...H E I T O R...
Quando eu soube que ela estaria aqui e que passaria um mês comigo, debaixo do mesmo teto, eu quase tive um infarto fulminante. Sem exagero. Gean me mandou uma mensagem dizendo que ele e a esposa iriam viajar por causa do trabalho e pediram para que eu cuidasse da Alice. "Você é a pessoa de confiança mais próxima", foi o que ele disse.
Eu quis rir. Rir alto. Mas ri por dentro. Porque se ele soubesse da metade das coisas que aconteceram naquela tarde de dois anos atrás, eu não seria tão confiável assim.
Alice não é minha sobrinha de sangue. Isso todos sabem. Mas isso não torna o que aconteceu menos errado. Ela era praticamente uma garota quando cruzou a linha que eu passei anos tentando manter. E eu fui fraco. Vacilei. Me entreguei a algo que nunca deveria ter acontecido. E desde aquele dia, fiz de tudo para manter a distância. Bloqueei mensagens, e-mails, redes sociais. Fiquei meses remoendo o que fiz. Mas agora... agora ela está aqui. Embaixo do meu teto. De novo. E mais bonita do que nunca.
Quando abri a porta e vi aquela garota, agora mulher, parada na minha frente com aquele olhar meio cínico, meio provocador, eu soube que estava fodido. Literalmente.
O cabelo dela estava mais longo, o corpo mais desenhado. Os lábios mais carnudos. O olhar mais ousado. Eu soube que não ia dar certo. Não pra mim. Não pra minha sanidade. Então eu fiz a única coisa que poderia: fugir. Inventei que tinha aula, peguei minha mochila e saí. Eu estava de folga, mas ela não precisava saber disso.
Entrei no carro como se estivesse correndo da morte. E talvez eu estivesse mesmo. Corri da tentação, da memória do corpo dela colado ao meu, do gemido que ela soltou quando eu a segurei pela cintura e a puxei para a cama naquela noite.
Dirigi até a academia. Cumprimentei os colegas com um aceno rápido, entrei direto na sala de musculação e fui treinar. Precisava distrair a mente. Levantar ferro, suar, cansar até esquecer que ela existia.
Mas não funcionou.
Cada repetição me fazia lembrar dela. Do jeito que se mexia, da forma como mordia o lábio quando queria me provocar, dos sorrisos sutis que ela dava quando sabia que me deixava desconcertado.
Depois de quarenta minutos fingindo que era um homem no controle, fui direto para o vestiário privado. Tranquei a porta, tirei a camiseta suada, me encarei no espelho.
— Isso é loucura. — murmurei para mim mesmo.
Abri o chuveiro e deixei a água quente escorrer sobre a minha pele. Mas o calor não aliviava. Piorava. A imagem de Alice invadiu minha mente. Os cabelos molhados, o corpo arqueado, a boca entreaberta. Maldito corpo. Maldita lembrança.
Minha mão desceu sozinha até meu paü. Não era a primeira vez que isso acontecia desde aquela noite. Mas fazia tempo. Achei que estava livre. Que tinha superado. Mas ela voltou. E bastou me olhar uma vez para tudo desmoronar de novo.
Quando terminei, apoiei a testa contra o azulejo gelado. Minha respiração estava descompassada. Me sentia sujo. Fraco. E ainda assim, aceso.
— Merda, Heitor... você prometeu. — me repreendo em voz baixa.
Prometi nunca mais tocá-la. Nunca mais me deixar levar. Mas ela não facilita. Nunca facilitou.
Saí do banho, me sequei e vesti uma camiseta limpa da mochila. Já era quase hora do almoço e eu não podia passar o dia todo fora. Seria suspeito. Voltei para casa e, ao abrir a porta, fui recebido com o cheiro de pipoca e o som de um filme tocando na sala. Alice estava sentada no sofá, com uma coberta até a cintura e uma tigela nas mãos.
Ela virou o rosto e sorriu. Aqueles olhos brilhavam como se nada tivesse acontecido entre nós. Como se ela não tivesse sido a razão de todas as minhas noites mal dormidas nos últimos dois anos.
