barulho da chuva aumentava.

– Eu não sei se devo – falei com cautela.

– O centro de natação já vai fechar – alertou um funcionário, apressado para ir embora.

– Eu vou de metrô, não se preocupe – peguei minhas coisas e saí. Não iria entrar no carro de alguém que me olhava de um jeito estranho. Ao sair pelo portão, senti a chuva me molhar em questão de segundos. Comecei a correr. Já a algumas quadras de distância, parei embaixo de uma laje, e então o carro do professor encostou.

– Entra, garota teimosa! – ele falou, abrindo o vidro.

Não pensei duas vezes e entrei no carro. Ele fechou os vidros em seguida, ligou o ar quente, virou-se para trás e pegou uma toalha para me entregar.

– Obrigada – agradeci, envergonhada, pensando se deveria perguntar por que ele me encarava tanto.

Ele começou a dirigir e não disse uma palavra durante o trajeto. Quando estávamos chegando perto do meu bairro, percebi que ele continuava dirigindo, sem reduzir a velocidade.

– Ei, você errou o caminho – falei, encarando seu rosto, que estava sério e frio. – Você me ouviu?

As ruas estavam vazias, e então, do nada, ele acelerou.

– Ei! Você está me assustando!

Mas ele não respondeu. O silêncio era ensurdecedor. Ao chegarmos a uma estrada de terra, cercada por árvores, ele desacelerou.

– Qual é a sua? Me deixa sair!

Peguei meu celular para ligar para minha mãe, mas ele estava molhado e desligado. Droga. Deve ter estragado. Procurei pelo celular dele no carro, mas não encontrei. Tentei abrir a porta, mas ela estava travada. Ele parou o carro no meio da trilha, tirou o cinto e se virou para mim. Segurou meu rosto com força – sua mão era pesada – e, sem permissão, encostou sua boca na minha. Me beijou à força.

O desespero me tomou, então mordi seus lábios com tanta força que ele me soltou.

– Desgraçada, você me machucou!

Soltei o cinto e percebi que a porta destravou. Saí correndo pela mata. Olhei para trás e vi que ele vinha correndo atrás de mim.

– Espera, Diana!

As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto. Ele me empurrou e me desequilibrei, caindo entre terra e folhas. A chuva era forte, mas as árvores minimizavam o impacto. Senti seu corpo sobre o meu.

– Por favor, não faz nada comigo – implorei em desespero.

– Calma... Eu não quero te machucar. Eu sei que você me deseja – disse ele, distorcendo a realidade.

– Não... por favor...

Comecei a chorar e percebi que não conseguia mover os braços. Em seguida, senti minha roupa sendo arrancada. Ele abriu minhas pernas com tanta força que doeu. Sua ereção tocou meu corpo...

– Por favor, professor... eu não te desejo...

Mesmo implorando e chorando, ele não me ouvia. O peso do seu corpo me imobilizava, e então, ele me penetrou, rompendo meu corpo, minha dignidade, minha alma. Toda minha força desapareceu. As lágrimas que caíam dos meus olhos se misturaram com a chuva. Ele continuava, como se aquilo fosse algum tipo de prazer. Minutos depois, saiu de cima de mim e me olhou friamente.

– Eu sei que você amou, vadia. Para de chorar. Você não mostrava essa bunda à toa. Acabei com o seu fogo – disse ele, cruel.

Ouvindo essas palavras, a dor e a angústia me sufocavam. Um filme passou pela minha cabeça. Aquele olhar... sempre me observando. Em que momento eu dei esse sinal?

Deitada naquela sujeira, toda machucada, abri os olhos e olhei para o céu. A única sensação que eu tinha era a de que não poderia carregar essa dor. Ouvi o som do motor. Ele estava indo embora.

Aquele covarde acabou de me matar. Sem tirar minha vida.

Desgraça

...Capítulo 03...

Sentada no chão, sentindo a chuva me molhar, olhei ao redor e sabia que ninguém tinha visto o ocorrido. As lágrimas rolavam no meu rosto e, como um filme de terror, toda aquela cena passava na minha cabeça. Eu não sabia o que pensar, não sabia como reagir. Levantei-me e, ainda com a parte de baixo nua, coloquei a minha calcinha e a calça jeans, que estava toda suja de terra e molhada. Dei alguns passos para trás e peguei minhas coisas que aquele nojento tinha jogado antes de sair com o carro. Com toda a tristeza do mundo carregada no peito, caminhei até a via e dali comecei a andar em direção à minha casa, que ficava a uns 25 km de distância.

Na minha mente, uma voz diferente surgiu e dizia que eu não deveria retornar, e sim me matar.

Será que devo obedecer? — me pergunto.

