O Espelho
Eu não nasci como objeto, mas como sentença.
Na Grécia Antiga, quando os sofistas dominavam a arte da retórica, houve um homem que se acreditava invencível. Chamava-se Diógenes de Éfira, o mais ardiloso entre eles. Sua língua envenenada manipulava multidões, seus argumentos destruíam inocentes, e sua última vitória custou a alma de um justo.
Naquela noite, os deuses o conduziram ao julgamento. Cego pela soberba, ele caiu em uma fenda escura, como se o próprio solo o tivesse tragado. Ali, em meio a pedras úmidas e serpentes rastejantes, erguiam-se altares esquecidos — e, no centro, eu. O espelho.
Ele se aproximou, e em mim viu refletida a Medusa: seus cabelos de víboras, seus olhos flamejantes, e o sorriso de quem esperava pelo próximo condenado. Ao som do chocalhar das serpentes, sua alma foi tragada para dentro de mim. E naquele instante, pela primeira vez, eu falei:
— Você foi julgado. Você foi condenado.
Desde então, eu não reflito. Eu aprisiono.
Diógenes me libertou!
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O ESPELHO DA MEDUSA Comentários