Ele me levou para um dos quartos, e antes de sair falou com um tom calmo, porém firme:
— Por hoje, você fica aqui. Amanhã a gente planeja a sua volta para o seu povo.
— Obrigada, Luke
respondi, tentando parecer tranquila, mesmo com o coração apertado.
Ele saiu, e por alguns segundos, fiquei apenas observando a porta se fechar lentamente, até o som suave do trinco ecoar pelo quarto. Então, olhei ao redor.
O lugar era aconchegante, mas de um jeito estranho. Tudo parecia... humano demais para um território de criaturas sobrenaturais. Havia uma cama grande coberta por lençóis brancos, uma pequena mesa de madeira entalhada, e uma lareira que ainda exalava o calor suave de brasas que insistiam em não apagar.
Quando me aproximei da janela, percebi algo que me fez prender a respiração. Lá fora, as casas se misturavam com a floresta, como se tivessem nascido do mesmo tronco, da mesma raiz. Era como se toda aquela aldeia estivesse envolta por um casulo vivo feito de cascas e galhos.
De dia, aquela floresta devia ser linda um refúgio, um lar. Mas à noite... ela parecia respirar. As sombras se moviam como se tivessem vontade própria, e o vento que passava entre as árvores soava como um sussurro antigo, um aviso ou um segredo.
Olhei para o céu. As estrelas dali pareciam mais brilhantes, mais próximas, quase tocáveis.
— Vou tentar dormir um pouco... murmurei para mim mesma, sentando na cama e me deitando logo em seguida.
O colchão era macio, e por um instante, o cansaço pesou mais do que o medo. Mas, assim que fechei os olhos, o rosto de Ryan surgiu na minha mente. Aqueles olhos, aquele sorriso.
Sem perceber, lágrimas silenciosas começaram a escorrer pelo meu rosto.
— Fernanda?
Abri os olhos num sobressalto.
— Quem está aí?
perguntei, sentando-me rapidamente.
— Fernanda...
a voz veio de novo, suave e distante.
— Fernanda, cuidado. Eles podem ser a salvação da sua vida... ou a sua condenação.
Olhei ao redor, apavorada. O quarto estava vazio, a luar banhando o chão de pedra.
— Estou sonhando...? Quem está aí?! perguntei com o coração prestes a sair pela boca.
Mas logo percebi: a voz não vinha de fora. Ela estava dentro da minha cabeça. Era como se fosse a minha própria consciência... tentando me proteger de mim mesma.
Respirei fundo, tentando me acalmar.
— Você acha que posso... me envolver com eles emocionalmente?
perguntei, mesmo sabendo que talvez não quisesse ouvir a resposta.
A voz respondeu com calma, quase num sussurro:
— Fale você, Fernanda... o que sentiu quando viu três homens-lobos, meio humanos e meio feras?
Meu coração acelerou.
— Eu... não sei. A voz saiu trêmula.
— Pode ter sido medo... ou desejo. Talvez curiosidade.
A risada leve da minha própria mente ecoou.
— Você não tem medo.
— E por que acha isso? perguntei, nervosa.
— Porque, se tivesse, teria corrido. Mas você ficou. E não apenas ficou, Fernanda. Deixou que eles se aproximassem, que te tocassem... em lugares que não deviam. E você gostou.
Engoli em seco.
— Bem... acho que eu não fui a única a gostar. Se você realmente é a minha consciência, então é uma parte de mim. Uma parte que também sentiu... e que aproveitou cada toque, cada sensação.
— Sim
respondeu a voz.
— Mas eles são diferentes de nós, e você sabe disso. O povo deles não gosta de humanos. Quanto mais tempo você ficar aqui, mais corremos o risco de sermos descobertas... e mortas.
— Eu sei...
sussurrei, fechando os olhos.
E assim minha noite terminou: brigando comigo mesma. Dividida entre a razão e o desejo. Sabendo que, de algum modo, aqueles três homens-lobos haviam despertado algo dentro de mim algo que eu não sabia se queria controlar ou libertar.
---
No dia seguinte
— Fernanda, está acordada?
Por um momento, achei que fosse a minha consciência outra vez, mas a voz era diferente. Masculina, viva, firme.
Levantei-me e saí do quarto.
— Você precisa de um banho. Está fedendo disse Juca, com o tom de desdém.
Lancei um olhar mortal para ele, mas precisei admitir que ele tinha razão.
— Só tenho essa roupa. E acho que as de vocês não dariam muito certo em mim.
Félix arqueou uma sobrancelha.
— Por quê?
Cruzei os braços e respondi com ironia:
— Pelo fato de vocês terem cauda... e eu não.
Ele me olhou confuso por um instante, até que finalmente entendeu.
— Ah... sorriu.
— Entendi.
Voltei para o quarto e comecei a me preparar para o banho. A água que caía do balde era fria, mas relaxante.
Estava prestes a tirar o restante da roupa quando ouvi o som da porta se abrindo atrás de mim.
— Desculpe por entrar assim
disse uma voz familiar.
Virei-me rapidamente, segurando o as minhas roupas contra o corpo. Era Luke. Ele estava com algo nas mãos um vestido. Um dos mais lindos que eu já tinha visto.
Olhei para ele, desconfiada.
— É... para mim?
Ele assentiu.
— Sim. E não se preocupe, não vou olhar. Só vim deixar aqui. Pode usá-lo depois do banho.
Deixou o vestido dobrado sobre a cama e saiu, fechando a porta atrás de si.
Fiquei ali, parada, observando o tecido. Era lindo delicado, de um tom suave entre o vinho e o dourado. Toquei o pano, sentindo sua textura macia entre os dedos.
Mas uma pergunta me veio à mente, e o silêncio do quarto pareceu responder com um arrepio na espinha:
de quem será esse vestido?
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 46
Comments