Como vou contar à minha mãe? Ou à minha avó? Que sempre me dizia: "Não entre em carro de estranho, querida".

Mas ele é o meu professor...

Como ele conseguiu fazer isso comigo?

Por que ele fez isso comigo?

Já na via, com todas essas perguntas, as lágrimas e a dor são minhas companheiras. Um carro passa por mim e torço para que não pare. Para o meu azar, ele para e dá ré.

— Diana? — fala uma mulher, surpresa em me ver.

Em meio à dor, não a reconheci pela voz, mas ao olhar dentro do carro, vejo que é a professora Karen.

— Entre no carro, preciso levar você para casa agora. O que aconteceu? Onde você estava? Por que está tão suja?

As perguntas dela me fazem chorar ainda mais. Ela desce do carro e me empurra levemente pelo braço até a porta da frente, do outro lado.

— Entre, querida, está chovendo.

Sem questionar, eu a obedeço.

Qual seria o mal que ela poderia fazer? Pior do que esse? Então, não imaginava ser mais maltratada do que já havia sido.

Ela coloca o cinto e começa a dirigir.

— Vou levar você para a minha casa. Como estou morando sozinha, não precisa se preocupar. Lá você toma um banho e conversamos, se quiser.

Sinto que o ar quente do carro faz com que eu comece a tremer de frio. Então percebo: ela estava certa.

Eu não poderia chegar assim em casa. Com meu avô enfermo, isso traria muitos questionamentos, e eu não sei se queria contar o ocorrido.

Chegando à casa da professora, sem conversar muito, ela me direciona até o banheiro. A casa dela é grande e muito bem arrumada. Entro em um dos quartos e vejo ela abrir o guarda-roupa e retirar um roupão.

— Tem uma banheira nesse banheiro. Tome um banho relaxante. Eu vou fazer um achocolatado e depois você me conta o que aconteceu.

Eu não tinha palavras e não sabia como agradecer a ela por todo esse cuidado. Abracei-a, sujando sua roupa, mas ela não se importou. Devolveu o abraço e passou a mão nos meus cabelos, molhados e duros de terra.

— Vá tomar seu banho. Eu te aguardo na cozinha.

Confirmei com a cabeça e entrei no banheiro, obediente.

Depois de vestir as roupas que estavam em cima da cama, abri a porta do quarto e fui até a cozinha. Ela estava sentada, usando óculos e lendo algo no computador.

— Sente-se. Coma alguma coisa — ela indicou o lugar.

— Eu não estou com fome. Só quero ir embora.

— O que você estava fazendo no meio da pista? Molhada, suja?

— Eu não sei se quero falar sobre isso...

Toda aquela cena voltava e minhas lágrimas saíam sem eu conseguir controlar.

— Diana, você precisa confiar em mim — ela se levanta e senta ao meu lado.

— Eu... — já soluçando de tanto chorar, as palavras não saem — Eu fui abusada, professora.

A expressão dela muda. Ela retira os óculos.

— Por quem, Diana? Você precisa confiar em mim!

— Como vou saber se a senhora vai acreditar?

— Eu estou aqui, não estou? Trouxe você para a minha casa porque senti que não estava bem. E sei da situação da sua família.

— Pelo Mar... — As lágrimas me tomam e já não consigo dizer nada com clareza. Começo a gaguejar.

— É algum moleque? Um amigo seu?

— Não — falo, gaguejando. — Professor Marcelo...

Consigo respirar e a voz finalmente sai. A professora se levanta, coloca a mão na cabeça e respira fundo.

— Eu acredito em você. Mas como isso foi possível? O que você estava fazendo com ele?

— Eu estava na chuva e ele ofereceu carona. Aceitei por estar longe de casa. — Contei em lágrimas.

— Que maldito! Diana, você não pode contar isso à sua mãe.

Ao ouvir isso, a encaro sem entender.

— Por quê?

— Querida, isso é uma acusação muito séria. Sua família é simples, não terá condições de pagar um advogado — ela fala, sentando ao meu lado e colocando meu cabelo atrás da orelha. — Sei que está assustada. Mas já imaginou tudo que você vai ter que enfrentar em um julgamento? Vai ter que conviver com os olhares, os julgamentos... E sujaria o seu nome nas escolas, nas universidades. Eu sei que você tem sonhos. Imagine tudo isso sendo destruído diante dos seus olhos. O professor Marcelo é muito querido pelas pessoas. Ninguém acreditaria em você.

— O que devo fazer? — pergunto, confusa.

— Mude de cidade. Ou melhor, de escola. Converse com sua mãe e fale alguma coisa, sem entrar nos detalhes. Tenho certeza de que você é o orgulho dela — ela sorri me encarando. — Estou com você. Conheço uma amiga que acabou de se formar em Psicologia. Quero que você passe com ela.

