Capítulo 3

...A L I C E...

Uma semana se passou desde que estou na casa de Heitor. Tenho falado com meus pais todos os dias por chamada de vídeo, mas sempre é rápido. Eles são ocupados demais, e, sinceramente, eu já me acostumei com isso. Nunca foram bons em demonstrar afeto. Mal perguntam como estou, só se preocupam se eu não estiver indo às aulas ou comendo direito.

Heitor, por outro lado, tem se mantido distante. Trabalha na academia a maior parte do dia e, quando está em casa, me evita como se eu fosse radioativa. Conversas são monossilábicas. Olhares são rápidos. E o clima é sempre carregado. Mas mesmo assim, eu continuo aqui. Continuo querendo algo que ele jura não poder me dar.

Hoje ele está na academia, seu habitat natural. Aquele lugar onde comanda os treinos com aquela voz firme, onde todas as alunas babam por ele como se ele fosse o último homem da Terra. Mal sabem elas que ele é meu, e que não dividirei com ninguém.

E eu? Bom, eu tomei uma decisão. Há dois dias, falei para ele que iria me inscrever na academia. Ele disse que não, que não achava uma boa ideia, que seria desconfortável. Mas eu fiz assim mesmo.

Entrei, me inscrevi, paguei o plano e escolhi os horários em que ele estivesse lá. Se for pra provocá-lo, quero fazer com estilo.

Esses dias têm sido puxados pra mim. Faculdade de manhã, academia à tarde. Mas já estou quase concluindo o semestre. Faltam apenas dois dias. Tenho me esforçado bastante, me organizado para não faltar nem atrasar.

Agora estou em casa, de frente pro espelho do quarto. Tomei um banho, me perfumei e escolhi a roupa com segundas intenções. Uma legging preta colada, um top que deixa minha barriga à mostra, e um tênis branco novinho.

Dei uma ajeitada no cabelo, um gloss discreto nos lábios e pronto. Não quero parecer exagerada, mas também não estou ali pra passar despercebida.

Chamei um táxi e segui rumo à academia.

Assim que cheguei, cumprimentei o recepcionista com um sorriso simpático. Ele já me conhecia da inscrição.

— Oi, Alice. Seja bem-vinda de novo.

— Obrigada! — sorri.

Entrei, e o ambiente me envolveu com aquele cheiro típico de suor, ferro e perfume masculino. Era estranho, mas eu adorava. Caminhei entre os aparelhos até ver o motivo principal da minha presença ali: Heitor.

Ele estava na parte do fundo, ajudando um cara nos pesos. Estava de regata preta, bermuda cinza e com uma toalha jogada no ombro. Suado, focado, bonito demais pra ser real.

Nossos olhos se encontraram por um breve instante. E eu vi. Ele travou. A mão que segurava a barra de ferro parou no ar por um segundo antes de retomar o movimento.

Fingi que não vi. Me dirigi ao fundo, onde ficavam os colchonetes e comecei um leve aquecimento. Alongamento, respiração e olhadas disfarçadas. Ou nem tão disfarçadas.

O treino começou de verdade. Passei por vários aparelhos, segui o cronograma da ficha de iniciante e, vez ou outra, ouvia sussurros ao meu redor. Alguns caras me observando. Uma ou outra mulher também.

Mas eu só queria um olhar. E ele finalmente veio.

Heitor se aproximou quando eu estava na esteira, andando devagar pra controlar o ritmo da respiração. Ele parou ao meu lado, cruzou os braços e disse:

— O que você está fazendo aqui?

Fiz cara de surpresa.

— Malhando. Ué. Achei que a academia fosse pra isso.

— Alice...

— Heitor, eu sou uma aluna comum. Não estou atrapalhando. — sorri sarcástica.

— Eu disse que não queria você aqui.

— Eu estou simplesmente malhando, não tem nada demais. E outra, deveria me agradecer, porque estou pagando — mantive o tom leve, mas firme.

Ele me olhou por longos segundos. O maxilar travado. O peito subindo e descendo devagar.

— Você não entende, né?

— Entendo mais do que você pensa. E talvez seja isso que te assuste. — pisquei para ele.

Ele passou a mão no rosto, virou as costas e saiu.

Satisfeita? Um pouco.

Continuei o treino com um sorriso no rosto. Só parei quando senti minhas pernas queimando. Peguei minha garrafinha d'água, sentei num banco e respirei fundo. O coração ainda acelerado, mas não apenas pelo exercício.

De canto de olho, percebi Heitor me observando de longe. Mas quando olhei de volta, ele desviou o olhar.

Pelo visto, minha presença estava surtindo efeito.

Após o treino, fui ao vestiário, tomei um banho rápido, me troquei e voltei para recepção. O recepcionista estava distraído no celular. Me despedi com um aceno e fui em direção à rua.

Mas, antes que eu pudesse pedir o táxi de volta, ouvi aquela voz:

— Entra no carro.

Virei e vi Heitor parado ao lado do carro dele, com a chave na mão e um olhar duro.

— Vai me obrigar?

— Se eu precisar, sim.

Sorri.

— Bom saber que ainda sou capaz de tirar você do sério.

Entrei no carro sem discutir.

O caminho até em casa foi em silêncio. Não trocamos uma palavra. Mas eu pude sentir que ele estava tenso.

Quando chegamos, ele estacionou com força. Desligou o carro e ficou me olhando.

— Não brinque comigo, Alice.

— Eu não estou brincando.

— Você não faz ideia do quanto está me testando.

— Faço, sim. E vou continuar testando. Até você admitir que ainda me quer.

Abri a porta do carro e saí. Entrei em casa sentindo meu coração acelerar. Não sabia se pelo treino ou pelo que ouvi. Mas uma coisa eu sabia: o jogo começou. E eu não vou desistir até ele ceder.

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Comments

Irene Saez Lage

Irene Saez Lage

Ela vai vencer pela insistência e ele mesmo com raiva 😠😠😡 e não querendo vai Seder aos encantos dela 😃😃😃😃

2025-10-02

7

Rosilene Narciso Lourenco Lourenco

Rosilene Narciso Lourenco Lourenco

é Heitor não tem pra onde fugir, pois a Alice não vai facilitar pra você.

2025-10-28

0

Celma Rodrigues

Celma Rodrigues

Acho muito difícil Heitor conseguir resistir. Alice é a tentação.

2025-10-25

0

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