— Fiquei com fome. — ela disse, dando de ombros. — Espero que não se importe.
— A casa é sua, por um mês. — respondi, tentando manter a voz firme.
Passei direto por ela, indo para a cozinha. Abri a geladeira, peguei uma garrafa de água e bebi em grandes goles. Ela se aproximou, parando na entrada da cozinha, observando.
— Treinou?
Assenti com a cabeça.
— Que bom, quem sabe eu também não me escreva na sua academia.
Ela se encostou na porta, cruzando os braços. Usava um short minúsculo e uma camiseta larga que caía por um ombro. Sem sutiã. Eu percebi. É claro.
— Vai querer almoçar? — perguntei, forçando a própria mente a focar na comida.
— Só se você cozinhar. — disse ela, com um sorrisinho safado. — Gostaria de experimentar sua comida.
Revirei os olhos e fui até o armário. Comecei a separar algumas coisas simples: macarrão, molho pronto, queijo ralado. Nada muito elaborado.
Ela se sentou no balcão da cozinha, observando cada movimento meu como se estivesse me estudando.
Ela estava calada, até que ela soltou:
— Você sentiu minha falta?
Parei o movimento com a colher de pau. Virei devagar para olhá-la. Os olhos dela brilhavam com expectativa, como se ainda acreditasse que eu pudesse dizer algo bonito. Algo que a fizesse sorrir.
— Alice...
— Só responde. Sim ou não.
Ri pelo nariz, amargo. Olhei de volta para a panela, mexendo o molho como se minha vida dependesse daquilo.
— Eu senti falta da paz que eu tinha antes de você cruzar meu caminho. Isso responde sua pergunta?
A falta de palavras que veio depois foi esmagadora. Mas eu não podia parar. Não podia deixá-la pensar que as coisas poderiam voltar a ser como antes. Porque se eu baixasse a guarda uma vez, uma única vez, nós dois estaríamos pelados no chão da cozinha.
Ela desceu do banco devagar. Veio até mim. Ficamos frente a frente. Os olhos dela estavam marejados, mas cheios de raiva e tristeza.
— Você pode fugir o quanto quiser, Heitor. Mas seus olhos dizem outra coisa.
Ela ergueu a mão e tocou meu peito. Meu coração disparou, mas minha expressão continuou firme.
— Alice, o que aconteceu entre a gente, foi um deslize. Uma fraqueza minha. E eu não sou mais aquele homem. Nem quero ser. Entendeu?
— Então para de olhar pra minha boca como se quisesse me beijar. — ela rebateu, a voz falhando.
Fechei os olhos com força. Dei um passo para trás.
— Agora vai, vista uma roupa decente enquanto estiver na minha casa. E venha almoçar, o almoço está quase pronto.
Ela não respondeu. Apenas virou as costas e saiu. Mas a maneira como seus ombros tremeram ao sair da cozinha me perseguiu como um soco no estômago. E eu fiquei ali, com a colher na mão e a vontade insuportável de jogá-la contra a parede e beijar aquela maldita boca.
Terminei de cozinhar, servi os pratos e levei até a mesa. Ela voltou vestida de forma mais "neutra", mas ainda assim irresistível. O olhar, no entanto, estava vazio. Ferido.
Almoçamos calados. Cada garfada era uma batalha. Cada olhada é um perigo.
Depois, ela lavou os pratos enquanto eu fui para o meu quarto. Fechei a porta e me joguei na cama.
Um mês. Trinta dias. Trezentos e sessenta malditas horas. Tenho que aguentar esse martírio de tê-la perto.
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Atualizado até capítulo 25
Comments
Irene Saez Lage
Que martírio mesmo para os dois conviver desse jeito ruim Deus me livre
2025-10-02
10
Gih
que coisa não 🤣🤣🤣 quero só ver até qdo ele vai ficar assim 🤣
2025-10-03
1
Celma Rodrigues
O Tio está tão envolvido quanto ela. E isso vai ser fogo e gasolina 🤣🤭
2025-10-25
0