Ela vai até a geladeira e traz um contato.

— Eu não tenho condições...

— Não se preocupe. Para provar que estou com você, eu vou pagar suas sessões.

A professora me deu muitos conselhos. Do ponto de vista dela, ninguém acreditaria em mim. O próprio professor poderia dar outra justificativa, dizer que não estava comigo. A chance de provar era pequena. Por isso, ouvi a professora e me conformei.

Precisava esquecer aquele dia. Precisava tentar seguir em frente.

Chegando em casa, minha mãe estava com o telefone na mão e os olhos vermelhos.

– Onde você estava, garota? Olha a hora! – Sua voz era de muita preocupação, e eu não a culpo. Eu nunca havia chegado tão tarde em casa, e ao olhar para o relógio, já passava das 19h.

– Senhora, ela estava comigo. Encontrei-a na chuva e resolvi levá-la para casa, pois estava muito molhada. Como a chuva estava forte, convidei-a para tomar um café comigo. Não se preocupe, ela está bem. – A professora não me deu tempo de dizer qualquer coisa.

– Entre! Vá para o seu quarto AGORA! – minha mãe falou, brava. Eu nunca a tinha visto tão nervosa. – Obrigada, professora. Eu estou irritada porque ela sempre me diz onde está.

– Eu entendo sua preocupação. Peço desculpas por não ter informado antes. Eu não tenho seu contato e o celular dela molhou. – Olho para trás e vejo a professora entregando meu celular para minha mãe. Ela deve ter pego o celular para secar enquanto eu tomava banho, assim imaginei.

– Obrigada, professora Karen. Fico mais aliviada de vê-la em boas mãos. – Encosto a porta do meu quarto e não escuto mais nada.

Deitei na cama e, ainda com a virilha dolorida, consegui descansar.

(Sonho) — Me solta! Não! Por favor, não... eu faço o que você quiser...

Acordo assustada. Meu quarto está escuro e sinto as lágrimas escorrendo.

– Filha? Você está bem? – minha avó perguntou, entrando no quarto e acendendo a luz.

– Sim, eu tive um pesadelo, não se preocupe. – Olhei para o relógio: eram 00:34. – O que a senhora faz acordada?

Ela abaixa a cabeça.

– Seu avô teve um ataque cardíaco esta noite.

Levantei num pulo e passei por ela, indo em direção ao quarto deles.

– Por que você não me acordou?

– Eu percebi que você estava muito cansada. Ele está bem, a ambulância já está vindo. – Entro no quarto e vejo meu avô pálido, e diante de toda aquela situação, começo a chorar.

– Ele vai ficar bem, não precisa chorar – minha mãe fala, entrando no quarto.

– Vovô, você está me ouvindo? – Ele confirma com a cabeça. – Eu te amo muito. O senhor vai sair dessa. – Ele abre um sorriso para mim, e as lágrimas não cessam.

– Venha comigo, Diana. Vamos tomar um chá. – Minha mãe me guia pelos ombros até a cozinha. – Calma, ele vai ficar bem. – Houve um minuto de silêncio. – Me desculpa, filha, por gritar com você. Eu não quis... – ela começa a chorar – eu só me preocupei. Tenho tanto medo de você passar pelo que eu passei...

Mal ela imaginava o que eu havia enfrentado naquele dia. E foi ali que percebi que ela não podia saber. Ela se sentiria uma mãe horrível, sendo que a culpa não foi dela. Ela sempre fez de tudo por mim. Me aproximei e abracei-a.

– Me desculpa, mãe. Eu deveria ter te ouvido. – E as lágrimas rolam, tanto do meu rosto quanto do dela.

– Está tudo bem agora. – Tomamos o chá, e logo em seguida a equipe médica chegou. Vejo a movimentação e meu avô sendo levado por eles.

– Eu vou ficar com o papai no hospital. Filha, cuida da sua avó, ela está abalada. Tendo qualquer novidade, eu vou ligar para o celular da mamãe, ok?

– Sim, mãe. Cuida bem dele. – Dou um beijo nele, já dentro da ambulância, e outro na minha mãe. – Eu amo vocês.

Logo em seguida a ambulância vai embora, e ao olhar para minha avó, ela está chorando muito. Não demorou para que ela fosse ao quarto rezar. E, naquela ocasião, o meu coração já machucado se feriu ainda mais. Após o momento de silêncio, deitei na cama com ela e conversamos bastante. Então, ela me contou como conheceu o meu avô: foi em um dia de festa da escola, onde os alunos iam participar de uma competição, e meu avô era o goleiro do time adversário.

– Sabe, Diana, eu era muito bonita como você naquela época. Os rapazes viviam atrás do meu pai, me pedindo em casamento. – Rimos.

– Você ainda é muito linda, vó. – Beijei sua testa. – Continue – falei, ansiosa pela história.

– Ele era alto, muito bonito e, já naquela idade, um homem muito trabalhador. Ajudava sua família, que vivia passando necessidade. Quando o vi, percebi que ele era o amor da minha vida. Meu coração acelerou, senti um arrepio... e nunca imaginei que aquele sentimento nos levaria a se conhecer. Ele era amigo do meu irmão mais velho, o tio Chico… — que já é falecido. — E naquele mesmo dia, no campeonato, depois de perder para o meu irmão, Chico o convidou para almoçar em casa, e ele aceitou. Quando chegou, disse que se apaixonou por mim. Conversamos e, todo domingo, ele saía da sua cidade para vir até a nossa, e passava o dia brincando pelo quintal com o meu irmão. Logo, meu pai percebeu o interesse dele e nos chamou para conversar, perguntando se queríamos nos casar. Ele disse que seria uma honra. Mesmo naquela época, em que a mulher não tinha direito a escolha, meu pai me perguntou se eu gostava dele. Confirmei com a cabeça, pois meu pai não entregava suas filhas a nenhum homem sem a vontade delas.

– Que história linda, vó!

– Nos casamos. Engravidei dois anos depois, mas meu útero era muito pequeno e não consegui segurar o bebê. – Quando minha avó fala isso, fico de boca aberta. Não sabia que ela já tinha perdido um filho.

– Sério, vó? E por que você nunca me contou isso antes?

– Você é uma criança querida, não tem que saber tudo ainda – ela fala, limpando as lágrimas ao relembrar do passado. – Seu avô foi incrível. Um homem bom e presente. Em meio a tanta dor, ele sempre segurava minha mão e dizia que um dia teríamos um bebê, e que esse seria o nosso orgulho. E ele estava certo. Olha sua mãe, ela é a nossa alegria. Vive por nós e ainda nos deu o maior presente que um pai e uma mãe podem desejar: você, querida. – Sorrio com esse comentário fofo dela. – Eu peço tanto a Deus para colocar um homem bom na vida da sua mãe, e também na sua.

Relembro o que ocorreu naquele dia e fico sem reação.

– Vocês ainda vão ser muito felizes, eu sei disso.

Não demorou muito para adormecermos, e despertei com o celular da vovó tocando às 8h40 da manhã.

– Alô?

– Filha… – escuto uma voz chorosa.

– Mamãe? O que foi?

– Ai, querida... – houve um silêncio e muito choro. Então percebo: – Ele se foi, filha.

O que eu mais temia tinha acabado de acontecer. Começo a chorar, abalada. Minha avó acorda, e ao me ver chorando já entende o ocorrido.

– Meu João... cuida dele, Deus! – ela diz em voz alta, chorando desesperadamente. Abraço-a e ficamos um tempo ali.

– Vó, estou aqui com você.

(Alguns dias depois)

Após a perda do meu avô, fiquei duas semanas em casa e não tinha vontade alguma de voltar para a escola. Carla, Maria, Gabriel e Tônio já haviam me ligado para dizer o quanto sentiam pela minha perda, e Carla não cessava de dizer que estava com muita saudade de mim na escola e nas aulas de natação. A professora Karen foi até minha casa naquela semana para conversar comigo e me levar alguns remédios, para evitar qualquer gravidez indesejada. Para minha sorte, minha menstruação já havia descido.

Conversei com minha mãe e consegui me mudar para a escola da Maria Clara. Ela ficou muito feliz com a novidade, mas as novas amizades dela não nos deixaram tão próximas. Carla não entendeu a mudança repentina, e minha explicação foi que a antiga escola me fazia lembrar do meu avô.

– Filha, sua nova escola ligou e disse que entende sua dor, mas você precisa retornar às aulas – disse minha mãe, entrando no quarto. Eu estava mexendo no celular novo que ganhei da minha tia-avó, irmã do falecido vô João.

– Prometo que segunda eu vou. – Era quinta-feira, não valia a pena ir só um dia.

– Ok, ok... segunda então, sem falta. – Ela se aproxima e beija minha testa. – Preciso ir. Te amo. Se cuida.

– Também te amo.

Comecei as minhas terapias com a psicóloga Renata Fiore. Ela é muito gentil. Contei a ela toda a minha história e, de psicóloga, ela virou uma grande amiga. A professora Karen sempre me visitava e ligava para mim. Nunca imaginei que teria uma professora tão boa assim ao meu lado.

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